Maldito Seja o Dia dos Namorados!!!

4- À Quatro Patas De Você

Não há nada pior do que os dias de domingo, sempre causam sensações ruins, como se fosse o fim irreversível de algo. Quando acordei, o motivo eram os gritos da minha mãe, que queria limpar a casa toda ao som de louvores e, de preferência, sem ninguém no caminho. Tive a certeza de que não iria passar de hoje.

Tomei o café da manhã em completo silêncio, já que até minha própria voz gerava desconforto e intensificava minha dor de cabeça. É surreal a agilidade com que eu buscava algo que me ocupasse o suficiente para não pensar no dia anterior, cortei o mato do quintal, dei banho nos cães da vizinha, fiz o almoço e coloquei as atividades escolares em dia. Não estou pronta para pensar e nem quero.

— Mãe, posso passar o fim de semana fora hoje? — Perguntei, chorosa, para a mulher que assistia ao jornal na TV.

— Casa dos Abraham de novo? — Ela conhece bem a filha que tem. — Juízo.

— Te amo. — Deixei um beijo na testa da mulher.

Subi ao meu quarto novamente e comecei a colocar algumas roupas na mochila, incluindo as de banho. Pretendo uma possível tentativa de afogamento na piscina de Lauren e, se não funcionar, eu peço conselhos. Garanti que não estava me esquecendo de nada, nem do meu carregador, e praticamente corri até a rua, bagunçando os tapetes de casa durante o processo.

Chutava pedrinhas pelo caminho enquanto o sol parecia queimar até meu cérebro. Atravessei a rua, passando pela calçada repleta de casas e seus jardins floridos, cada jardim mais bonito que o outro. Parei para conectar meu fone no celular e coloquei "Angeline" de Chase Atlantic para tocar. Geralmente, vivo entre ignorar a tradução sem relação com os momentos que presencio e apenas aproveitar a sensação que ela causa, e em outros casos, eu me identifico e sofro.

Passei por mais algumas casas até me aproximar da rua de Lauren. Havia alguns cães vira-latas bonitinhos agrupados por perto, e me aproximei chamando-os enquanto estalava os dedos.

— Oi, bonitinhos. Posso levar vocês todos para minha casa e... — Fui parando de falar à medida que um deles rosnou e o restante decidiu acompanhar.

Em questão de segundos, no primeiro latido, virei à esquerda e comecei a correr, descendo uma baita ladeira abaixo. Quando percebi que as pragas me perseguiam, vi-me na urgência de aumentar a velocidade, coisa que desacreditei ser capaz de fazer, e por muito pouco não caí, me ralando toda. Arrastei-me até um campo próximo e me joguei, deitando meu corpo no gramado verde e bem cuidado, tentando recuperar todo meu fôlego. Abri meus olhos após ouvir algumas risadas e gritos agudos, mas a claridade do sol quase me cegou, fazendo-me murmurar ofensas e fechar os olhos novamente. Sentei-me, enfiando minha mão no bolso da minha calça em busca do meu cigarro, e comecei a choramingar.

— Porra, não é possível que eu tenha esquecido o mais importante. — Revirei minha mochila à procura do maço, mas não havia sinal dele.

Minha atenção foi roubada novamente, desta vez por uma música alta. Virei-me na direção de onde vinha e vi um grupo de garotas em formação, parecia uma espécie de ensaio. Guardei meu celular e os fones de ouvido na bolsa para prestar melhor atenção. Eram as líderes de torcida do colégio, sem o uniforme de líder ou jaquetas. Todas as garotas usavam roupas confortáveis, algumas com o cabelo preso e outras não, pareciam se divertir mesmo durante um ensaio.

— Cinco, seis, sete e oito. — Uma delas gritou, dando início a uma sequência.

Os movimentos começaram simples e sincronizados, balançavam seus pompons conforme a música e se posicionavam em diferentes formações. É impressionante o jeito que elas fazem isso parecer tão fácil, leve e divertido.

— Incrível, não é? — Assustei-me com uma voz atrás de mim e me virei, vendo Mariana se sentando ao meu lado. — Tenho tanto orgulho das minhas meninas.