"Além das Quadras" Rosattaz

Te Amo Lá Fora

O vento frio de Belo Horizonte continuava a entrar pelas janelas semiabertas do apartamento de Carol, mas o calor que invadia seu peito ao ver a mensagem de Rosamaria afastava qualquer sensação de solidão. Era uma foto de Rosa, sorrindo com uma xícara de chá nas mãos, aquele sorriso travesso que Carol conhecia tão bem. Ela riu baixinho, os dedos já prontos para digitar uma resposta rápida.

"Aposentada Sênior? Você está dizendo que eu fico fazendo palavras cruzadas o dia todo deitada na rede ou que sou descolada e atemporal?"

A resposta de Rosa veio instantaneamente: "Atemporal, claro! A vintage mais descolada de Minas Gerais... e uma raridade! Sério, só falta tu me ensinar crochê agora"

Carol gargalhou sozinha, indo buscar mais café na cozinha. "Essa mulher...", murmurou, balançando a cabeça. Mas a saudade de Rosa, mesmo que disfarçada em piadas e brincadeiras, sempre estava presente. A distância era cruel, e cada momento longe parecia mais difícil de suportar. As mensagens trocadas amenizavam, mas não substituíam a presença física de Rosa, a risada ao vivo, o toque

Enquanto esperava o café passar, Carol pensou nos pequenos momentos que mantinham o relacionamento vivo à distância. Todos os dias, sem falhar, elas trocavam mensagens, fotos, memes, qualquer coisa que pudesse fazer a outra sorrir. Era como se cada uma fizesse questão de lembrar a outra de que, apesar do oceano que as separava, elas ainda estavam conectadas. As selfies bagunçadas de Carol logo cedo, o jeito de Rosa de responder com provocações. Como quando Carol, com o cabelo todo embaraçado, enviava: "Bom dia, parecendo um leão hoje", e Rosa logo respondia: "Ainda bem que eu gosto de animais selvagens!"

Mas, por mais que as mensagens fossem frequentes, nada substituía as chamadas de vídeo, os momentos em que podiam ver o rosto uma da outra, ouvir a voz, sentir uma proximidade que, mesmo virtual, era reconfortante

Naquela mesma tarde, depois de um dia exaustivo de compromissos e consultas, Carol se jogou no sofá, o cansaço pesando em cada músculo. Seu celular vibrou nas mãos, e o nome que apareceu na tela fez seu coração se aquecer. Era uma chamada de vídeo de Rosa

"Olha só quem resolveu dar o ar da graça", brincou Carol, ajeitando a câmera para que seu rosto aparecesse melhor

Rosa, do outro lado, estava deitada na cama, exausta, mas com o mesmo brilho nos olhos de sempre. "Cara, o treino hoje foi puxado! Quase não sobrevivi... mas é claro que eu não ia dormir sem ver esse rostinho"

Carol riu, sentindo-se mais leve só de ouvir a voz de Rosa. "Tá me puxando saco agora? O que você aprontou aí no Japão?"

Rosa fingiu indignação. "Eu? Nada! Só tô sendo uma amiga dedicada, eu hein! Aliás, preciso te contar uma coisa... Saiu um desenho novo de Harry Potter, e eu TÔ LOUCA pra ver! Por favor, assiste comigo. A gente sincroniza e assiste juntas!"

Carol riu, balançando a cabeça. "Um desenho de Harry Potter, Rosamaria? Você tá brincando, né?"

"Não tô, Carol! Vai ser incrível. Eu prometo! A gente faz pipoca, pega os cobertores e assiste ao mesmo tempo. Vai ser quase como se eu estivesse aí contigo"

Apesar da ideia um pouco boba, Carol sorriu com carinho. O entusiasmo de Rosa era contagiante, e, no fundo, ela sabia que aceitava qualquer desculpa para passar mais tempo "ao lado" de Rosa, mesmo que fosse assistindo um desenho do qual não era fã. "Tá, tá bom. Eu aceito, mas você que vai ficar com a culpa se eu dormir no meio"

Rosa riu, vitoriosa. "Fechado! E se tu dormir, eu faço questão de te acordar com mensagens pra voltar a prestar atenção"

Mais tarde naquela noite, as duas fizeram exatamente como combinado. Carol preparou pipoca, se aninhou no sofá com um cobertor, e sincronizou a chamada de vídeo com Rosa, que estava fazendo o mesmo lá no Japão. Enquanto o desenho começava, elas trocavam comentários, riam juntas, e por alguns momentos, a distância parecia desaparecer. O que antes era uma tela fria, se transformou em uma ponte de carinho e cumplicidade