Sentimentos

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A manhã começou com a habitual intensidade no ginásio, com Zé Roberto comandando as jogadoras em mais um treino exaustivo. Conhecido por sua disciplina implacável e exigências elevadas, ele não dava trégua. "Vamos, meninas! Quero mais velocidade nessas corridas! Carol, conserta essa postura! Rosa, cadê o foco nos passes? Vamos lá!", a voz firme de Zé ecoava pelo espaço, enquanto ele circulava pelo ginásio, atento a cada detalhe.

Para as meninas, o treino com Zé era sempre um teste de resistência. Começava com corridas ao amanhecer, seguidas de sessões intensas de habilidade e tática, onde a concentração era essencial. À tarde, vinham os treinos físicos pesados e academia, em que cada erro era corrigido com repetições adicionais, sem espaço para relaxamento.

Apesar da pressão constante, Zé Roberto sempre procurava ser justo nas críticas. "Carol, muito melhor esse saque, mas lembra de não inclinar tanto o tronco para frente. Rosa, excelente visão de jogo, mas precisa melhorar a precisão nos passes curtos", ele comentava, sempre oferecendo sugestões construtivas.

Naquela manhã, Rosa estava particularmente inquieta, se pegava ensaiando mentalmente a conversa que precisava ter com Carol. O fim de semana com a família só serviu para intensificar as perguntas que giravam incessantemente em sua mente. Os sentimentos por Carol, tão fortes e confusos, dominavam seus pensamentos, tornando difícil focar no treino. O medo da reação de Carol, do impacto que essa conversa poderia ter na amizade delas e na dinâmica da equipe, era como um peso constante em seu peito. As palavras de Zé Roberto soavam distantes, como se fossem ecos em meio à turbulência interna que Rosa tentava controlar.

Durante uma pausa entre os exercícios, Rosa, tentando aliviar a tensão que sentia e também a do grupo, decidiu fazer uma imitação bem-humorada de Zé. Com um sorriso travesso, ela engrossou a voz e começou a exagerar nos gestos característicos do técnico. "Vamos, meninas, mais rápido!", disse Rosa, coçando a cabeça de forma caricatural e imitando a postura rígida de Zé.

As risadas começaram a se espalhar pelo ginásio. Betinha, sempre pronta para uma boa brincadeira, logo se juntou a Rosa, fazendo caretas exageradas enquanto tentava seguir as "instruções" da colega. "Rosa, tá vendo, é assim que se faz!", disse Betinha, com a voz mais grave, imitando Zé enquanto fazia uma demonstração exagerada de um bloqueio perfeito.

Zé Roberto, que tentava manter a seriedade, não conseguiu esconder um sorriso ao ver a cena. "Vocês duas deveriam abrir um show de comédia!", brincou ele, balançando a cabeça.

Apesar do clima descontraído e das risadas, Rosa sabia que estava adiando o inevitável, e a iminência da conversa com Carol pairava sobre ela como uma sombra. Betinha, que conhecia bem a amiga, percebeu a diferença em Rosa. Trocou olhares cúmplices com ela, como se quisesse dizer: "Estou aqui, se precisar".

Enquanto tomava um banho rápido após o treino, Rosa olhou para o seu reflexo no espelho, tentando se preparar para o que estava por vir. Sabia que não poderia adiar por muito mais tempo. A conversa com Carol estava prestes a acontecer, e tudo o que Rosa podia fazer era respirar fundo e confiar que estava fazendo o certo, por mais difícil que isso fosse.

[...]

Após o almoço, Carol não conseguiu deixar de notar a inquietação de Rosa. Decidida a esclarecer as coisas, puxou Rosa para um canto mais tranquilo do refeitório, com um sorriso maroto no rosto. "Rosa, posso te raptar por uns minutos? Tô achando que você anda com alguma coisa na cabeça, mas está com medo de falar. Dizem que grávida vira uma espécie de detector de mentiras ambulante, sabia?" Carol riu, tentando aliviar o clima.

Rosa sentiu o coração acelerar. Sabia que não poderia fugir por muito mais tempo. Respirou fundo e, tentando esconder o nervosismo, respondeu com um sorriso meio torto: "Claro, grávida e vidente, né? Vamos nessa, vai!". As duas caminharam até o jardim, onde os sons dos pássaros e a brisa suave criavam uma atmosfera quase mágica, em contraste com a confusão interna de Rosa.

"Além das Quadras" RosattazOnde histórias criam vida. Descubra agora