[ ᴠɪᴄᴇɴᴛ ꜱɪɴᴄʟᴀɪʀ ]

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O silêncio da cidade abandonada de Ambrose era quase ensurdecedor. As folhas mortas espalhadas pelo chão rangiam suavemente ao toque do vento, e as fachadas desgastadas das lojas transmitiam uma sensação de desolação. O céu estava coberto por nuvens densas, bloqueando qualquer raio de sol que pudesse atravessar. [Nome] caminhava cautelosamente pelas ruas, sentindo-se observada a cada passo.

A viagem de carro tinha sido cansativa, e o plano inicial era passar apenas uma noite em Ambrose. Mas algo naquela cidade, na sua estranha quietude, prendeu [Nome] de uma forma que ela não conseguia explicar. Os irmãos Sinclair, Bo e Vincent, haviam sido os únicos habitantes que ela encontrara. Bo, com seu sorriso sarcástico e jeito suspeito, e Vincent, sempre escondido atrás de suas máscaras de cera, o rosto oculto por uma perfeição falsa e assustadora.

Havia algo em Vincent que intrigava [Nome]. O artista solitário que se escondia nas sombras, esculpindo seu mundo em cera, parecia mais uma criatura trágica do que um monstro. Enquanto Bo era abertamente ameaçador, Vincent exalava um misto de perigo e tristeza que fazia [Nome] questionar o que realmente se passava por trás de seus olhos. E talvez fosse essa a razão pela qual ela ainda estava ali.

O museu de cera, que Bo orgulhosamente mostrara a ela, era ao mesmo tempo fascinante e aterrorizante. Cada figura parecia viva, quase como se pudesse abrir os olhos e começar a falar a qualquer momento. [Nome] sentiu um arrepio subir pela espinha ao perceber que muitos dos manequins eram, de fato, pessoas que um dia tinham respirado, vivido... mas agora estavam eternamente congeladas em suas poses horríveis.

Vincent a observava de longe, escondido nas sombras do museu. Ele sabia que não deveria se aproximar. Bo sempre alertava sobre as consequências de se deixar levar por sentimentos humanos. Mas havia algo em [Nome] que o atraía, uma força invisível que o fazia querer conhecê-la, tocá-la... proteger ela daquele mundo cruel que ele mesmo ajudava a criar.

Ao cair da noite, o frio intenso de Ambrose começava a penetrar nos ossos de [Nome]. Ela decidiu procurar abrigo e, sem saber por que, seus passos a levaram de volta ao museu de cera. A porta estava entreaberta, como se estivesse esperando por ela. Ao entrar, o cheiro familiar de cera derretida e madeira velha a envolveu. As figuras de cera pareciam ainda mais assustadoras sob a luz tênue das velas.

Ela não estava sozinha.

Vincent estava ali, escondido nas sombras, mas desta vez não pôde resistir à tentação de se revelar. Ele saiu lentamente de trás de uma coluna, sua máscara refletindo a fraca luz das velas. [Nome] parou, o coração disparado. Seus olhos se encontraram com os de Vincent, e por um momento, o medo foi substituído por uma estranha conexão.

"Você... você fez tudo isso?", [Nome] sussurrou, gesticulando em direção às figuras de cera ao redor.

Vincent assentiu lentamente, sem dizer uma palavra. Ele não podia. Mas em sua mente, mil pensamentos fervilhavam. Ele queria explicar, queria mostrar a ela que, apesar de tudo, ele não era o monstro que Bo queria que ele fosse. Ele era um artista, um criador, um prisioneiro de sua própria dor e solidão.

[Nome] deu um passo à frente, sentindo uma mistura de fascínio e empatia. "Isso é incrível... assustador, mas incrível", ela murmurou, sem desviar os olhos da máscara de Vincent. Ela podia sentir que por trás daquela fachada fria havia algo mais, algo que clamava por ser revelado.

Vincent hesitou por um momento, mas então, com movimentos suaves, ele levantou a mão, oferecendo-a para [Nome]. Era um gesto simples, mas carregado de significado. Ele queria que ela o visse, que o entendesse. Que soubesse que, apesar de tudo, ele também era humano.

