ℙ𝕖𝕣𝕚𝕘𝕠-10

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27/04/1704

Mavie City-Adna 

13:23

Local: Casa da Cherry 

     Dia nublado, praticamente chuvoso, um garoto lesado e destruído dormindo pois era a única coisa que conseguia fazer, um pequeno bebê fazendo a mesma coisa em um outro quarto, e uma garotinha, novamente sozinha, andando pelo corredor cheio de adultos correndo mal-humorados se xingando quando se topavam e uma senhora, ainda mais mal-humorada e boca suja que os outros, os coordenava como se a casa fosse uma fábrica e a família fosse apenas um grupo de funcionários que trabalhavam sem remuneração e sem vontade, só agindo como robôs, a garotinha sabia que seria a próxima a comandar todo aquele pandemônio horroroso, o que na visão dela não era nem um pouco justo, sei irmão era o mais velho, por que ela deveria mandar? A pequena ruiva voltou para o próprio quarto e pegou uma bonequinha nova que sua mãe havia dado a ela no último Olivae, e andou até a sala para brincar com o brinquedo de casinha, ela brincou até perceber que sua mãe estava chegando com Juliana e o primo de Jazz (era como ele gostava de ser chamado), cujo nome ela não lembrava se era Lorenzo ou coisa do tipo, mas como eles conversavam de maneira frequente já que o amigo dela só andava com ele, a menina se sentiu corajosa o suficiente para chamá-lo para brincar, e ele prontamente aceitou e se juntou a ela em prol de se divertir um pouco, apesar de que sem perceber estava sendo fuzilado com o olhar por Lilith pelo fato de ter quebrado o vaso dela há dois dias (mesmo que tenha sido com a intenção de ajudar alguém mais importante do que o objeto) e ela definitivamente não o perdoou pelo ocorrido, entretanto como o irmão dela sempre dizia, um foda-se desse tamanho para tudo.
    Os dois passaram um tempo se divertindo com a boneca da ruiva, enquanto o garoto de olhos rosas considerava a possibilidade de ser seu cunhado de vez em quando, claro que tentando ser minimamente sutil (falhando miseravelmente) e entrando em tons de dúvida, ela disse que não teria problema nenhum, por mais que ele devesse pedir pra quem ele quisesse iniciar o caso (o que ela não teve coragem pra dizer para o garoto naquele momento era que a pessoa que devia dar autorização não considerava o garoto alguém lá muito interessante ou engraçado, e nem muito compatível consigo, pelo menos era sua opinião há um mês) e que ele devia tratar bem e arrumar um jeito de conquistar o amante (único jeito que tinha chance de dar certo: macumba brava), e o seu acompanhante mostrou um semblante esperançoso, expressão que fez a ruiva calar a boca e não continuar alimentando aquele amor que pelo menos por enquanto era platônico, e os dois prosseguiram na brincadeira, uma um tanto culpada e outro otimista, até o momento em que o ruivo conhecido por todos até o presente momento apareceu com o cabelo molhado e o olhar distante e fundo na porta da sala acompanhado do pai dela e de sua tia, dos quais eram os únicos que não o ignoravam completamente e que faziam e compravam as coisas que tinha, observando de canto procurando alguém que prezava muito, entretanto ao notar a ausência da pessoa ele se virou para o de olhos rosas e fez sinal o chamando com as mãos, e o garoto seguiu seu chamado e deixou a menina sozinha novamente, entretanto ficou lá pra ver quantas chances seu amiguinho de olhos rosados teria com seu querido irmãozinho mais velho, e se desse tudo errado ela nunca mais o encorajaria a tentar novamente.
    Cherry ficou por lá e saiu aliviada depois, pois o ruivo havia abraçado Lg (mesmo que com uma pequena dose de relutância) e o havia presenteado com um doce que sua avó havia feito no dia anterior e ele havia roubado (com a mesma relutância), mas pelo visto tinha tanto valor para o lívido garoto que ele saiu de lá aos saltos, ignorando por completo o fato de que havia acabado de receber um castigo de Juliana (que até estranhou um comportamento tão receptivo à punição) e deu um último sorriso ao fechado ruivo que ainda o fitava da porta, e logo que o mais novo saiu, ele saiu também e ela ficou sozinha, admirando a porta e sua mãe, que estava comendo seu mais velho com os olhos, decididamente ela não havia aprovado aquilo, entretanto não falou nada e foi embora calada, e a garotinha continuou a brincar com sua boneca enquanto andava ao seu quarto vagarosamente e tranquilamente, vendo que tudo poderia dar certo afinal, e não era necessário chorar por qualquer coisa, e ela já estava saltitante como Lg ao chegar no seu aposento, até o momento em que tropeçou e caiu em uma... Gosma?... Azul, gosmenta, muito feia e deselegante, e o pior era que não tinha a menor ideia de como aquilo havia ido parar lá... Será que foi a fralda do Pedro? Não podia ser, ele não comia mirtilos ou comidas daquela cor, até porque ele começava a chorar alto quando via algo assim, qualquer coisa que parecesse ou um coelho ou tivesse a cor azul o bebê chorava, por que? Cherry não sabia. Mas movida pela curiosidade a garotinha coletou a tal gosma com uma tesoura simulando uma pinça e colocou dentro de um pequeno pote que tinha sobre a mesa da escrivaninha, e acabou por passar um tempo cultivando aquilo, e se tornou sua plantinha de estimação, mesmo que fosse feia, ela sentia que era útil.

04/08/1704
Mavie City-Adna
14:09
Local: Casa da Cherry

    Uns bons meses passaram, potes foram substituídos por potes maiores, potes maiores foram substituídos por vasos, e assim o ciclo continuava, Cherry ficava cada vez mais maravilhada com a velocidade de crescimento da planta, e quão bonita ela ficava cada vez que crescia, e cada vez mais difícil de controlar, seu quarto estava começando a ter um tom enevoado em azul-ciano, e estava ficando lentamente mais difícil de se respirar, mas isso não tinha muita importância, a garotinha já estava perto de completar seus 8 anos e estava fazendo uma contribuição ao mundo de Aldra, já que podia estar fabricando cura para uma série de doenças, Jazz já tinha 8 anos, Pedrux tinha 3 e Apuh, Nogal e Lg continuavam com 10, pois estes já haviam feito aniversário no começo do ano. Ela continuava a cultivar o líquen de maneira cuidadosa e sutil,  tomando cuidado para não deixar ele se alastrar por outro lugar que não fosse seu quarto e evitar levantar suspeitas quanto a isso, apesar de já ter Apuh em seu pé a incomodando para retirar a coisa e jogar fora imediatamente pois "era perigoso", e apesar de Cherry amar muito seu irmão, negava que a tal plantinha tivesse qualquer coisa que colocasse a vida de alguém em um risco maior que tornar os olhos cianos, ou seja, ele estava exagerando com o alerta; Jazz também já havia a repreendido por conta do líquen, e Pedrux já havia tentado derrubar os recipientes um monte de vezes, e ele já estava proibido de adentrar o quarto da garota, aonde já se viu? Qual é o perigo de algo tão inofensivo? Para falar a verdade, aquilo já podia estar subindo a sua cabeça em alta velocidade, e se ela não se livrasse logo, teria de arcar com consequências terríveis. 

 

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