5 | "Anna"

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C H A T H E R I N E

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C H A T H E R I N E

Eu observei enquanto Anna e Candace se afastavam pela calçada, a pequena mão de Candace firmemente entrelaçada à de sua mãe. A visão das duas juntas me causava uma bagunça de emoções: encanto, carinho e, acima de tudo, uma profunda sensação de saudade do que eu não sabia que estava faltando até as reencontrar. Nunca imaginei Anna sendo mãe, mas eu gostava dessa versão dela. A maternidade havia lhe dado uma suavidade que eu não reconhecia dos tempos antigos, mas que lhe caía bem. Era estranho, quase surreal, ver aquela mulher, que antes era tão cheia de si, agora se dedicando a outra pessoa com tamanha devoção. Havia algo de belo e maravilhoso na forma como ela se movia ao redor de Candace, com uma mistura de proteção e carinho. Eu percebia que cada gesto era carregado de um cuidado meticuloso.

Ver Anna como mãe me trazia uma espécie de nostalgia do que poderia ter sido, mas também me enchia de admiração. Ela era tão diferente agora, e ao mesmo tempo, a essência de quem sempre foi estava lá, em cada olhar, em cada sorriso direcionado à filha. Eu gostava dessa Anna; mais madura, mais completa, e, de certa forma, mais vulnerável. Ela parecia ter encontrado um propósito, algo que a ancorava no presente, mas que também a mantinha presa a uma certa melancolia. Era como se a maternidade tivesse aberto uma nova camada de sua alma, uma camada que eu nunca tivera a oportunidade de conhecer. E enquanto eu a observava, uma parte de mim desejava ter feito parte dessa transformação, de ter sido alguém que pudesse ver esse lado dela florescer. Mas, ao mesmo tempo, eu sabia que essa versão de Anna existia justamente por tudo o que ela havia passado. Eu gostava dessa Anna mãe, porque, apesar de toda a dor e as escolhas difíceis, ela ainda era capaz de amar de forma tão pura e incondicional.

Suspirei, olhando para o céu azul, a lua iluminando o início da noite de forma suave. O sorvete havia sido uma ideia simples, mas se mostrou uma oportunidade inestimável para nos conectarmos. Candace era tão espontânea, tão sincera em suas palavras e perguntas, que me forçou a refletir sobre coisas que há muito tempo eu havia deixado de lado. "Ela não é bonita, mamãe?" Aquela pergunta simples de Candace ainda ecoava na minha mente, e a resposta de Anna... "Sim, Candy. Catherine é muito bonita." Não era a primeira vez que Anna elogiava minha aparência, mas a forma como ela disse isso dessa vez, com uma sinceridade quase desvalida, mexeu comigo de uma maneira que eu não esperava. Era como se ela estivesse admitindo algo que mantinha escondido até de si mesma.

Caminhei em direção ao meu carro, mas hesitei antes de abrir a porta. Me peguei sorrindo ao lembrar da pergunta de Candace sobre ser tia ou avó dela. Nunca imaginei que um dia seria chamada de tia, muito menos que estaria explicando isso para uma criança tão doce quanto Candace. Ser mãe de Lucas sempre foi uma escolha de coração, algo que fiz sem hesitar quando a pessoa mais importante do mundo para mim morreu, mas ser tia-avó de Candace era algo que eu nunca imaginei, e ouvir aquela pergunta me fez perceber o quanto minha vida tinha se entrelaçado com a de Anna, de uma maneira que era ao mesmo tempo inesperada e inevitável.

O Tempo Que Perdemos | ⚢ (EM HIATUS)Onde histórias criam vida. Descubra agora