04. Pode ficar feliz

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“Não tente se curar onde se machucou”

Essa era uma frase que alternava na mente de Heeseung, junto das opostas, que continham teor positivo para mantê-lo confiante, apesar de não ser culpa do local ou do esporte, e sim dele mesmo. Foi ele quem transformou sua válvula de escape em um gatilho ao se tornar o tipo de pessoa que sempre repudiou.

Perdeu a conta de quantas vezes se desconectou da realidade por se aprofundar tanto em sua mente que começou a trabalhar em modo automático. Era salvo apenas por cliques que seu cérebro dava para protegê-lo, ou pela voz de alguém o chamando — geralmente, o treinador, e isso não era bom.

Gostaria de organizar todos os pensamentos em caixas separadas por categorias ou cores, pois conviver com eles emaranhados como fios impossíveis de desenrolar estava lhe prejudicando em excesso. E isso não é referente ao esporte.

Heeseung respirou fundo, lembrando-se do que precisava fazer, e voltou a ensaiar a coreografia que vinha elaborando há um tempo. Cantarolava baixo para apenas ele ouvir enquanto realizava os movimentos com calma.

Seus colegas estavam fazendo o mesmo, nos lugares em que costumavam ficar. Os irmãos Hwang próximos, distraindo-se com conversas, e Jiwoo e Riki na ponta oposta, mais focados em observar o ambiente do que realmente praticar.

Apesar de possuir uma boa relação com todos ali, Heeseung não tinha certeza se podia confiar neles. Hyunjin e Yeji não sabiam manter a boca fechada e era impossível fazer algo escondido de Jiwoo e Riki. Havia olhos e ouvidos por toda parte.

Pode não ter sido com essas pessoas, mas Heeseung há algum tempo aprendeu na prática que não se deve confiar em qualquer um que pareça amigável. Os assuntos que conversava com seus colegas eram bem limitados, pois não queria ser exposto, apesar de não carregar segredos profundos.

Distraiu-se novamente. Pensando em tudo que estava lhe acontecendo nos últimos dias, na possibilidade de decepcionar sua mãe e em não poder confiar em ninguém naquele local que deveria ser seu refúgio, Heeseung se perdeu de seu real objetivo.

Como se a pista fosse somente dele e ignorando a presença dos demais, começou a deslizar cada vez mais rápido pela extensão de gelo com uma expressão determinada, como se quisesse alcançar algo — que nem sequer existia. Naquele momento, estava apenas descarregando a carga de sentimentos.

Sua raiva se intensificou quando Sunghoon se juntou a ele, tentando acompanhar seu ritmo. Heeseung cerrou a mandíbula, seu olhar refletindo o mais puro ódio, enquanto Sunghoon apenas esboçou aquele típico sorriso ladino do qual o Lee queria arrancar na base do tapa.

Aquilo se tornou uma competição, acompanhada pelo olhar de todos os presentes ali. Os Hwang pareciam perplexos, expressando-se de maneira exagerada ao abrir a boca.

— O que eles estão fazendo? — sussurrou Yeji.

Os cochichos se espalharam, mas não foram capazes de interromper aquela pequena disputa entre os rapazes, que faziam aquilo a troco de nada. Sunghoon atrapalhou a tentativa de Heeseung de se sentir um pouco melhor, apenas porque queria vê-lo explodindo de raiva.

No entanto, não gostava de vê-lo sendo mais veloz do que si, então chegou perto o suficiente para empurrá-lo com as duas mãos. Heeseung, não tendo onde se apoiar, foi arremessado diretamente ao chão. A lateral do corpo batendo no gelo foi uma sensação dolorosa que dobraria o número de hematomas em sua pele.

O som do baque ecoando atraiu a atenção de Hanbin, que levantou a cabeça e viu apenas a cena de Heeseung deslizando durante alguns segundos, mas permanecendo deitado sob o silêncio mortífero do local. Sentia-se envergonhado demais para ver a feição de cada um, sabendo que estavam voltadas para si.

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⏰ Última atualização: Aug 24 ⏰

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quebrando o gelo • heehoonOnde histórias criam vida. Descubra agora