Capítulo 7 - Os mesmos olhos

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Mas, no fim das contas, é preciso mais coragem para viver do que para se matar.
Albert Camus, A Morte feliz


Clara Almeida, 09:56h da manhã.

A noite de sono no sofá tinha sido agradável, talvez pelas almofadas em minha volta ou pelos braços que sempre me acolheram. Foi a primeira vez em que dormimos dessa forma; abraçados, agarrados, juntos.
Estava ficando evidente que estávamos próximos demais, ao ponto de olhar nos olhos um do outro até dormir, trocar carícias, cafunés e até mesmo alguns selinhos discretos. Não existia só atração física ali, era mais que isso.
Seus olhos, seu cheiro, sua boca, seu jeito, seu sorriso...
Com ele, eu sentia que poderia mudar o mundo, ou simplesmente fugir dele.
Só eu e ele.

Enquanto aguardava o café da manhã sentada na mesa, não pude deixar de reparar em como Wagner estava mais sorridente aquela manhã. Ele já era bem carismático no habitual, mas hoje os sorrisos eram diferentes. ⏤ Hoje o dia não está lindo?

⏤ Não sei, está?⏤ Respondi de volta, sem desviar a atenção de seus olhos.

⏤ Eu poderia só te responder, mas vou fazer melhor, vou te mostrar.⏤ Wagner se levantou, fazendo uma trajetória até a caixinha de som que ficava no canto do balcão, provavelmente para ligar a mesma. Eu já poderia adivinhar o que estava por vir, talvez um pagode? Músicas dos anos 80? Mas ao contrário do que eu pensava, a melodia que começou a tocar me surpreendeu.
Em poucos passos, Wagner estava próximo novamente, estendendo a mão em minha direção. ⏤ Vem.

⏤ Ah, eu...eu não sei dançar, eu não quero acabar pisando no seu pé.⏤ Um sorriso sem graça surgiu no canto de meus lábios.

⏤ Você acompanha meus passos devagar, e se você pisar no meu pé, tudo bem. Eu não vou morrer por causa disso.

⏤ Mas vai ficar machucado.

⏤ Machucados podem ser cuidados, agora chega de desculpas.⏤ Mesmo com receio, juntei o pouco de coragem que ainda me restava, estendendo a mão de volta e deixando-o me levantar. Conforme a aproximidade, um de seus braços passou pela minha cintura, me segurando com todo cuidado e delicadeza possível. Já o outro, apenas segurou minha mão. ⏤ Dois para um lado e dois para o outro, entendeu?

⏤ Essa parte eu sei, agora só falta saber colocar em prática.

⏤ Só tenta repetir os meus passos, tá bom? Sem pressa.

⏤ Está bem.⏤ Conforme acompanhava seus passos extremamente lentos, aos poucos fomos pegando o ritmo e o embalo da música ao fundo. Eu não sabia explicar o que estava sentindo naquele momento, uma mistura de conforto, carinho e...algo que eu não pretendia sentir a muito tempo.

Toda vez que eu olho
Toda vez que eu chamo
Toda vez que eu penso
Em lhe dar ah ah

O meu amor oh oh
Meu coração
(Pensa que não vai ser possível)
De lhe encontrar
(Pensa que não vai ser possível)
De lhe amar
(Pensa que não vai ser possível)
De conquistá-la

Um arrepio percorrer os pelos do meu corpo quando Wagner encostou o nariz entre meus fios de cabelos, próximo o suficiente da minha orelha. Sua respiração era calma, suave, tranquila. Totalmente ao contrário de como eu me encontrava com aquela aproximação, não era um nervosismo ruim, era como se eu tivesse quinze anos de idade de novo dando o meu primeiro beijo.
Meus olhos se fecharam lentamente, podendo desfrutar mais daquele momentos repentino, mas tão adorável.

Por Trás Das Câmeras | 𝑊𝑎𝑔𝑛𝑒𝑟 𝑀𝑜𝑢𝑟𝑎.Onde histórias criam vida. Descubra agora