Capítulo VIII - O conto de dois irmãos

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Os pequeninos flocos de neve caem sobre o telhado de uma cabana de madeira localizada em uma vila situada na clareira de um bosque ao norte de Roma. A suave luz de Calvera atravessa a janela da cabana e ilumina a aconchegante sala dela, onde Remus está sentado em um sofá marrom, fazendo um novo curativo no local que, outrora, havia um braço.

Quando finaliza, ele veste novamente seu casaco de lã cinza e solta seus cabelos. Uma menininha de por volta de três anos, de aparência semelhante a dele, que veste um vestidinho rosa amassado e possui os cabelos desgrenhados, corre ao seu encontro.

— Papai, papai, o senhor voltou! Mas, cadê o seu braço? — ela se senta ao lado de Remus.

— Eu o perdi — a garotinha se levanta e procura algo debaixo das almofadas — O que você está fazendo?

— Tentando te ajudar a achar o seu braço. Mas, como o senhor conseguiu perder ele? Seu braço não deveria estar bem grudado no ombro? — Remus ri.

— Não é nesse sentido, Juno. Não há como colocá-lo de volta.

— Pai, pai, pai! — grita, com um tom de voz estridente e arregalando os olhos — Tem um clone seu nos vigiando! — ela aponta para Romulus, que estava aguardando, apoiado na parede e de braços cruzados, a conversa deles finalizar.

Romulus permanece sério e com as feições sombrias naturais de seu rosto, que colaboram com suas longas vestes negras e penetrantes olhos azuis claros para conceder-lhe uma aparência de assassino — não que isso seja uma impressão falsa — e Remus ri.

— Ele é o meu irmão gêmeo, Romulus.

— Que maneiro, eu tenho um tio! — ela se aproxima dele — Tio Romulus, eu sou a Juno e tenho três anos — o sorriso permanece em seu rosto enquanto ela se apresenta.

— Uau, você já é bem grande para a sua idade — e se abaixa, para fazer contato visual com Juno.

— E tio, eu tô com fome. A mamãe saiu hoje cedo, antes de eu acordar, e o papai não fez a comida ainda.

— Como você pode deixar uma dama tão preciosa como esta sem comida, Remus?

— Eu acabei de acordar.

— Onde está a lenha? Eu cozinharei para você, minha pequena.

— Acabou — responde Juno, com as mãos na cabeça.

— Não tem problema, compraremos algo no supermercado enquanto esperamos mais lenha seca ser exportada de uma região sem neve.

— Eba!

— Mas antes, precisamos de roupas mais quentes — ele se levanta — Remus, poderia me emprestar algo?

— Eu acho que eu tenho guardadas algumas roupas suas que você perdeu e eu achei. Olhe em meu armário, eu irei vestir a Juno.

No guarda-roupas do Remus, Romulus encontra uma longa capa negra com pelos escuros como a noite, que ele não usava desde a adolescência e nem se lembrava da existência. Anos atrás, o irmão dele havia lhe avisado que estava com esta veste e a resposta de Romulus foi: “depois eu pego” e se esqueceu disso. Ele a coloca sobre seus ombros, apesar de existir rasgos e manchas de sangue em todo o comprimento dela.

Os três se encontram na sala. Remus está vestindo um sobretudo castanho sobre seu casaco, e Juno utiliza uma capa rosa clara com pelos alvos como a pureza da neve sobre seu vestidinho de mesma coloração. 

— Vamos comprar comida! — ela pula, balançando o lacinho rosa que prende seus cachos dourados — Tio, o senhor pode me levar no colo? Eu não aguento ir andando para o supermercado.

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