Cinco

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— Ele não pode morrer! — grito para a tela da TV.

Isso é o que eu odeio em The Walking Dead,  esse medo de que algum dos meus personagens favoritos possa morrer a qualquer instante.

Yoshi come Doritos do meu lado.

— O episódio vai acabar e não vamos saber quem morre.

Arranco o pacote das mãos dele.

— Fica quieto. Se acontecer isso, juro que não assisto mais essa série.

Yoshi revira os olhos e ajeita os óculos.

— Você diz isso desde a primeira temporada.

— Sou sensível, ok?

Nós dois estamos sentados no chão, com as costas apoiadas na cama. Faz calor, então coloquei uma bermuda e uma camiseta branca. Estou mais do que acostumada a ficar confortável perto de Yoshi, e sei que ele também não liga. Rocky dorme tranquilo ao lado da janela.

Meu quarto tem um tamanho razoável, com uma cama queen size, pôsteres dos meus ídolos espalhados pelas paredes verdes e, no alto, pisca-piscas que ficam lindos à noite. Em frente à cama fica a televisão, e de um lado, a janela, do outro, a porta do meu banheiro.

Estamos totalmente vidrados na TV quando o episódio termina e aparecem os créditos.

— Nããããããão! Eu odeio vocês, produtores e roteiristas de The Walking Dead! Odeio!

— Eu te falei — diz Yoshi, em um grunhido presunçoso. Bato na cabeça dele. — Ai! Não desconta em mim!

— Como eles podem fazer isso com a gente? Como podem encerrar assim? Quem vai morrer?

Yoshi esfrega minhas costas.

— Já passou, já passou — consola, entregando-me um copo com Pepsi gelada. — Toma, bebe.

— Vou morrer.

— Relaxa, é só uma série.

Arrasado, desligo a TV e me sento em frente a Yoshi. Parece inquieto e sei que não é por causa do episódio. Seus pequenos olhos cor de mel têm um brilho que nunca vi antes. Ele esboça um sorriso nervoso.

— Aconteceu alguma coisa?

— Sim.

O clima está pesado por alguma razão, não sei o que ele tem para me dizer, mas fico inquieta ao vê-lo hesitar tanto. O que está acontecendo? Quero perguntar, mas sei que preciso lhe dar tempo.

Yoshi passa a língua no lábio inferior e logo começa a falar:

— Preciso de um conselho seu.

— Pode falar.

Ele tira o boné, soltando o cabelo bagunçado.

— O que você faria se estivesse a fim de um amigo?

— Eu contaria a ela?

— Não teria medo de perder a amizade?

Então meu pequeno cérebro dá um clique, e me dou conta do que Yoshi está querendo dizer. Por acaso... esse amigo... sou eu? Yoshi não tem muitos amigos, só eu e algumas conhecidas. Meu coração está na boca, enquanto o fofo do meu melhor amigo da vida inteira me observa com atenção, esperando meu conselho.

— Tem certeza do que sente? — pergunto, brincando com meus dedos no colo.

Seus olhos lindos estão petrificados em mim.

— Sim, muita certeza. Gosto demais dele.

Minha garganta fica seca.

— Quando você percebeu esse sentimento?

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