O dia seguinte foi a imagem da tranquilidade. Gillibert não escondia as suas tentativas de animar Isemberd e o mago aceitou aquela demonstração de cuidado sem seus costumeiros pedidos de silêncio. Sentia-se horrível e descobriu danos no sótão da casa que precisavam ser consertados. Acabou trabalhando neles sem magia, fazendo remendos no assoalho e no teto à moda antiga, usando materiais reciclados dos caixotes que havia desmontado quando chegara.
A coruja saiu para comer e esticar um pouco as asas enquanto o mago cuidava de um chá e de um pão que ele assaria no fogão a lenha. Alguém bateu à porta e ele parou seus utensílios levitantes com um gesto antes de atender um Joran preocupado.
— Como o senhor está? — O rapaz perguntou, sem nenhuma saudação.
— Senhor? — Isemberd indagou.
O rapaz hesitou.
— É, bom, Maeven disse que viu o senhor sair correndo ontem da taverna. Fiquei um pouco preocupado, vai que o senhor fica doente morando aqui sozinho...
Isemberd suspirou. A última coisa que esperava era alguém vindo até sua casa no meio do bosque para ver como ele estava.
— Não estou muito bem, mas já fiz alguns remédios. Obrigado por se preocupar. — Ele balançou a cabeça. — E pare de me chamar de senhor, quantos anos eu pareço que tenho?
— Mais do que eu, certamente. — Joran devolveu — Mas... se você insiste.
O sábio trouxe mais uma cadeira para a varanda e os dois sentaram-se.
— Então, senh... erm, digo, Isemberd, eu terminei o poema.
— Ótimo. E?
— É que...
O sábio percebeu a voz de Gillibert chamando-o de algum lugar atrás da casa. Isemberd se colocou de pé de um salto, falando muito mais alto do que antes:
— Minha nossa, Joran! Eu esqueci de preparar as coisas para a visita de Sir Alard!
Joran franziu a testa.
— Credo, senhor, precisa gritar por isso?
— Não! Perdão! Preciso achar o Gillibert, onde será que ele se meteu?
A coruja pousou ali por perto, fora de vista no telhado da casa, observando, intrigada.
— Ah, posso ajudar a trazer suas encomendas. — o rapaz ofereceu.
Enrubescendo um pouco, Isemberd suspirou. Estendeu o braço e a coruja negra veio pousar nele, parando antes para circular a visita, animada.
— Agradeço. Posso te ajudar com a carta antes, pra você não perder a viagem.
O rapaz entregou uma folha de pergaminho dobrada para o mago. Isemberd deu uma lida por alto e franziu a testa, ficando em silêncio por um longo momento.
— Bem melhor. — Ele disse, de súbito. — Andou praticando?
— Sim. — ele sorriu — Suas explicações no outro dia foram bem fáceis de entender. Só precisei fazer alguns rascunhos depois que minha irmã me ajudou com algumas bobagens de garotinha.
Isemberd assentiu e devolveu a carta.
— Passe a limpo. Não se entrega cartas a lápis a uma donzela. Tem papel pra carta e pena em casa?
Os dois começaram o caminho para Otterwesh conversando sobre tinta, boas penas, como os rumores sobre monstros andavam ficando piores e sobre o aumento de visitantes de vilarejos vizinhos por causa do bardo do Conde. Gillibert já estava confortável o bastante com Joran para ocasionalmente voar ao redor dele de vez em quando, coisa que ele fez algumas vezes enquanto andavam. A dupla chegou ao vilarejo antes da hora do almoço. Isemberd pagou pelas encomendas e, pouco antes de saírem, o sábio parou diante da porta. Seus olhos doíam, a boca de seu estômago queimava, sua nuca se arrepiou e ele sentiu algo do lado de fora.
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Tomo Sombrio - Terceira Estrela
FantasiDepois do fim de uma guerra violenta, um mago veterano procura reconstruir sua vida em uma pequena vila do interior com a ajuda de uma casa nobre local. Ele cuida de um animal mágico que resgatou durante sua última batalha, um filhote de coruja, cap...