3 | Dondoca melancólica

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C A T H E R I N E

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C A T H E R I N E

Quando cheguei em casa, após o café com Anna, eu me sentei sozinha no meu sofá, tentando processar tudo o que aconteceu naquela tarde e chorei.

Ao sair de casa hoje, a última coisa que passou pela minha cabeça foi a possibilidade de encontrar Anna, ainda mais com uma filha já crescida. O peso de tudo o que perdi me sufocou, e não sei como não perdi a compostura. A volta de Anna, o fato de que ela teve uma filha com Lucas, falar sobre a morte dele... Todas essas novidades me pegaram desprevenida demais.

Há cerca de um ano, uma carta de Ally chegou em minha casa. Lembro-me perfeitamente de tudo o que estava escrito nela: a notícia de que meu filho havia morrido, o motivo, a data e o local do sepultamento. Naquele dia, senti o chão se abrir sob os meus pés. Passei uma semana deitada, imóvel, indignada, me sentindo culpada... A criança que criei com tanto amor, como se fosse meu próprio filho, que jurei a Carina que protegeria, estava morta. E eu sequer sabia que tinha sofrido um acidente. Me mortifiquei todos os dias e horas por não ter ido atrás dele, por não ter pedido desculpas de joelhos e implorado pelo seu perdão. Qualquer sentimento que eu pudesse ter, bom ou ruim, naquele instante, já não fazia mais diferença. A cena do nosso último encontro ficou rodando na minha cabeça em repeat e toda vez eu chorava.

— Eu sinto muito, Lucas! Eu sinto muito.

Eu disse, com o rosto cheio de lágrimas, mas ele não estava disposto a ouvir.

— Sente muito? É tudo o que você tem pra me dizer, mãe? Oh, você sente muito! Que ótimo.

— Escuta! Nós não fizemos nada mais! Nada! Foi só um beijo, não vai se repetir.

— Pode ter certeza que não vai, Catherine. Fica longe da Anna. Ouviu? Longe da minha namorada.

— Meu filho... Por favor.

— Você ouviu! Fica longe da gente!

— Você não pode me obrigar a ficar longe dela, de você... Eu sou sua mãe.

— Não, você não é! Você é a minha tia. Uma mãe de verdade jamais tentaria roubar a namorada do próprio filho. Minha mãe nunca faria isso comigo!

Suas palavras são facas que atingiam diretamente o meu coração. Ele sai, batendo a porta de um jeito que nunca fez na vida e eu choro. Choro pelo o que ouvi, pelo que fiz, por Anna e por mim. Choro por saber que a pessoa que eu amo é a mesma que meu filha ama.

Minha cabeça estava repleta de lembranças naquele dia. Recordei Emmet e Leonardo, que apesar de não quererem ir ao enterro sem mim, não tiveram outra escolha. E quando voltaram, estavam tão destruídos quanto no momento em que partiram. Lembro-me de quando chegaram: o desespero no olhar dos dois. O irmão morto e a mãe definhando. Não poderiam estar diferentes. Eles contaram como foram, e eu tampouco ouvia, até que uma parte do relato fez um calafrio percorrer minha espinha. Anna não estava lá. A mulher que uma vez significou tudo para mim, e depois se tornou uma sombra distante na minha vida, simplesmente não apareceu para se despedir de Lucas.

O Tempo Que Perdemos | ⚢ (EM HIATUS)Onde histórias criam vida. Descubra agora