Eu não preciso te contar

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[ IV ]

EU NÃO PRECISO TE CONTAR

- Quem é Liu? - Renjun perguntou de repente, rompendo o silêncio amigável que pairava entre eles.

Jeno tirou a cabeça do colo de Renjun, seu semblante surpreso se transformou lentamente. Uma chama se acendeu dentro do corpo do vampiro, o passado lhe bateu com força. Parecia tão recente que, mesmo já se fazendo mais de 150 anos, ainda não havia superado aquela perda. Não conseguia aceitar.

Os olhos se estreitaram e a sua testa de franziu, enquanto olhava o rosto levemente rosado que transpirava inocência.

- Como você sabe esse nome? - a voz grossa e irritava soava perturbadora, fazendo a expressão de Renjun mudar drasticamente.

Os olhos vermelhos de Jeno tiveram as veias laterais levemente dilatadas, seus dentes afiados rangeram e seu rosto ficou soturno de forma assustadora. Renjun engoliu a seco, se afastou minimamente com medo. Seus olhos encheram-se rapidamente de lágrimas, logo elas escorreram enfeitando o rosto dominado de pavor.

Jeno ergueu as costas e encarou a figura aterrorizada, levantou-se e correu pelo gramado. O chinês ficou ali, cercado de flores tremendo de medo, encarou-o enquanto ia com seus olhos cheios e se encolheu quando ele sumiu mansão adentro.

O tempo passou devagar desde então, Renjun passou a tarde sentado no mesmo lugar e, aquelas horas, pareceram uma vida inteira. Seu rosto inexpressivo, ao mesmo tempo, que não dizia nada dizia tudo. Havia falado demais, talvez não fosse da sua conta. Pela primeira vez, desde que havia chegado à mansão, acho que de fato iria morrer.

Nunca pensou que o Sr. Lee poderia ficar daquela forma, foi tão assustado. Abaixou a cabeça contra os joelhos, uma lágrima escorreu na grama. Talvez devesse se desculpar mais tarde com ele, mas não sabia se teria coragem de vê-lo. Estava com medo ainda.

Suspirou alto, virou a cabeça ainda apoiada nos joelhos. Olhou o céu crepuscular, que dava ênfase à paisagem bonita. Levantou-se e caminhou lentamente até a porta da cozinha, ainda pensativo e distante.

Ao entrar notou o silêncio mortal, que estava espalhado por todos os cômodos da mansão. Era tão incômodo. Parecia que o lugar sabia que estava mal, sendo assim fazia questão de deixá-lo ainda mais desconfortável.

A mansão estava toda no escuro, como se ninguém morasse nela há alguns anos. Foi inevitável não se sentir solitário. Ao subir as escadas com passos demorados e cansados, Renjun encarou o mármore sob os seus pés. Em determinado ponto, alto o suficiente para encarar tudo de cima, se sentou. Encostou a cabeça no corrimão e disse mentalmente: preciso saber o meu lugar.

Na manhã seguinte, o sol atravessou a janela de seu quarto. Os raios batem contra sua face, incomodando seus olhos o fazendo acordar. Outro dia. Afundou o rosto no travesseiro, não tinha a menor vontade de levantar. Seu peito ainda doía uma dor invisível. Gritou contra o tecido macio, seus olhos se levantaram e encarou a cabeceira. Em seguida, de forma impulsiva, se jogou no chão ainda enrolado nos cobertores.

O barulho do impacto ecoou no quarto, Renjun rolou e encarou o teto. Por que estava tão mal?

Levantou se arrastando e foi em direção ao banheiro, fechou a porta com força, mas não havia sido intencional. Encarou o próprio rosto no enorme espelho, estava inchado e sua cara estava péssima.

Tirou a roupa e a jogou em um canto, abriu o box e ligou o chuveiro. A água caía sobre seus dedos morna e confortável, era acolhedora por isso entrou. Com o corpo embaixo d'água, se deixou sentir aquela sensação que lhe abraçava, mas então o Sr. Lee veio em sua mente e um suspiro alto saiu de seus lábios.

Jardim de flores mortas  | NOREN ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora