CIFRAS DE TOM - JIKOOK

Coragem, meu filho, sempre coragem.

Jeon Jungkook

Alguns dias depois…

A vida, com todas as suas nuances, é uma melodia inconstante — ora suave e cadenciada, ora abrupta e descompassada. É como caminhar por uma praia deserta ao amanhecer, onde o silêncio é interrompido apenas pelo sussurro das ondas. Mas, de repente, o céu, antes límpido e acolhedor, escurece sem aviso, e o vento se levanta, transformando o mar em um turbilhão indomável. Tudo aquilo que parecia estar em perfeito equilíbrio desmorona em um piscar de olhos, e somos deixados à mercê das marés, tentando encontrar o norte em meio à confusão.

As certezas de ontem se dissolvem como pegadas na areia, enquanto novas possibilidades se erguem das cinzas do que se perdeu. É um caos sublime, quase poético, onde a estabilidade é uma ilusão e o futuro, uma incógnita. E, nesse balé imprevisível, fui tomado por uma decisão que nunca imaginei tomar — no meio desse redemoinho de incertezas, acabei de assinar um contrato de compra de imóvel.

Sim, eu comprei um bar. Porque, afinal, o caos também pode ser um convite ao novo, uma oportunidade de abraçar o inesperado com a coragem de quem sabe que, no fundo, a vida é feita dessas mudanças repentinas e transformadoras.

A coragem é a primeira das qualidades humanas, porque é a que garante as outras.

“Coragem, meu filho, sempre coragem”.

Sabe, mesmo que eu tenha crescido ouvindo essa frase constantemente, posso afirmar que decerto, com minha constante baixa auto estima, acreditava que eu não possuía essa coragem que minha mãe me mostrava, que ela tentava me convencer que eu realmente tinha. Mas, sabe, parando para pensar, durante todos esses anos, o que eu mais tive, genuinamente, foi coragem.

Eu sempre fui corajoso, embora tivesse medo. O medo era como uma sombra em meu pé, que sempre me sabotava e me fazia acreditar que eu era um incapaz.

Mas… uma pessoa incapaz viaja até a capital, com apenas uma mala, um mapa e um sonho? Uma pessoa incapaz se assume gay em uma sociedade preconceituosa e machista ao extremo? Uma pessoa incapaz se torna um dos melhores fotógrafos da história de Newquay do século XX? Ou, uma pessoa incapaz larga tudo para trás apenas para fazer companhia ao seu pai?

Acho que não.

Com os murros e empurrões que a vida sempre me deu, aprendi da maneira mais fria e solitária que eu nunca fui um incapaz. Embora a depressão me dissesse que, sim, eu era.

A depressão chegou em silêncio, quase sem que eu percebesse. Começou com uma sensação constante de cansaço, como se o peso do mundo estivesse sempre sobre os meus ombros. Eu estava conquistando tudo o que havia sonhado — o dinheiro na conta crescia a cada mês, os contratos aumentavam, e meu nome estava em alta. Mas, ao mesmo tempo, sentia um vazio que nenhum sucesso parecia preencher.

As críticas, que antes eram apenas parte do jogo, começaram a me atingir de uma forma que eu não conseguia ignorar. As palavras duras, os julgamentos apressados, tudo isso se acumulava dentro de mim, tornando-se uma prova constante de que talvez eu não fosse bom o suficiente. E os relacionamentos… Bem, esses pareciam fadados ao fracasso desde o início. Eu tentava me abrir, tentava ser presente, mas a verdade é que a minha mente estava em outro lugar. A depressão transformava cada tentativa de conexão em algo superficial, e, no final, eu sempre acabava me afastando, incapaz de sustentar qualquer tipo de vínculo real.