Eu não preciso do seu sangue

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[ I ]

EU NÃO PRECISO DO SEU SANGUE

Estavam na estrada já faziam horas, no entanto, a paisagem lá fora continuava a mesma. Não importava o quanto Renjun olhasse, a única coisa que via era um nevoeiro denso, a mata era apenas sombra no meio daquela neblina.

Um frio surgiu subitamente em sua barriga, os pensamentos soturnos atiçavam sua imaginação. O que teria lá? Quem seria ele? Por que vivia tão isolado?

Ele virou a cabeça para dentro do carro e encarou o estofado de couro. Pensativo. Tudo estava tão misterioso que as hipóteses dadas por sua mente lhe afetaram. Batia o pé rapidamente, ao mesmo que alisava suas mãos nas calças que usava e sua respiração pesada com seus olhos indecisos davam um charme a sua paranoia. Seus pensamentos não se mantinham só na cabeça, estavam por todo lugar daquele carro. Ocupavam os dois lugares ao seu lado e faziam várias perguntas que jamais teria resposta.

O jovem chinês e seu destino sombrio, que o tornava apenas sangue, ossos e vísceras para quem quer que fosse servir. Era alimento. E de uma forma geral, estava ali para se servir. Era estranho usar aquelas palavras, já que Renjun nunca esteve em uma situação tão alarmante, não havia pensando muito sobre isso. Sobre ser comida.

Quando lhe falaram que havia sido promovido abriu um largo sorriso, pois promoção significava que ganharia um salário melhor e poderia se mudar para um apartamento maior, mas a promoção veio em forma de castigo lhe tirando da cidade e lhe levando para ser mordomo de um vampiro anti-social.

Naquele regime autoritário que os sanguessugas exerciam sobre a humanidade, alguns tinham mais sorte do que outros, já que naquele sistema todos trabalhavam em pró da prosperidade dos homens, afinal sem humanos os vampiros também morreriam. Era uma troca justa, 5% dos humanos serviriam os vampiros e os outros poderiam ter uma vida normal. E para grande infelicidade do jovem chinês, ele fazia parte daqueles 5%.

O carro parou em frente a um portão de metal que era quase invisível no meio da névoa, era uma surpresa não terem batido. O motorista, que durante o caminho não disse um "A", apertou firmemente a buzina e depois de alguns minutos o portão se abriu. Ainda percorreram alguns minutos de carro subindo uma longa ladeira, o interessante era que cada vez que subiam a neblina ficava mais fina até não existir e dar lugar a um terreno ensolarado repleto das mais diversas flores.

Renjun encarou o lado de fora, que pela primeira vez em toda aquela viagem não lhe lembrava de seu fim sórdido. Com a parada abrupta do carro, soube que era sua hora de descer. O motorista rapidamente saltou do carro e caminhou em direção ao porta-malas, de forma objetiva retirou todas as bagagens que lá havia antes mesmo de Renjun conseguir tirar o cinto de segurança.

Ao descer, Renjun olhou para o chão, o cheiro de grama bem cortada subiu e ao levantar levemente o rosto por um instante se deixou encarar o horizonte, a paisagem verde decorada com estátuas de anjos e toneladas de flores. Era lindo. Um suspiro longo saiu de sua boca, seus olhos brilhavam e sua mão coçava para não ir em direção ao lápis e o papel que estava na sua bolsa. Virou o rosto e olhou para suas malas no gramado, o motorista pôs a última mala para fora e andou em sua direção, lhe entregou um papel e entrou no carro indo embora.

Seus olhos foram até o papel, era uma rotina, o que deveria fazer como mordomo do Sr.Lee. Suspirou pesado novamente ao deixar seus braços caírem pesados batendo de leve em suas coxas. Silenciosamente caminhou em direção à porta, mas antes que pudesse chegar, fez uma pausa e admirou a grandiosidade da estrutura barroca.

Observou minuciosamente como as plantas haviam subido pelas paredes, se enroscando nos detalhes da estrutura e agregando valor visual. As janelas grandiosas estavam abertas, as cortinas brancas balançavam suavemente, do lado de dentro apenas os móveis eram vistos e nem um barulho, a não ser o da natureza que esbanjava vida do lado de fora, era ouvido.

Jardim de flores mortas  | NOREN ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora