Capítulo 08 - À Mercê do Destino

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Assim que entro pela porta, jogo a bolsa em cima do sofá e procuro o celular. As mãos tremem enquanto disco o número da Carol. Cada segundo que passa sem ela atender faz meu coração martelar mais forte no peito. Finalmente, ela atende, e eu quase desabo de alívio.

— Gabi? Você tá bem? Pelo amor de Deus, onde você tá?

— Carol! Graças a Deus você tá viva — respiro fundo, tentando controlar a emoção. — Eu tô bem, consegui sair da laje quando os tiros começaram, mas te perdi de vista. Foi um inferno. — As lágrimas ameaçam cair, mas eu seguro.

— Eu sei, amiga. Desculpa, foi um caos. Diogo me puxou pra dentro de casa quando começou a confusão. Eu quis sair pra te procurar, mas ele me segurou, disse que era perigoso demais.

— Ele tava certo, Carol. Aquilo virou uma carnificina. O importante é que a gente tá bem. Só liguei para saber se estava bem, vai descansar, qualquer coisa me liga, tá? Te amo.

— Também te amo, Gabi. Desculpa por ter insistido pra você ir, eu só queria que a gente se divertisse e…

— Para com isso, ninguém sabia que o BOPE ia invadir. Relaxa, amanhã a gente se fala, tá bom? Vou tentar dormir, beijos. — Desligo, ainda sentindo a adrenalina.

O dia amanhece com uma chuva desgraçada. Ótimo, universo. Depois da noite de terror de ontem, agora o clima só piora as coisas. O hospital fica a quilômetros de casa, os ônibus estão de greve, e meu guarda-chuva decidiu quebrar na última vez que usei. É isso, só falta um meteoro cair na minha cabeça agora. Tomo um café correndo e um banho gelado pra acordar.

Caminhar oito quadras até o ponto de táxi parece uma missão impossível. A lama gruda nas botas e a jaqueta, que seguro sobre a cabeça, não protege direito meus óculos, que insistem em embaçar. A pasta escorrega das mãos e quase caio tentando segurá-la. Continuo andando e, pra completar, minhas roupas estavam encharcadas.

Meu estômago revira quando um carro diminui a velocidade do meu lado. Sério, só o que faltava agora era ser sequestrada. O carro continua me acompanhando e eu acelero o passo com o coração disparado. A buzina me faz pular de susto e deixar a jaqueta cair numa poça. Merda.

O vidro se abaixa e eu reconheço a voz. — Com medo de mim, doutora?

Semicerro os olhos, retirando  os óculos. — Nascimento? Tá maluco? Quase me matou de susto. — Ele abre a porta, e eu, sem pensar duas vezes, pego a jaqueta pingando e entro no carro.

— Foi mal, tô molhando todo o seu carro.

— Relaxa, doutora. Mas me diz, que ideia é essa de andar na chuva sem guarda-chuva? — Ele dá um sorrisinho, provocando e pisa no acelerador.

— Meu guarda-chuva quebrou e, antes que pergunte, nem tem táxi por aqui eu estava indo até o ponto mais “próximo”.

— Nem falei nada — ele responde, levantando uma mão em forma de rendição. — Mas sério, você precisa ser mais esperta. Ontem você tava bêbada, beleza, dá pra entender. Mas hoje... Se eu fosse um bandido mesmo, era fácil te pegar.

Sinto o rosto queimar de vergonha. — Podemos fingir que ontem nunca aconteceu?

— Como você quiser, doutora. — Ele ri de canto, enquanto eu volto a olhar pelo janela.

Minutos depois, percebo que algo tá errado. — Espera, a gente já passou do hospital. Pra onde você tá me levando?

— Nossa, quanta paranoia! Só tô te levando pro meu apartamento pra se secar. A menos que prefira chegar no trabalho toda molhada e arriscar uma pneumonia.

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