XIII

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Havíamos nos tornado, em sua perspectiva depravada, meros objetos, propriedades como um terreno ou uma cadeira. Reificação de seres obliterados. No espaço reservado a seus antropônimos jazia o inominável, o vazio, a eficiente ausência. "Nadas", "buracos" reduzidos minimamente ao possível prazer sensório que nossos corpos podem ou poderão lhe proporcionar em breve. "Burras", "escravas" eram seus adjetivos favoritos por serem degradantes o suficiente em seu louco horizonte. Xingamentos torpes eram constantes e recorrentes. E quando proferia tais ofensas nos exigia respostas instantâneas em voz mansa e aguda, com as cabeças baixas e posições servis: "Sim, Senhor! Não, Senhor!" Nossas necessidades e desejos, rotulados como piadas de mau gosto. Nenhum direito a opinião. Ele, e apenas ele, ditava completamente o rumo de nossas vidas.
Eu, catecúmena insipiente representava apenas um "projeto" e, pra me proteger, minha mãe se submetia às mais torpes provações.

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