Começar a rotina pela manhã é sempre um saco, ou você acorda antes do alarme ou bem depois. No meu caso, foi diferente: esqueci que não estava dormindo em casa e lembrei desse detalhe quando acordei ao som de Justin Bieber, mais precisamente ao refrão de "Love me".
Surpreendentemente, meu cérebro parecia mais afetado que o costumeiro, entre uma crise existencial e a falta de palavras para descrever o que passava na minha cabeça. Eu tinha muitas perguntas, mas evitei todas elas e voltei a dormir. Lauren havia levantado bem mais cedo que o necessário para ajudar a serviçal com o café da manhã e, como a boa amiga que era, me deixou dormir mais um pouquinho. O "pouquinho" que não durou muito, acordei com um gato laranja mastigando meu cabelo na maior paz interior.
Minha manhã mal começou e eu já me sinto abatida, com problemas de funcionamento e zero inteligência. Não sei se foi a força desnecessária que usei para enxaguar meus cabelos ou o efeito daquele alarme que, provavelmente, alguma garota deveria usar em 2010.
— Querida, você está pálida. — A serviçal colocou a mão na minha testa, medindo minha temperatura. — Caiu da cama?
Queria ter respondido à senhorinha gentil, mas eu ainda estava sob o efeito estranho e nenhuma palavra me vinha à mente, então decidi apenas sorrir para ela e negar com a cabeça. Cortei um pedaço da panqueca em meu prato e levei à boca. É como se toda energia ruim fosse embora num piscar de olhos, minha reação foi tão espontânea que a senhorinha sorriu grande.
— Nossa, tia Maria, você arrasou, hein. — Comentei, animada, com a boca cheia de panqueca.
— Garota, come direito. — Lauren resmungou, acertando um tapa em meu ombro. — Criança movida a açúcar.
— Bom dia!
Virei o pescoço para ver a dona da voz e se tratava de Lucy, irmã mais velha de Lauren. A loira mais velha se juntou a nós e iniciou um assunto. Comentou que conseguiu um emprego como professora de inglês e, de brinde, arrumou um namorado bonito.
Quem mais dava importância ao assunto era sua irmã. Eu estava contente pela conquista dela, sem dúvidas, mas o prato em minha frente consegue ser mais cativante que qualquer outra coisa. Foi questão de tempo até a panqueca descer seca pela minha garganta e o suco de uva descer pelo cano errado. Acontece é que a palavra "namoro" foi citada, lembranças de que meu nome está no jornal do colégio vieram à tona como um gatilho e eu automaticamente entrei em alerta. Por muito pouco, não sujei meu moletom preto com suco, só dei a má sorte de cuspir metade dele em Lauren.
***
— Anda, nem vai ser tão ruim assim.
— É, ninguém mandou ser talarica.
Sinceramente, às vezes eu questiono se estou realmente com as amizades certas ou se escolhi minhas inimigas para conviver diariamente.
Enfrentei os diversos olhares e cochichos, alguns nem tão discretos assim. A professora da primeira aula estava atrasada, então os alunos estavam divididos. Alguns optaram por ficar no pátio, outros na arquibancada ou na sala de aula. Minha mão estava coçando para acender um cigarro. Ninguém ligaria, afinal estamos na parte mais alta das arquibancadas e longe suficiente dos outros. Parei de bater os pés quando recebi um olhar torto das meninas, bufei em tédio e voltei a pensar na minha atual situação. Não sei nenhum tipo de arte marcial, mas pensando bem, não é tão tarde para aprender...
As líderes de torcida ocupavam o gramado com seus ensaios diários. Eu admirava a competência delas em executar os saltos com profissionalismo. Elas podem ter seus inúmeros defeitos pessoais, mas é inegável o cuidado e responsabilidade que elas têm entre si.
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Maldito Seja o Dia dos Namorados!!!
Novela JuvenilLuna Fernandes Gonzalez é uma garota comum, quase como toda adolescente da sua idade. Ela é uma imigrante preguiçosa, com hábitos terríveis e duas inseparáveis melhores amigas. Luna tem uma tendência a chamar atenção de modo negativo pelos corredore...