Capítulo I - O aguardado alvorecer

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A implacável escuridão que domina o chuvoso céu destituído de estrelas é incapaz de vencer a luz dos imensos telões posicionados nos gigantes prédios góticos de Londres, atraindo ao anúncio deles o esperançoso olhar dos cidadãos que andam apressados na avenida. O governo anuncia a tão aguardada execução do Ankou¹, quem assombrava o planeta e recentemente foi capturado pela elite militar que trabalha arduamente para a justiça triunfar no mundo.

A contagem regressiva para a execução decresce a cada palpitar do coração dos britânicos ansiosos, e os mais atrasados aceleram os seus negros carros esportivos em direção ao local que ocorrerá o evento histórico. Dois carrascos encapuzados, cobertos por um manto escarlate, escoltam o jovem prisioneiro, que está acorrentado e vendado, ao centro do palco. Ambos desembainham suas espadas, entretanto, antes de desferirem os golpes letais, um homem mascarado atravessa um portal e teletransporta-se com o Ankou para sabe se lá onde.

O salão do trono da soberana de um distante planeta castigado por um inverno eterno é o destino dos dois jovens. O padre retentor de lisos cabelos acinzentados cortados na altura do ombro, que contrastam com a pele parda dele, retira a máscara que cobria o seu rosto semelhante ao dos índios, um povo do sul, e ao dos canadenses, o povo do leste, e se ajoelha diante da rainha, abaixando seus olhos púrpura, enquanto segura o prisioneiro.

Entendendo o sinal de seu primo para se ajoelhar, o Ankou o obedece, e deduz que a claridade que invade os seus olhos vendado seja provinda das imensas janelas brancas do salão constituído de claros cristais azulados provenientes de um doce delírio onírico, onde se localiza o trono de sua mãe.

Os impetuosos olhos azuis, como os mais raros diamantes escondidos em cavernas profundas, pertencentes à rainha, encaram o príncipe retentor de ondulados cabelos tão negros quanto a pele dele e que veste uma armadura escura em estado deplorável.

Helene se levanta do trono, balançando os longos cabelos brancos que caem sobre seu clássico vestido grego alvo como a neve e contrastam com a pele parda dela. Lágrimas escorrem em seu rosto, entretanto, ela ignora-as.

- Maximus - diz Helene e, ainda inquieta, ela se senta novamente -, a vida do Vulcano está sendo ameaçada e a segurança dele depende de sua ajuda.

- O que eu preciso fazer? - sua voz não é firme devido à dor de seus ferimentos, que são parcialmente ocultados pela armadura negra.

- A Ártemis te guiará - o olhar dela desvia do príncipe, indo em direção ao padre - Desamarre-o.

Zakhar obedece à ordem da rainha, sem hesitar, apesar de que é demasiadamente longo o tempo despendido para retirar todas as correntes. Maximus não ousa levantar seus olhos acinzentados, que se destacam entre uma mancha que outrora era uma bela maquiagem de coloração escura ao redor do frio olhar dele, permanecendo ajoelhado e de cabeça baixa, não mostrando seu belo rosto retentor dos traços dos índios que é semelhante ao de sua mãe.

- Preparados para uma nova aventura? - eles escutam a voz de uma alta mulher negra, como os etíopes, o povo do oeste, que utiliza um longo vestido tão escuro quanto o profundo céu noturno, contrastando com as tranças brancas parcialmente presas em um penteado prático que emolduram o belo rosto dela, onde se destacam reluzentes olhos azuis como o gelo.

Ártemis, que entrou no salão do trono em seguida de seus sobrinhos, se abaixa, próximo a eles, e acaricia os cabelos dos dois. Ela estende suas mãos aos jovens e ambos se levantam. Ártemis estabelece contato visual com Maximus, que está com os braços cruzados, fitando seu olhar severo nele, e prende um dispositivo no pescoço do príncipe.

- Não pense que, apesar de você não ter sido imediatamente levado ao tribunal porque precisamos de sua ajuda, significa que seus crimes na Terra serão ignorados - um suave sorriso amigável surge em seu rosto - Ah, e essa coisa aí - aponta para o dispositivo - pode explodir se você se comportar mal.

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