ᴄᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ ᴛʀᴇs

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Os dias aqui passaram rápido, como se o tempo tivesse começado a se mover em um ritmo diferente. Três dias se passaram desde que cheguei, e eu havia esquecido completamente do diário. Minha rotina, que antes consistia em sobreviver sozinho, agora estava repleta de novas responsabilidades.

Tenho me mantido ocupado ajudando o pessoal com diversas tarefas pela fazenda. Logo no primeiro dia, Jake me pediu para ajudá-lo a reforçar as cercas que rodeiam a propriedade. Ele queria garantir que nada — ou ninguém — pudesse invadir o terreno sem que fôssemos avisados. Passamos horas carregando madeira, martelando pregos, e erguendo barreiras improvisadas, tudo sob o sol forte.

Konnor e Kory também me incluíram nas patrulhas. Eles fazem rondas regulares ao redor da fazenda para verificar se há sinais de zumbis ou outras ameaças. Durante essas patrulhas, Kory me ensinou alguns truques de sobrevivência que ela aprendeu ao longo do tempo, como identificar possíveis esconderijos e como se mover sem fazer barulho. Ela é uma ótima professora, direta e sem rodeios.

À noite, geralmente nos reunimos todos na sala de estar, enquanto Johan faz questão de verificar o armamento. É uma espécie de ritual que parece acalmar todo mundo, como se preparar as armas para o caso de uma emergência fosse um lembrete de que estamos prontos para o que vier. Charlotte sempre fica por perto, ajudando como pode, enquanto nos conta histórias ou faz perguntas sobre o que faremos no dia seguinte.

Apesar da constante sensação de alerta, há algo reconfortante em estar cercado por outras pessoas, mesmo que o mundo lá fora continue desmoronando. Jake sempre encontra um jeito de manter o clima leve, mesmo nas situações mais tensas, e Konnor está sempre com uma piada pronta, fazendo todo mundo rir, mesmo que seja só por um segundo.

Eu ainda estou tentando entender qual é o meu lugar nesse grupo, mas uma coisa é certa: estar aqui, com essas pessoas, faz com que a luta pela sobrevivência pareça um pouco menos desesperadora. Mesmo que os dias sejam cheios de trabalho duro, a companhia deles faz tudo valer a pena.

Agora, me encontro sentado no meio da sala com Charlotte ao meu lado, e Duke, o enorme pastor alemão do grupo, aconchegado no meu colo. Seus olhos brilhantes me observam com uma mistura de curiosidade e lealdade, enquanto ele ocasionalmente levanta a cabeça para lamber minha mão. É engraçado pensar que, há poucos dias, esse mesmo cachorro quase me derrubou no meio da noite. Agora, somos praticamente inseparáveis.

Charlotte está completamente absorta nos quadrinhos que trouxe comigo. Desde que mostrei a ela essa manhã, seus olhos se iluminaram como se tivesse encontrado um tesouro. A empolgação dela era contagiante, e não demorei a prometer que, assim que terminássemos nossas tarefas, passaríamos a tarde lendo juntos.

O chão da sala é um tanto frio, mas isso não parece incomodá-la. Estamos sentados perto da lareira acessa, com as páginas dos quadrinhos espalhadas ao nosso redor. Charlotte ocasionalmente aponta para uma cena particularmente interessante e me pergunta sobre os personagens ou a história. Eu explico tudo com o máximo de detalhes que consigo, o que só parece aumentar o entusiasmo dela.

À medida que lemos, sinto uma tranquilidade rara se instalando. Duke, agora relaxado, deita a cabeça pesadamente no meu colo, e eu o acaricio distraidamente enquanto acompanho Charlotte na leitura. Lá fora, a luz do sol começa a perder força, banhando a sala em um brilho suave e dourado. Por um breve momento, tudo parece normal, como se o mundo não estivesse em ruínas do lado de fora.

Essa é a primeira vez em muito tempo que me sinto realmente parte de algo maior do que eu mesmo. Charlotte e Duke trouxeram uma sensação de paz que eu nem sabia que estava procurando. É um lembrete de que, apesar de tudo, ainda existem momentos de simples felicidade, mesmo em um mundo devastado.

𝑇ℎ𝑒 𝐿𝑎𝑠𝑡 𝐵𝑟𝑒𝑎𝑡ℎ Onde histórias criam vida. Descubra agora