T- O que houve garota? Porque você não quer ir ?
- Nada não tio, me deixa aqui por favor, não quero sair - falo ainda meio embolada por causa do choro.
- Não posso menina, preciso te levar até ela, não posso esconder essas coisas, se eu não levar você até ela eu vou ter que trazer ela, qual você prefere ?
- Tio, você não entende, não adianta falar nada, e fora que se eu falar elas vão me bater mais ainda, igual da outra vez... - falo a última frase quase em um sussurro.
Ele volta e se senta ao meu lado bem mais preocupado.
T- Me diga, o que elas fizeram com você da última vez ?
- Deixa pra lá tio...
T- Vamos, me diga garotinha.
- Tá bom tio. Elas foram até minha casa e me levaram para um lugar onde tinha a Vanessa, a Bárbara e a Beatriz juntos com um grupo de meninos e me bateram muito tio - deito minha cabeça no ombro dele e começo a chorar mais e mais.
- Eu não posso deixar isso assim, me espere aqui por favor - ele se levanta e vai em direção a porta, eu tento convencer ele a não contar, mas ele não quer conversar.
"-O que eu faço agora meu Deus? O que vai ser de mim?"
Me sentei novamente abraçando meus joelhos e voltando a chorar, pensando em tudo que vai acontecer. Minha mãe não vai gostar de ser chamada na escola por causa de uma "bobagem", da última vez ela não gostou e quando chegamos em casa, ela me trancou num porão, era escuro e não tinha nada lá, apenas ratos e insetos, eu morro de medo deles, nesse dia eu não conseguir dormir e quando finalmente ela me deixou sair, eu corri pra tomar um banho e me deitar e foi quando a Vanessa veio...
Depois de mais ou menos uns 15 minutinhos, eu ouço novamente a porta abrir, olho na direção e vejo o tio e a diretora, ela tá com uma cara que parece que viu fantasma.
D- Minha nossa, não sabia que era tão grave assim - ela se aproxima de mim e me ajuda a levantar - Vamos até minha sala, lá tem algumas roupas dos achados e perdidos que provavelmente irão servir bem em você.
Ela se vira pra o tio da limpeza e diz:
D- Senhor Valdemir, chame todos que participaram desse ato, quero todos eles na minha sala, por favor.
T- Sim senhora diretora.
Ele sai me deixando com a diretora, ela me conduz até a sala dela e eu vou andando com a ajuda dela, eu sentia muita dor na barriga onde a Vanessa chutou, e meu rosto inchado com mancha de sangue pelas tapas que ela me deu, eu não consegui reagir...
Chegando na sua sala ela me mandou ir até um cantinho que tinha uma caixa fechada, ela mandou eu abrir e assim que eu fiz, olhei algumas roupas e achei uma que me interessou um pouco, peguei e fui ao banheiro para trocar minhas roupas.
Quando terminei, procurei por um espelho naquele banheiro e achei, me olhei e não ficou ruim a roupa.
Voltei para a sala da diretora e lá estavam todos os envolvidos, eles me olharam com um olhar mortal, dei alguns passos para trás com medo, mas a diretora me chama.
D- Venha aqui, senhorita Ágata, conte pra mim se foram esses.
Ando a passos lentos e receosos até ela, paro de frente pra todos eles, olho ao redor e vejo ele, o tio.
D- Vamos senhorita, não tenha medo, eles não vão fazer nada com você, eu estou aqui - ela pega sua mão e te puxa para mais perto dos outros - quem foi deles?
Os meninos me olhavam com olhar de quem dizia, "Se você contar, você vai receber uma punição". Engolir em seco e respondi baixinho.
- Foram todos eles senhora diretora.
- Todos? - ela me olha como quem não acredita.
- Sim senhora.
Ela levanta e começa a ligar para cada um do país dos alunos e por último liga para os meus. Ela fica tentando tirar mais informações e eu as dou. A confiança do tio em mim, eu não consegui decepcionar ele.
Escuto uma batida na porta e vejo todos os pais entrando, a cara deles era de quem queria matar alguém de tanta raiva. Olho mais um pouco procurando pela minha, quando ela entra na sala com um olhar frio, mas tenho certeza de que em casa eu vou apanhar e depois apanho dos outros também.
Depois de uma longa conversa e os pais terem discutido com os filhos, finalmente acabou. Ficou do mesmo jeito que antes, eles foram suspensos por uns dias e a diretora disse que se acontecesse uma próxima vez, não seria tolerado.
Eu e minha mãe fomos para casa, a diretora pediu para que eu ficasse em casa por uns dias, para que eu pudesse pelo menos descansar.
O caminho foi em um completo silêncio, mas a cada vez que eu olhava para ela o olhar dela era de fúria. "- eu tô ferrada" pensei.
Chegando em casa, ela me arrasta até o sótão e me joga lá dentro, eu me desespero um pouco, mas é melhor do que apanhar não é? Meu corpo já tava dolorido e eu não ia aguentar levar outra surra.
Me sento e fico ali, tentando fazer o tempo passar logo, provavelmente vou ficar aqui por muito tempo. Passado alguns minutos ela retorna com uma espécie de chicote na mão, eu começo a sentir medo e recuo um pouco mas ela vem até mim e puxa meu cabelo, mandando eu tirar a roupa, após fazer o que ela manda, ela começa a bater em mim com o chicote, não sei quantas foram, mais sentir minhas forças indo embora e me entreguei a escuridão...
No outro dia...
Acordo com uma dor imensa no corpo, minha cabeça parece que vai explodir, olho ao redor e vejo minhas roupas espalhadas no chão, pego elas e começo a me vestir.
"- que horas de ser agora? Eu tô morrendo de fome."
Levanto e vou olhando tudo atrás de algo para comer, não achei nada...
Deito novamente no chão, fecho meus olhos e imagino coisas boas, um mundo onde ninguém vai me machucar, pelo contrário, um mundo onde eles me amam, onde recebo o amor da minha mãe, onde tenho amigos...
É triste falar isso...
Deixo algumas lágrimas caírem, não me importava com mais nada, minha vida pra mim não significava mais nada... Eu morri mesmo estando viva...Adormeço novamente, torcendo pra não acordar mais....
Aí gente, mais um capítulo, o que tão achando? Tão gostando?Até a próxima gente, bjs de luz 😘