Capítulo 13 - Distantes

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Recuperando as memórias do que eu fiz
No tempo junto ao seu lado fui feliz
Quem sabe um dia eu te encontro por aí
Será que ainda vai lembrar de mim

Milhas e milhas distante
Anos e anos atrás
Muitas e muitas lembranças

Atrás / Além
Canção de O Terno


Rio de Janeiro
15:17h da tarde

Clara Almeida

É impressionante e assustador ao mesmo tempo pensar em como as coisas podem mudar da noite para o dia, de como as pessoas mais próximas se tornam estranhas. Eu sempre olhei para a minha irmã e senti admiração, tudo que ela fazia e dizia era como uma inspiração, sentia orgulho de quem ela era e de quem ela iria se tornar. Esse era o meu pensamento até os onze ou doze anos de idade, justamente no tempo em que as coisas começaram a fazer sentido, quando comecei a entender que uma história sempre tem dois lados. E de repente, a minha irmã não era mais a pessoa que eu devia confiar sempre, não era mais a minha heroína e o colo que eu procurava sempre que algo dava errado.

De repente, meus pais não eram mais aquela figura perfeita que eu havia criado e acreditei a minha infância inteira. De repente, eu não era mais a garotinha deles.

De repente, eu virei a irmã mais velha, mesmo sendo a mais nova.

Eles continuavam os mesmos, educados, simpáticos e aparentemente compreensíveis. Pessoas que olham de fora pensam que são pais maravilhosos, mas não, não é bem assim. Era doloroso pensar dessa forma, ainda mais agora que me encontrava com a cabeça deitada em seu colo, recebendo aquele cafuné reconfortante enquanto admirava e escutava o som relaxante da chuva lá fora. ⏤ Você adorava brincar na chuva.⏤ A voz suave e calma de minha mãe ecoou, fazendo-me abrir os olhos e soltar um suspiro profundo. ⏤ Lembra quando você quase comeu terra?

⏤ Lembro.⏤ Um riso fraco saiu de meus lábios com a bela lembrança da infância, onde tudo era mágico e colorido. ⏤ Você ficou uma fera.

⏤ Você quase sujou o meu tapete novinho.⏤ Rebateu, também com um ar divertido em sua voz. ⏤ O tempo passou tão rápido, agora você está aí...crescida e independente.

⏤ Isso não significa que eu não sinto falta de casa.

⏤ Sua irmã parece não pensar dessa forma.

⏤ A Gabriela tem a sua própria forma de pensar, mãe.⏤ Justifiquei, me afastando aos poucos de seu toque. ⏤ Por que você e o pai estavam brigados?

⏤ Não era nada demais, foi só uma discussão e eu precisava de espaço.⏤ Levantou-se da cadeira em que estava sentada, caminhando até a área externa da varanda da casa. ⏤ Sua irmã disse que vocês brigaram.

⏤ Ela te ligou?

⏤ Ligou, faz alguns dias. Qual foi o motivo da briga dessa vez?⏤ A pergunta pairou no ar, gerando um sentimento de culpa em meu peito. ⏤ Eu sei que ela pode ser difícil, ela não é como você, mas eu gostaria que fosse.

⏤ Eu não sou melhor que ela, mãe.⏤ Murmurei, sem desviar o olhar da mulher mais velha que tinha uma expressão neutra no rosto.

⏤ Não se trata de quem é melhor, estou falando de capacidade, ela sempre foi assim.⏤ A mulher se moveu, agora indo até o pequeno armário no canto do cômodo. ⏤ Seu pai e eu sempre demos tudo pra ela, sempre do bom e do melhor.⏤ Comentou, enquanto abria uma das gavetas e retirava um março de cigarros dali, juntamente a um isqueiro de modelo antigo. ⏤ E tudo isso pra quê? Pra ela se tornar essa mulher revoltada com a vida.

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⏰ Última atualização: Oct 03 ⏰

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Por Trás Das Câmeras | 𝑊𝑎𝑔𝑛𝑒𝑟 𝑀𝑜𝑢𝑟𝑎.Onde histórias criam vida. Descubra agora