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Quando a Aurora o céu cortar, lembre-se dos filhos de Suberin!

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Quando a Aurora o céu cortar,
lembre-se dos filhos de Suberin!

A R I S

QUANDO ABRI MEUS OLHOS O BREU DO OCEANO ME COBRIA. Meus pés estavam acorrentados e, apesar de meus braços estarem livres, as correntes pareciam impossíveis de serem quebradas. Eu tentei, por horas a fio, antes de desistir cansado de minhas tentativas inúteis. A chama que eu tentava manter acesa iluminava pouco na escuridão, minha magia já enfraquecida estava tendo dificuldades em manter uma pequena faísca acesa debaixo d'água.

Havia uma bolha em volta de minha cabeça, era transparente e possibilitava minha respiração debaixo daquela imensidão. Dizer que eu estava confuso era um eufemismo, como diabos eu havia ido parar ali?

Eu tinha receio de que a qualquer instante meus pulmões fossem inundados pela água salgada que me cercava. Deveria ser algum tipo de tortura ou teste novo, meus pais teriam sido criativos dessa vez... mas conforme o tempo passava e eu começava a ter a sensação de não estar sozinho, meu desespero para sair dali aumentava.

Olhei para os lados rapidamente ao sentir algo veloz passando por mim. Meu coração estava disparado e eu sentia que não poderia contar com meus poderes para me ajudar. As correntes puxaram meus pés quando saltei para trás ao ver a criatura aquática na minha frente. Era enorme, semelhante a um tratarão, comprido e com um rabo longo e pontiagudo.

Eu congelei.

O monstro ficou ali, parado, me cercando com aqueles grandes olhos... verdes. Um suspiro aliviado escapou de mim no mesmo instante e praguejei uma maldição.

Inferno, Chantal. — Minha voz saiu abafada pela bolha. — Tente não me matar da próxima vez.

Observei a criatura abrir um estranho sorriso antes de descer em direção das correntes. Usando suas barbatanas afiadas e rabo cortante, ela colidia vez após vez enquanto eu voltava a tentar puxar para cima. Aquelas correntes estavam velhas e enferrujada, mais um pouco e conseguiriamos quebrá-las.

Quando romperam mal tive tempo de assimilar, mas a criatura já nadava velozmente para cima, puxando consigo a ponta da corrente e me levando. Me deixei ser levado em meio ao desespero e quando emergi, a bolha estourou. O sol escaldante me aguardava na superfície, a criatura, parecendo acordar de seu transe, retomou a coloração natural de seus olhos e sumiu na imensidão do mar azul. Olhei ao redor, me questionando porque Chantal me deixou no meio do nada.

Vi uma gaivota sobrevoando o céu e me esforcei para enxergar a direção que seguia. Aves no céu eram indicativo de terras próximas, nadei até avistar uma ilha, sentindo alívio imediato. Quando alcancei a costa me joguei na areia, cansado pelas horas acorrentado e pelo nado em busca de terra firme. Sentei, sentindo o sol queimar meu rosto, braços e peito nu.

— Chan?

Vi uma silhueta a alguns metros de mim. Levantei rapidamente, o cheiro da minha irmã finalmente alcançando meu olfato. Corri na direção de seu corpo estirado no chão, virando-a para cima a fim de checar sua respiração e pulso.

— Chan, ei. — Dei leves tapinhas em seu rosto, seus lábios estavam secos e ela parecia ter pego uma insolação.

Seus olhos se abriram lentamente, parecia desorientada. Uma tosse seca arranhou sua garganta, Chantal estava péssima. Ergui seu corpo em meu colo, segurando a fêmea fortemente em meus braços ao ergue-la. Olhei ao redor procurando por árvores, precisava tirá-la do sol imediatamente. A carreguei até a sombra mais próxima e a mantive deitada em meu colo.

Chantal parecia exausta, será que sentia a mesma exaustão que eu devido ao silêncio da magia?

Da mesma forma que dei tudo de mim para manter uma chama acesa, a grã-feérica deve ter feito um grande esforço para me tirar de lá debaixo. Suspirei profundamente e acariciei seu rosto, seus olhos haviam se fechado novamente. Ela estava desidratada. Há quanto tempo estava naquela ilhazinha?

A deixei na sombra e adentrei a pouca mata, decidido a encontrar alguma fonte de água doce. Eu poderia ficar alguns dias sem me hidratar, embora naquele sol talvez fosse mais complicado, mas eu precisava que Chantal estivesse bem porque precisávamos sair dali e matar quem fizera aquilo.

[★]

— Sente-se melhor? — Perguntei, encarando seu rosto pálido com atenção.

Seus braços nus estavam vermelhos e queimavam tanto quanto suas costas e nuca. Eu tentei aliviar o máximo possível seu desconforto, mas estava anoitecendo e precisávamos de uma fogueira. Havia encontrado um coqueiro do outro lado da ilha, havia pelo menos sete, mas somente dois tinham água.

— Eu vou matar quem nos colocou aqui. — Sua voz estava extremamente rouca, seca como nunca.

Não discordei, pois meu desejo era o mesmo. O fogo iluminava e aquecia a nós dois, embora o calor natural do meu próprio corpo fosse o suficiente para mim e Chantal estivesse se recuperando do estresse causado pelo Sol mais cedo, a noite prometia ser fria.

— Lembra de alguma coisa da noite passada?

— Não. — Respondeu seu olhar caindo no fogo, as íris verdes escurecidas. — E quando tento parece que minha cabeça vai explodir.

— É. — Concordei, porque nas últimas horas era o que eu mais havia feito. — É como uma maldita enxaqueca.

— Alguém fez isso. — Ela disse o óbvio, deitando na areia e suspirando, parecendo sonolenta. — E eu juro que se fizeram algo meramente semelhante aos outros...

— Vamos matar quem armou isso, Chantal. — Cortei, sabendo a linha de pensamentos assassinos que ela seguiria. — E os outros sabem se cuidar.

— Eu estava na porra de um buraco. — Ela grunhiu me calando no mesmo instante.

O histórico da minha irmã com lugares fechados era terrível. Chantal abominava ambientes pequenos e durante um longo tempo não conseguia nem mesmo estar no banheiro sozinha... banheiras? Se fosse a única opção para banhar-se, a herdeira de Nemisar escolheria permanecer suja.

— E não sei se você percebeu, Aris, mas estamos na porra de uma ilhazinha. — Seus olhos pareciam duas lâminas. — Você odeia ficar sozinho e estava no fundo do oceano, vazio e sem nada.

Desviei meu olhar para o mar, observando as ondas se quebrando suavemente e engoli em seco, sabendo que ela tinha razão.

— O mar falou para mim que você estava lá. — Murmurou agora olhando para mim. — Mas se eu estivesse fraca ao ponto de não ouvir...

Eu não queria pensar naquela possibilidade. Porque significaria que sequer deveríamos ter nos encontrado, não era a intenção daquela artimanha estúpida feita contra nós. Eu deveria estar à deriva, perdido e sozinho.

— Não é uma coincidência, Aris. — Disse por fim, virando de costas para fogueira e para mim, tentando encontrar uma posição menos desconfortável.  — E isso só vai tornar ainda mais satisfatório arrancar a cabeça do desgraçado responsável por isso.

SUBERIN | acotar (Em Breve)Onde histórias criam vida. Descubra agora