8 - Consolo e Caos

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É um dia calmo, ensolarado e bonito, que ilumina a cidade movimentada. Em um pequeno mercado, dentre os diversos corredores, há uma garotinha triste e encolhida. Soluçava baixinho enquanto apertava sua bermuda favorita, a mesma que sua mãe costuma dizer que a deixa parecendo um molequinho arteiro. Sentia-se perdida, envergonhada e completamente deprimida. No dia anterior, havia comprado um jogo de sua saga favorita nessa mesma loja, mas quando chegou em casa para finalmente jogar, percebeu que, em determinado nível, precisava de um segundo jogador para prosseguir nas fases. Foi aí que o sofrimento começou; ela não tinha nenhum amigo, e sua mãe também não poderia ajudar, pois não se dava tão bem com eletrônicos em geral.

Decidiu devolver o jogo por indicação de sua mãe. Entretanto, só se recordou nesse momento de que era incapaz de dialogar e, infelizmente, precisaria explicar o motivo da devolução. Coçou os olhos com suas pequenas mãos e suspirou, tentando pensar em uma solução ou desculpa. Sentiu alguém esbarrar nela e abriu os olhos assustada.

— Desculpa, não te vi aí. — A garotinha de olhos verdes e roupas absurdamente rosas se explicou, enquanto questionava internamente qual seria o gênero da criança chorona que, ao seu ver, estava vestindo roupas de garoto. — Está tudo bem?

Tentou responder à outra, abriu a boca e fechou por algumas vezes, sentindo-se insegura. Foi aí que seus olhos voltaram com o brilho anterior causado pelas lágrimas. A de roupas rosas, vendo o choro querer se formar na criança em sua frente, sentiu uma culpa incompreensível.

— Por que você 'tá chorando? Eu te machuquei? — Nesse momento, ela se desesperou e, aos poucos, lágrimas também cobriram seus olhos.

Notando o tom choroso da outra, ela parou de cobrir o rosto e decidiu se abrir um pouco, deixando de lado o medo de não ser compreendida. Não aguentava mais o peso em seu peito e o nó em sua garganta.

— Não me machucou, não. — Confortou a garotinha de olhos verdes, forçando um sorriso. — É que... estou com vergonha de devolver esse jogo. Eu precisava de mais alguém para jogar e...

— Qual é o seu nome? — Ela inclinou a cabeça com interesse, enquanto se identificava com o sofrimento da outra.

— Luna... Luna Fernandes. — Respondeu timidamente e se surpreendeu quando a garotinha à sua frente limpou suas lágrimas com a manga de seu suéter rosa.

— O meu é Yasmin. — Ela estendeu a mão à sua nova colega, que foi aceita prontamente. — A partir de agora, você é minha melhor amiga.

— De verdade? — Seus olhos castanhos brilharam e, dessa vez, não foi por causa das lágrimas.

— Sim!! Olha, minha mãe veio comprar coisas para fazer meu bolo de aniversário. Quer ir comemorar comigo? — Perguntou animada por finalmente ter uma nova amiga. — Nós podemos jogar esse jogo juntas também.

A pequena Luna não conseguiu conter as lágrimas que voltaram a cair e assentiu em confirmação para Yasmin. Sentiu, finalmente, um calor em seu coração, animada por ter feito sua primeira amiga nessa cidade.

*

Levantei minha cabeça do travesseiro, um pouco desnorteada. Que inferno... Limpei as lágrimas que escorriam pelas minhas bochechas e voltei a me deitar. Não importa o quanto eu evite e tente esquecer, coisas mal resolvidas sempre tendem a voltar. Por que eu tenho que sofrer? De modo contínuo, desde o início, tudo o que me acontece são coisas ruins. Quando tudo finalmente parece caminhar bem, acontece desgraça pós desgraça. O destino deve jogar contra mim, ou em minha vida passada devo ter sido uma tremenda ordinária.

Maldito Seja o Dia dos Namorados!!!Onde histórias criam vida. Descubra agora