Capítulo X - Ninguém

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A esplendorosa estrela Calvera decresce sob o horizonte de uma extensa avenida da cidade de Caelum, a vizinha mais próspera de Roma e retentora de incontáveis habitantes, pintando o céu com vibrantes cores semelhantes a um deslumbrante incêndio que consome as nuvens. 

Inúmeros comércios cercam a larga avenida que carros atravessam incessantemente. Uma multidão de pedestres, de todos os cantos da galáxia e aparências extremamente distintas, caminham pelas calçadas. E dentre os visitantes da cidade, há um encapuzado coberto por um manto marrom e com o rosto parcialmente oculto por um cachecol carmesim, revelando somente sua pele alva como a neve e olhos âmbar flamejantes.

O andarilho caminha nas calçadas devagar e mancando. Ele se senta na beira da estrada, respirando profundamente, e tosse algumas vezes. Seu longínquo olhar se perde no belo crepúsculo que adorna o horizonte como jóias sobre as vestes de uma rainha, e, após suspirar, se levanta e continua a procurar um abrigo seguro para passar a noite.

As trevas dominam o céu e a única luz que ilumina as ruas agitadas de Caelum provém de postes, telões e faróis dos carros. O andarilho não desiste de seu objetivo e, de madrugada, encontra um bosque. Ele sobe em uma das árvores e adormece nela.

Um pássaro retentor de majestosas penas coloridas o desperta com um belo canto. Magnus não se move e observa o pássaro, aguardando o animalzinho o guiar para locais onde há alimentos. A brisa primaveril balança as folhas das árvores portadoras de flores pintadas por cores distintas e os suaves raios dourados do alvorecer dominam o céu ao lado de nuvens lilases.

O esplendoroso pássaro voa a um arbusto retentor de frutinhas tonalizadas por uma cor escarlate vibrante. Entretanto, Magnus reconhece que, o que não é venenoso para o pássaro, seria fatal para ele caso consumisse. O ruivo retira duas adagas entre as faixas sob seu manto que também servem de curativo e desfere passos cautelosos entre as árvores.

O único ruído ouvido por horas por Magnus é o canto dos pássaros e nenhum animal escuta seus movimentos. Quebrando a harmonia da sinfonia das aves, um javali caminha ruidosamente sobre os gravetos que quebram ao contato com as patas dele. E antes de que o javali possua a oportunidade de contemplar o reluzir das lâminas do Magnus, elas atravessam a carne do animal.

Ele utiliza suas adagas para separar as partes comestíveis do javali e cortar alguns galhos. Magnus cria a estrutura de uma fogueira com os pedaços de madeira recolhidos e despende um tempo demasiadamente longo — poucos minutos — friccionando os galhos até a primeira faísca dominá-los.

Ele suspira, posiciona a carne para assar e deita no chão, próximo à fogueira. O perdido olhar âmbar de Magnus está direcionado ao céu e a melancolia o subjuga. Ele afasta o cachecol de seu rosto que estava parcialmente oculto e respira mais freneticamente, até adormecer.

A fragrância exalada pela carne do javali agraciada pelo aconchegante calor da fogueira o desperta. Uma parte já está apropriada para o consumo. Magnus pega suas adagas, limpa o sangue delas em suas roupas, as aquecem, e corta a carne. Entretanto, antes dele possuir a oportunidade de desfrutar os resultados de sua caça, ele ouve passos se aproximando.

— Oii — a garotinha sorri e o Magnus cobre o seu rosto com o cachecol e se levanta.

— Se perdeu de seus pais? — sua voz é suave e baixa, contrastando com a imponência característica dela que foi perdida devido aos últimos acontecimentos.

— Eu não sou tão nova assim — coloca a mão na cintura — Eu já tenho quatorze anos!

— Mas ainda não é adulta.

— Eu te entendo, senhor idoso, mas eu não preciso de meus pais — diz Exousía, com as duas mãos na cintura, semelhante à uma super-heroína de quadrinhos, enquanto o estômago dela emite um som alto.

O Julgamento do Carrasco Onde histórias criam vida. Descubra agora