Capítulo 4 - Visitantes

1 0 0
                                    

 Lorde Alard Wells chegaria em alguns dias, se tudo corresse conforme o planejado na carta do Conde. Isemberd enviou sua resposta com magia, incendiando a carta em suas mãos com labaredas de cor púrpura que dançaram em formas estranhas, cheias de retas e círculos, ao redor dele. Ao relaxar a postura, suor escorria em sua testa e ele respirava fundo.

Gillibert perguntou, de cima do poleiro:

— Por que não mandar uma daquelas pessoas transparentes pra entregar a carta pro senhor, mestre?

O mago afastou algumas cinzas de sua camisa e da mesa e respondeu:

— A pessoa transparente é um espírito. Ele precisa estar disposto a aceitar entregar a mensagem.

Ele hesitou antes de balançar a cabeça e dizer:

— E os espíritos, em especial da natureza... Não gostam muito de fazer favores pra mim.

— Por quê? — A coruja inclinou a cabeça. — Desse jeito parece mais difícil.

— E é.

— E não é mais cansativo?

O mago balançou a cabeça. Sua respiração estava pesada, apesar de ele se esforçar para não demonstrar.

— Não importa. — ele disse — E não vamos falar mais disso, por favor.

Ele verificou a gaveta onde o livro mágico estava e deixou-a fechada. Gillibert voou até seu ombro e os dois desceram para o escritório.

— Mestre! Mestre! Não é hoje que o Joran vai vir aqui nos visitar?

— Sim. Precisamos repassar as regras?

O pássaro cobriu o bico com uma das asas, num gesto cômico de silêncio.

— Claro que não, mestre!

Eles entraram no escritório para procurar os materiais de escrever. Isemberd separou algumas penas, um tinteiro e duas folhas de papel que estavam empilhadas cuidadosamente numa gaveta.

— Mestre, o senhor cuida tão bem dos seus papéis. — Gillibert observou. — Por quê?

— Um hábito velho. — ele respondeu e diante do olhar expectante da coruja, acrescentou: — Papel e pena são caros e já foram bem difíceis de conseguir. — Ele suspirou, gentilmente coletando os utensílios — Já tive que me virar com restos tirados dos mortos.

— As pessoas carregavam penas na guerra?

Isemberd deixou a janela fechada e saiu de lá no escuro. Tirou seu brinco e deixou-o em uma das prateleiras. Demorou um pouco para responder.

— Penas de pássaros usados para mandar mensagens. — ele esclareceu — Entre outras coisas.

Desta vez, Gillibert o encarou com ar um pouco mais sério, mas não disse mais nada. O mago foi à cozinha, onde colocou uma chaleira no fogo e abriu a janela com um gesto.

— Mestre. — A coruja chamou, no tom infantil de quem estava ruminando uma pergunta. — O senhor está agitado por que vamos ter visitas?

Isemberd parou por um momento e olhou pela janela.

— É a minha primeira vez. — Ele terminou de preparar o chá e deixou a infusão repousar em uma xícara de porcelana.

— Que o senhor tem visitas?

— Sim.

Os dois ficaram quietos depois disso. Gillibert estava praticando ficar em silêncio, o que exigia um pouco de esforço da parte dele e Isemberd sentou-se e fechou os olhos por um momento, pensativo. Em sua quietude, ele percebia que sua mente sempre voltava para suas lembranças da guerra.

Tomo Sombrio - Terceira EstrelaOnde histórias criam vida. Descubra agora