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KATERINA NÃO RECONHECIA MAIS À SI MESMA. Os olhos que lhe encaravam de volta pelo reflexo da tela apagada de televisão diziam o que ela previa: era um monstro. Houvera matado dezenas de pessoas com uma só decisão impensada — ou talvez pensada demais. Por que ela o salvaria, sabia que faria aquilo de novo e de novo se fosse preciso, e era por isso que se sentia um monstro. Por que amou demais.

Mas talvez ele não soubesse disso. Talvez nunca reconhecesse isso. O amor à tornou alguém perigosa.

Às vezes ele parava na porta do quarto dela, apenas para admirá-la enquanto ela assistia à um filme antigo na televisão, sentada ao pé da cama, os olhos vidrados na tela. Coisas ruins acontecem, acidentes acontecem, e não podemos prevê-los — ele pensava assim. Ela apenas tentou ajudar.

— É uma criança apenas — Steve tentou argumentar com o general Ross quando este anunciou o Tratado de Sokovia, naquela sala de reuniões. — É imatura. Está aprendendo. Não é um perigo. Todos nós cometemos erros tentando fazer o certo.

Katerina ouvia tudo por de trás da porta. Ele a chamava de criança, mas quando estavam juntos, não era isso o que dizia, não era isso o que via. A mente da garota estava confusa demais para entender que ele estava apenas tentando defendê-la ao dizer aquelas palavras para o general, mas tudo o que ela se sentia era uma falha.

Havia falhado com Steve Rogers. Mas nunca, nunca ela o deixaria morrer.

— É como uma onda passando sobre mim — ela diz para o seu fiel ouvinte. Visão. Ele sempre estava ali, atravessando paredes, conferindo se ela estava bem. — E eu sinto que ela vai me afogar. E eu não consigo manter minha cabeça sob a superfície.

Talvez o melhor fosse assinar o Tratado de Sokovia. Era a escolha certa à se fazer. Não queria viver a vida inteira sendo uma criminosa. Ou talvez o melhor fosse desaparecer. De uma vez por todas.

As bolhas se formavam na superfície da água na banheira onde ela se subemergia, no banheiro do quarto. Ninguém estava no quartel naquela hora, todos ocupados com coisas de adultos, ela pensava. Os olhos fechados, deixando-se levar... quando algo lhe puxa de volta para a realidade, ou melhor, alguém.

Steve encara a garota com olhos assustados e preocupados, balançando-a pelos ombros, mantendo-a na superfície.

— O que pensa que está fazendo?! — ele questionou exasperado. Não podia imaginá-la naquela situação, mas lá estava ela, cometendo uma loucura. — Nunca mais faça isso, está me ouvindo?!

Não. Ela não ouvia. Mas balançava a cabeça que sim. Sua mente estava perdida em pensamentos que a consumiam por dentro. Ela estava definhando em um mar de culpa e auto-destruição.

Katerina não reconhecia mais à si mesma.

TRIAL | steve rogersOnde histórias criam vida. Descubra agora