Havíamos nos tornado, em sua perspectiva depravada, meros objetos, propriedades como um terreno ou uma cadeira. Reificação de seres obliterados. No espaço reservado a seus antropônimos jazia o inominável, o vazio, a eficiente ausência. "Nadas", "buracos" reduzidos minimamente ao possível prazer sensório que nossos corpos podem ou poderão lhe proporcionar em breve. "Burras", "escravas" eram seus adjetivos favoritos por serem degradantes o suficiente em seu louco horizonte. Xingamentos torpes eram constantes e recorrentes. E quando proferia tais ofensas nos exigia respostas instantâneas em voz mansa e aguda, com as cabeças baixas e posições servis: "Sim, Senhor! Não, Senhor!" Nossas necessidades e desejos, rotulados como piadas de mau gosto. Nenhum direito a opinião. Ele, e apenas ele, ditava completamente o rumo de nossas vidas.
Eu, catecúmena insipiente representava apenas um "projeto" e, pra me proteger, minha mãe se submetia às mais torpes provações.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Escravas Brancas
ChickLit"Uma reparação histórica" era como meu padrasto negro e de origem humilde definia sua conduta. Eu e minha mãe, loirinhas, branquinhas e de classe econômica média alta inicialmente o tínhamos como um Homem protetor, justo e educado. No entanto, aos p...