Capítulo 12 - Eu posso tentar

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E tudo que eu posso te dar
É solidão com vista pro mar
Ou outra coisa pra lembrar

Não Sei Dançar
Canção de Marina Lima


Rio de Janeiro, Praia do Secreto
09:34h da manhã

Wagner Moura

Apesar do conflito, aquela semana se passou mais rápido do que eu esperava. Deveria ter ficado surpreso com tudo, mas a única reação que tive foi aceitar os fatos e óbvio, fornecer o apoio necessário para Clara. Estava ciente de que seriam dias difíceis para ela, já que a negação e o sentimento de decepção estavam mais vivos do que nunca. Mas ao contrário do que eu pensava, as coisas aconteceram totalmente diferentes.

Aquele brilho familiar que habitava em seus olhos simplesmente sumiu, dando lugar a um certo vazio, como se estivesse em um poço sem fundo, isso era o que seus olhos diziam. Já os seus lábios tentavam me convencer de que estava tudo bem, que estava encarando a situação com tranquilidade e precisão. Era nítido a falta de vontade para viver, para juntar seus últimos resquícios de forças e seguir a vida. No meio disso tudo, eu me sentia imponente por não conseguir fazer nada a respeito.

Gostaria de pegar toda a dor que sentia e arrancar de seu peito, queria poder saber como trazer aquele brilho antigo, aquele sorriso doce e genuíno. Aquela Clara não era mais a Clara, não era a minha Clara.

Ela estava tão controversa que mal tocava no assunto e eu respeitava o seu silêncio, mesmo sabendo das consequências futuras em relação a situação que estávamos. Era compreensível pelo laço afetivo que tinham, mas o que sua irmã fez não deixava de ser um crime. Mas eu não tomaria nenhuma atitude sem antes entrar em uma decisão mútua.

E mais uma vez, eu a peguei com o olhar distante sobre as pequenas ondas a nossa frente. A praia não estava tão lotada, o que ajudava bastante para termos um momento de paz, por pelo menos dez minutos. Sua expressão era neutra, mas seus olhos diziam tantas coisas. O silêncio era confortável, apesar dos meus pensamentos questionadores em relação a sua mudança de comportamento. Aquele silêncio me incomodava de certa forma, era como estar perdendo ela para algo desconhecido.

Meu desejo não era perturbá-la ou interromper seus próprios pensamentos, mas ela estava tão quieta que parecia estar em outro universo, perdida em seus próprios sonhos e imaginações. ⏤ Eu tava pensando em almoçarmos fora hoje, em um restaurante legal. O que acha?⏤ Tomei a iniciativa, quebrando o silêncio ensurdecedor.

⏤ Pode ser.⏤ Respondeu-me sem muita animação, ainda com a atenção totalmente na imensidão de água a nossa frente.

⏤ Princesa.⏤ Tentei novamente, mas dessa vez ganhando sua atenção. ⏤ Eu sei que você ainda está abalada pelo o que aconteceu, mas você precisa erguer a cabeça e seguir em frente.⏤ Aconselhei, esticando uma das mãos para traçar círculos em suas costas. ⏤ Eu sei que é fácil falar, mas eu não posso fazer isso por você.

⏤ Eu sei, Wagner. Só que ainda está tudo muito recente, ainda não consegui engolir essa história.⏤ Clara virou o rosto novamente. ⏤ Ainda nem consegui ter coragem para falar com meus pais, me sinto tão perdida.

⏤ Se você se perder, eu vou te encontrar.

⏤ Não é você quem tem que me encontrar, não pode fazer isso.

⏤ Mas eu faria, faria qualquer coisa pra te ver feliz.⏤ Clara voltou seu olhar para minha direção, com um pequeno sorriso nos lábios. ⏤ Vem cá, não aguento mais ver você assim.⏤ Com delicadeza, a puxei para mais perto, envolvendo seu corpo em um abraço aconchegante.

Por Trás Das Câmeras | 𝑊𝑎𝑔𝑛𝑒𝑟 𝑀𝑜𝑢𝑟𝑎.Onde histórias criam vida. Descubra agora