Tremendo ligeiramente, [Nome] aceitou a mão dele. O toque era estranho, mas não desagradável. Era como se, ao segurar a mão de Vincent, ela estivesse tocando em algo muito mais profundo – em uma alma ferida, escondida sob camadas de cera e máscaras.

E naquele breve momento, nas sombras do museu de cera, uma ligação silenciosa foi formada entre eles. Uma ligação que, apesar de tudo, talvez pudesse florescer em algo mais, algo que desafiaria as leis de Ambrose e as expectativas cruéis de Bo.

Os dias passaram devagar em Ambrose, e a presença de [Nome] na cidade começou a chamar a atenção dos irmãos Sinclair. Bo estava cada vez mais inquieto, tentando entender por que Vincent parecia tão fascinado por ela. O artista sempre fora reservado, mas agora, havia uma mudança sutil em seu comportamento – ele estava mais presente, mais atento.

Lester, o irmão mais jovem, era o único que parecia genuinamente curioso sobre a nova visitante. Ele era diferente de Bo e Vincent, menos sombrio, mas ainda assim um produto do ambiente em que cresceu. Seu papel na família era menos violento, mas ainda assim vital para manter o segredo de Ambrose intacto. Ele era quem trazia as vítimas, geralmente sem saber, até o museu de cera.

Uma tarde, enquanto explorava a periferia da cidade, [Nome] se deparou com Lester. Ele estava sentado em seu caminhão, mexendo em alguma coisa no motor, quando a viu. Seu sorriso era aberto e amigável, bem diferente da frieza de Bo e da introversão de Vincent.

"Ei! O que uma garota como você está fazendo por aqui?", perguntou ele, limpando as mãos em um pano sujo.

[Nome] sorriu, um pouco aliviada ao encontrar alguém que parecia mais acessível. "Apenas explorando... esta cidade é tão estranha e interessante ao mesmo tempo."

Lester deu uma risada leve. "É, Ambrose tem seus encantos. Mas, você deve ter cuidado por aqui. Nunca se sabe o que pode aparecer."

Eles conversaram por um tempo, e [Nome] logo percebeu que Lester era um homem simples, mas com uma bondade genuína. Ele parecia não compartilhar a mesma escuridão que dominava Bo e Vincent, ou talvez simplesmente soubesse escondê-la melhor. No entanto, conforme a conversa avançava, Lester começou a perceber o interesse de [Nome] em Vincent.

"Então, você conheceu meus irmãos?", perguntou ele, observando-a atentamente.

"Sim... Bo me mostrou o museu, e Vincent... bem, ele é mais reservado, mas é um artista incrível", respondeu ela, com um toque de admiração na voz.

Lester sorriu de um jeito que misturava compreensão e cautela. "Vincent é... complicado. Ele tem seus próprios demônios, mas ele é um bom homem, no fundo."

[Nome] assentiu, sentindo que havia muito mais por trás das palavras de Lester. "Eu quero conhecê-lo melhor, entender quem ele realmente é."

Lester a observou por um longo momento antes de finalmente responder. "Se você realmente quer conhecê-lo, precisa ser paciente. Vincent não é como os outros. Ele vive em um mundo que ele mesmo criou, mas talvez você possa ser a chave para abrir a porta."

Com essas palavras enigmáticas, Lester deu um tapinha amigável no ombro de [Nome] e se despediu. "Só não se esqueça de que Ambrose tem suas regras. E nem sempre elas são justas."

[Nome] ficou olhando enquanto Lester se afastava com seu caminhão. Suas palavras ecoavam em sua mente enquanto ela voltava ao museu de cera. Havia algo mais em Vincent, algo que ela sentia que precisava desvendar. E agora, com a ajuda de Lester, ela estava determinada a chegar ao coração daquele enigma silencioso.

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𓍱⠀﹏⠀ ᠌᠍᠍᠌᠎᠋᠎឵឴᠍᠍᠍᠌᠋᠎ᤧ 𖧷⠀🥀 「𝐈𝐌𝐀𝐆𝐈𝐍𝐄𝐒 - 𝐒𝐥𝐚𝐬𝐡𝐞𝐫𝐬」⠀☓ 𓈈⠀𓂂Onde histórias criam vida. Descubra agora