01. O príncipe do gelo

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O primeiro amor de Heeseung não foi uma pessoa.

Seu primeiro amor foi a patinação artística, e sequer reconhecia a origem dela. Talvez viesse de sua pequena obsessão em gastar horas assistindo a vídeos e programas sobre o esporte e sentir seu coração ser tocado pelas palavras de quem o praticava toda vez que via um documentário.

Ele se sentia livre toda vez que calçava os patins e deslizava pela enorme pista, descontando ali qualquer sentimento que estivesse sentindo, porque essa era a maneira mais genuína de demonstrá-lo. Não era apenas comovente, era arte.

Qualquer um era capaz de perceber que ele era apaixonado por isso, pois seu sorriso jamais abandonava seu rosto enquanto ele patinava, nem mesmo por um único segundo. A pista era como sua segunda casa.

Pelo menos, foi assim no início, até Heeseung ir crescendo e ver as coisas de modo diferente, sem a ingenuidade de um adolescente de quinze anos. Os prós e contras sempre existiram, porém, os prós foram diminuindo cada vez mais.

A felicidade e liberdade que ele sentia fazendo aquilo não valiam a pressão que ele depositava sobre si, além da comparação que dificultava seu sono todas as noites. Ele gostaria que apenas trancar as janelas e a porta bastassem para impedir os pensamentos negativos de invadirem o quarto, mas eles estavam sempre dentro de sua cabeça.

Quando a pressão e a comparação vinham do treinador, ele podia correr até sua mãe e chorar no colo dela. No entanto, quando elas vinham de si, não havia para onde fugir e nada a se fazer além de enfrentar e, talvez, superar. Claro, ele nunca conseguia.

Ele já não era mais aquele adolescente bobo, que começou com quinze anos, acreditando que poderia ser reconhecido por aquilo a que se dedicava ao máximo. Já tinha vinte e dois anos, mas ainda agia como um adolescente ao se preocupar demais com pequenas coisas. Qualquer empecilho era equivalente ao fim do mundo.

Para piorar, há algum tempo ele precisava lidar com um empecilho que possuía nome e sobrenome. Park Sunghoon. Nunca existiu ninguém com quem Heeseung se comparou mais do que esse garoto.

Nada jamais seria tão frustrante quanto saber que alguém que patina há dois anos a menos do que ele sempre o superaria, independente de quanto esforço depositasse, porque, sim, ele poderia ser egoísta o suficiente para pensar isso, mas tentar ser amigo de Sunghoon quando ele ainda era novato e falhar tornou tudo ainda mais embaraçoso.

O Park nunca facilitou as coisas, nunca tentou se aproximar dele também, e o cumprimentava de volta tão baixo que era como se sua boca ameaçasse cair caso tentasse ser um pouco mais simpático. Contudo, não agia assim apenas com Heeseung, mas também com todos os outros patinadores.

Ignoravam sua falta de educação somente porque ele parecia irreal devido à sua aparência física e por suas habilidades na patinação. Não necessitava de muito esforço para alcançar o primeiro lugar e receber elogios e uma medalha de ouro, e nem demonstrava muita emoção quando acontecia. Chegava a ser ridículo.

Mesmo após cinco anos, ainda parecia que ele não gostava de fazer isso, e Heeseung não podia deixar de se perguntar o porquê de ele continuar fazendo. Apesar de torcer para que Sunghoon finalmente desistisse, sabia que nada mudaria. Ele continuaria sendo o garoto invisível que nunca se destaca.

Poderia realizar diversas manobras diferentes, mas se Sunghoon colocasse um pé na pista, o primeiro lugar já era seu. Enquanto Heeseung ficaria assistindo do segundo lugar, desejando com todas as forças ser ele.

Já que gostava tanto de se comparar, ao invés de fazer isso com Sunghoon, poderia fazer isso com seus outros colegas, que não se importavam muito de ficar em terceiro lugar ou sequer subir no pódio e receber um prêmio. 

quebrando o gelo • heehoonOnde histórias criam vida. Descubra agora