Eu não preciso de você

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[ II ]

EU NÃO PRECISO DE VOCÊ

A chuva caía do lado de fora da mansão, as gotas grossas escorriam pelas janelas, o exterior estava um caos. Renjun olhava preocupado para a chuva que desmoronava igual algos seus pensamentos, que iam formando hipóteses desesperadamente. Os "e se" estavam tomando sua cabeça, sua face cheia de preocupação revelava exatamente o que estava sentindo, podia ser lido como um livro. Seus olhos abertos acompanhados de suas sobrancelhas franzidas, sua boca torcida tendo o lábio inferior sendo mordido com força o fazendo perder a cor. Seus braços cruzados e seus punhos cerrados, que faziam os nós de seus dedos ficarem brancos.

Jeno sentado em silêncio também admirava a chuva, seus olhos contemplavam a natureza, como quem olhava um quadro. O lugar mantinha-se belo mesmo com um grande temporal que caía lá fora, mesmo com o vento forte que rasgava as copas das árvores e fazia um chiado sombrio rodar pela mansão. Era lindo.

- O senhor consegue passar mais um dia sem sangue? - Renjun perguntou com o rosto contraído. - Se quiser, guardei o sangue de ontem...

- Renjun - chamou calmo, virando a face lentamente na direção do chinês.

- Senhor? - Renjun respondeu atento.

- Não se preocupe com isso - disse levantando da cadeira onde estava. - Eu vou ficar bem.

Caminhou firme pela sala de jantar e sumiu pelo corredor. Imóvel, Renjun o observou partir, estava espantado pela falta de apreço a própria vida. Não sabia se deveria ir atrás dele ou se deveria permanecer ali, parado, olhando para chuva. Talvez o vampiro só estivesse sendo modesto, ou ainda tivesse fé que as compras chegariam ainda hoje. Era possível que o temporal passasse em breve, assim o caminhão conseguiria atravessar a estrada de terra para enfim chegar a mansão. Tudo era possível. Mas sendo realista, Renjun não tinha toda essa fé.

O Sr. Lee tinha que tomar seu sangue, pelo menos, uma gota para lhe tranquilizar. Estava entre a cruz e a espada, afinal de contas, a situação era ruim não importava o quê. O que aconteceria se as compras não chegassem? Até onde vai o controle do Sr. Lee? E a principal pergunta, a que não lhe deixou dormir direito à noite: por que ele se recusava a tomar o seu sangue?

Um suspiro alto escapou de sua garganta, dando as costas para chuva Renjun caminhou para fora da sala de jantar. Atravessou o salão principal e foi até a cozinha, seu estômago estava roncando alto e ainda precisava preparar algo para o Sr. Lee, pois já era hora do almoço.

Abrindo a geladeira, Renjun encarou em silêncio o recipiente transparente que continha seu sangue, será que deveria derramar na carne? Levou às duas mãos ao rosto e o esfregou com força, precisava retomar as suas forças e tomar uma decisão certeira. No entanto, quanto mais olhava para o vidro com mais receio ficava, as múltiplas questões começaram a ser debatidas em sua mente e nenhuma resposta era clara o suficiente para lhe dar coragem.

Ele pode me matar se eu fizer isso, pensou quando tocou no vidro, desistindo de ir adiante com plano. Mas ele precisa, caso contrário...

Respirando fundo, levou a mão ao pote de vidro, em seguida pegou a carne na parte de cima. Puxou uma tábua para a bancada de mármore, tirou uma faca do faqueiro e retirou sal grosso do armário. Colocou uma frigideira no fogão e despejou um fio de óleo, seguindo os preparativos começou a cortar a carne em bife e ao terminar pegou o pequeno pote em mãos.

- Não faça isso - a voz grave ecoou pela cozinha.

O corpo inteiro de Renjun tremeu, pelo susto, suas mãos fraquejaram e o frasco de vidro caiu no chão se estilhaçando em milhares de pedaços. Quando o sangue manchou o chão, o Sr. Lee se contraiu com nojo, como se sentisse um cheiro horrível no ar.

Jardim de flores mortas  | NOREN ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora