Capítulo 07 - No Limite do Desejo

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Acordo com o alarme disparando e o coração acelerado. Eu deveria ter desligado essa droga ontem. É meu dia de folga, raro e muito esperado. Depois de semanas atolada em plantões, minha chefe finalmente cedeu. Mas o descanso não é total; a cabeça ainda está no hospital. O garoto está se recuperando bem, melhor do que esperávamos. Apesar do tiro, escapou das piores sequelas.

Me jogo na cama, tentando dormir um pouco mais, mas não consigo. Lembro da minha amiga Carol e o convite para uma festa.  Eu hesitei, mas a ideia de sair um pouco venceu. Faz tanto tempo que não faço nada por mim.

 A noite chega, me visto e me arrumo, me sinto uma adolescente que vai sair à noite pela primeira vez. A maquiagem bem elaborada, o salto, o vestido modelando meu corpo. Encaro meu reflexo e sorrio com o que vejo. 21:00 horas em ponto minha amiga chega estacionando o carro na frente da minha residência.

— Caraca você está maravilhosa! — ela diz e apenas dou uma risada e entro no veículo.

Quando chego à festa, o som alto e a multidão me dão um nó no estômago. Já não estou acostumada com isso.

Tento me enturmar, mas logo fico à parte, só observando. A música estoura nos meus ouvidos, e o clima de alegria é quase estranho pra mim. Aceito um copo de cerveja que Carol me empurra, e aos poucos vou relaxando, deixando o ritmo me envolver. Mas a paz dura pouco.

Um grito corta a música. “Tiroteio!” Assim que ouço o caos se instala. Gente correndo, empurrando, tentando sair dali. Perco Carol de vista e entro em pânico. Tantas vozes, tantas mãos me empurrando. 

— Carol! — grito, sem resposta. Sinto alguém me puxar pelo braço, e me viro achando que é minha amiga, mas congelo quando percebo quem é. Nascimento.

— Vem comigo, você não pode ficar aqui. Disse ele. Fico ali parada sem reação. Ele me levanta e me coloca sobre os ombros como se eu fosse uma boneca. Me debato, soco suas costas, mas ele não solta.

— Me solta, Nascimento! Preciso encontrar minha amiga. — Falo desesperada.

— Você tem que sair daqui do meio do tiroteio, tá um inferno lá fora. Você não tá vendo o que tá acontecendo? Tem corpos espalhados por toda rua. 

Ele me coloca no chão finalmente, mas o barulho ainda está na minha cabeça. — Você andou bebendo doutora? — O homem pergunta, segurando meu braço quando tropeço.

— E se eu tivesse? Não é da sua conta. Aliás não quero que ninguém me veja com um policial que atira em crianças. — A provocação sai amarga.

— Para de falar merda, Gabriela. Eu jamais atiraria em um garoto. Você acredita em qualquer coisa que dizem? — Seu tom é grave, mas não consigo parar.

— Todo mundo tá falando. Você não se importa com ninguém! — grito, as palavras saindo mais pelo álcool do que pela razão.

Ele me empurra contra a viatura, segurando meu pescoço. — Cala a porra da boca. Não fui eu. Eu vi o garoto cair, tentei salvar ele. Os próprios traficantes atiraram para culpar a polícia. Eu tenho um filho de 13 anos. Não sou um monstro.

Fico sem palavras. Nascimento respira fundo, soltando o aperto e passa a mão pelos cabelos, tentando se acalmar. 

— Desculpa. Eu... — Tento encontrar as palavras, mas só sai isso. — Eu só quero ir pra casa, foi um erro ter vindo.

— Nem fodendo que você vai sair sozinha. Entra na viatura. — Ele ordena, e eu obedeço, sem forças para discutir mais. O caminho é um silêncio pesado, quase sufocante.

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