Escravas Brancas

IV

Sim. Desculpem feministas. Não posso negar que não pude evitar um gemidinho sutil de  perplexidade notando que, simultaneamente, minha mãe demonstrava algo semelhante. Nós duas estávamos boquiabertas. Fascinadas pelo touro reprodutor e sua enorme bazuca mortífera. Era por isso que ela aceitava ser tratada daquele jeito? Em sua perspectiva, tudo era recompensado com um presente de dimensões extraordinárias? A meus olhos tão inexperientes e ingênuos a humanidade se apresentava  extremamente contraditória e incompreensível. Tantos discursos inflamados em prol da paz e do amor, mesclados a atitudes que parecem buscar, num afã, os seus opostos. Chafurdando às cegas na  destruição de si próprio, dos outros e do planeta que nos acolhe. Eros e Thanatos numa guerra implacável e infinita que certamente seria inexplicável a uma forma de vida extraterrestre que usasse simplesmente da razão pra tentar nos analisar. E ainda temos a pachorra de nos rotular como seres racionais, éticos e progressistas. Sofisma imperdoável. Obviamente não era a primeira vez que aquilo ocorria, mas era a primeira vez que eu assistia e talvez minha perspectiva se refletia no comportamento que eu via nela. No entanto ela não parecia acostumada com
o que contemplava. E Marcos simplesmente saboreava o medo renovado na face da esposa. Aquilo pra ele era o maior dos elogios.  Certamente aquela mulher experiente, madura, mesmo sendo "cavala" como diziam era bem menor que seu algoz e irremediavelmente iria sofrer com o que estava por acontecer. Os tapas e humilhações constantes eram um preparativo, um preâmbulo para o ato sexual inevitavelmente violento e destrutivo? A delicada feminilidade de Camila seria dilacerada por aquele demônio de três pernas. O melhor seria fugir do lobo mau enquanto havia tempo! Mas, assim como a menina, a adulta também deveria estar paralisada, como num pesadelo canino.