Lorde Alard Wells chegaria em alguns dias, se tudo corresse conforme o planejado na carta do Conde. Isemberd enviou sua resposta com magia, incendiando a carta em suas mãos com labaredas de cor púrpura que dançaram em formas estranhas, cheias de retas e círculos, ao redor dele. Ao relaxar a postura, suor escorria em sua testa e ele respirava fundo.
Gillibert perguntou, de cima do poleiro:
— Por que não mandar uma daquelas pessoas transparentes pra entregar a carta pro senhor, mestre?
O mago afastou algumas cinzas de sua camisa e da mesa e respondeu:
— A pessoa transparente é um espírito. Ele precisa estar disposto a aceitar entregar a mensagem.
Ele hesitou antes de balançar a cabeça e dizer:
— E os espíritos, em especial da natureza... Não gostam muito de fazer favores pra mim.
— Por quê? — A coruja inclinou a cabeça. — Desse jeito parece mais difícil.
— E é.
— E não é mais cansativo?
O mago balançou a cabeça. Sua respiração estava pesada, apesar de ele se esforçar para não demonstrar.
— Não importa. — ele disse — E não vamos falar mais disso, por favor.
Ele verificou a gaveta onde o livro mágico estava e deixou-a fechada. Gillibert voou até seu ombro e os dois desceram para o escritório.
— Mestre! Mestre! Não é hoje que o Joran vai vir aqui nos visitar?
— Sim. Precisamos repassar as regras?
O pássaro cobriu o bico com uma das asas, num gesto cômico de silêncio.
— Claro que não, mestre!
Eles entraram no escritório para procurar os materiais de escrever. Isemberd separou algumas penas, um tinteiro e duas folhas de papel que estavam empilhadas cuidadosamente numa gaveta.
— Mestre, o senhor cuida tão bem dos seus papéis. — Gillibert observou. — Por quê?
— Um hábito velho. — ele respondeu e diante do olhar expectante da coruja, acrescentou: — Papel e pena são caros e já foram bem difíceis de conseguir. — Ele suspirou, gentilmente coletando os utensílios — Já tive que me virar com restos tirados dos mortos.
— As pessoas carregavam penas na guerra?
Isemberd deixou a janela fechada e saiu de lá no escuro. Tirou seu brinco e deixou-o em uma das prateleiras. Demorou um pouco para responder.
— Penas de pássaros usados para mandar mensagens. — ele esclareceu — Entre outras coisas.
Desta vez, Gillibert o encarou com ar um pouco mais sério, mas não disse mais nada. O mago foi à cozinha, onde colocou uma chaleira no fogo e abriu a janela com um gesto.
— Mestre. — A coruja chamou, no tom infantil de quem estava ruminando uma pergunta. — O senhor está agitado por que vamos ter visitas?
Isemberd parou por um momento e olhou pela janela.
— É a minha primeira vez. — Ele terminou de preparar o chá e deixou a infusão repousar em uma xícara de porcelana.
— Que o senhor tem visitas?
— Sim.
Os dois ficaram quietos depois disso. Gillibert estava praticando ficar em silêncio, o que exigia um pouco de esforço da parte dele e Isemberd sentou-se e fechou os olhos por um momento, pensativo. Em sua quietude, ele percebia que sua mente sempre voltava para suas lembranças da guerra.
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Tomo Sombrio - Terceira Estrela
خيال (فانتازيا)Depois do fim de uma guerra violenta, um mago veterano procura reconstruir sua vida em uma pequena vila do interior com a ajuda de uma casa nobre local. Ele cuida de um animal mágico que resgatou durante sua última batalha, um filhote de coruja, cap...