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Eu sempre conseguia o que queria.

Tanto que virei um dos melhores policias da academia, me esforcei o suficiente e alcancei o posto de Capitão do Batalhão de Forças Especiais. Quando dava alguma merda, era eu por quem eles corriam.

Se precisava de alguém para proteger o Papa, era Capitão Nascimento e seu Batalhão por quem chamava.

Minha vida toda foi dedicada somente ao meu duro trabalho, minha vida pessoal como Roberto foi muito simples: me formei, fiz faculdade e conheci minha namorada e casamos antes de tornar um policial. Não lembro de muitas coisas durante o tempo que eu era um policial comum, apenas lembro de passar noites em claros obcecado com meu trabalho e tentando alcançar meu atual posto a todo custo.

Não quero que me ache um merda por esquecer dessa parte, mas não lembro de muita coisa da minha vida pessoal nesse período. Apenas da minha esposa me ignorar quando chegava tarde, não falávamos muitos e isso me deixava irritado. Eu não tinha tempo para ligar com essas frescuras e apenas deixava isso tudo para depois, tudo que envolvia minha vida pessoal eu deixava para depois.

A birra de Roseana durou semanas, depois meses e parece que se arrastou por longos anos. Isso era completamente exaustivo dentro de casa, se ela estava de saco cheio de mim não era minha culpa. Sabia que meu maior desejo era sempre se tornar um cargo superior na BOPE.

E não tardou muito para que isso se tornou uma consequência de minhas ações.

Roseane pediu divórcio no dia qualquer; mandou no meu escritório, como se não fosse nada em um envelope.

Não me veja mal, mas eu surtei com aquilo. Roseane era minha esposa! Eu amava ela e queria construir uma família com ela, casar e ter filhos. Mas fiquei tão a mercê de meu trabalho que acabei deixando a coisa mais importante ir embora. Sei que errei, mas não havia nada que eu poderia fazer.

Suspirei cansado na cadeira, o advogado entregou os papéis para mim e Roseane assinou primeiro, estava decidida e pensei que iria desistir de última hora. Fui um idiota em pensar isso, essa porra não é um filme de romance.

— Roberto — ela chamou calmamente fazendo um nervo meu pulsar, como poderia está tão bem? Encarei ela e entregou a caneta. — Sua vez.

Apertei a caneta entre meus dedos, pensei em como tudo estava completamente acabado de vez com Roseane.

A gente teve uma vida juntos.

Assinei por fim, sentia uma raiva crescente em mim e queria poder descontar ela em qualquer coisa. No entanto, isso não seria a melhor opção.

Suspirei pesadamente novamente parecendo cansado, na verdade, estava derrotado. Encarei os documentos e deixei a caneta sobre a mesa fazendo um silêncio reinar sobre o espaço, o advogado pegou os documentos e olhou para nós como se falasse silenciosamente que estava tudo certo entre nós.

Minha ex-esposa se levantou primeiro, apertou a mão do homem e falou com ele. Me levantei em seguida e fiz o mesmo gesto, quando saímos juntos, Roseane me olhou com seus olhos transbordando seus piores sentimentos.

— Sinto muito, Roberto. — falou suavemente, com seu tom de voz triste e decepcionada fazendo meu estômago revirar. — É o melhor para nós dois.

As palavras simplesmente ficaram presas na minha garganta, queria poder gritar com ela, segurar seus ombros e perguntar por que estava fazendo isso comigo.

Encarei seu rosto querendo poder dizer algo, mas não consegui. Roseane beijou minha bochecha e disse adeus como se fosse a última vez.

Fiquei minutos parado ali como se ela fosse voltar e rasgar os papéis, e como esperando, isso não aconteceu. Bufei irritado e comecei a dirigir meu carro por toda cidade, estava com raiva e não queria voltar para casa que compartilhamos por uma eternidade.

A noite fiquei assim, dormir em um motel qualquer e fui para delegacia no dia seguinte. Todos os aspirantes sabiam como estava com meu humor e descontei muitas vezes neles, os meus colegas não resolveram questionar; apenas falaram o suficiente comigo e fiquei no meu escritório trancado lendo relatórios.

Um colega bateu na porta e mandei entrar, estava irritado e com raiva.

— Capitão, o Major Pinho mandou avisar o senhor e o restante do Batalhão que irá ter um encontro hoje a noite. — falou mantenho seu tom formal e forte, encarei ele e suspirei.

— O Batalhão já ficou sabendo?

— Sim. Faltava somente o senhor. — ele tremeu um pouco, estreitei meus olhos.  Pensei em questionar o do porque eu ser o último a saber, mas alguém deve ter alertado tarde demais sobre meu humor. Todavia, suspirei tentando manter a calma.

— Avise o Major que minha presença está confirmada essa noite. — disse por fim e o homem assentiu saído em seguida.

Não estava com muito humor para "festinhas", mas sei como é cheio de pessoas fluentes da polícia e do governo que seria impossível negar esse convite. Além de que será uma oportunidade perfeita para ficar bêbado no fim da noite.

No final do meu expediente, fui para minha casa e tentei ignorar a sensação que fiquei ao olhar para os cantos da casa e não ver Roseane. Tomei um banho, vesti minha roupa formal e comi algo rapidamente.

Não demorei para chegar no local, estava de saco cheio e tentei disfarçar meu rosto que não parecia nada amigável. Quando adentrei, dei de cara com Major e um delegado que não lembrava de qual departamento era, apenas seu rosto era um pouco familiar.

Bebi um pouco, Major começou falar de seu começo na carreira e escutei com atenção enquanto tentava não pensar na minha vida de merda.

Tinha perdido minha esposa e afundei no meu trabalho que tanto queria, eu deveria ter feito algo por Roseane... Lutando mais. Não deixado nosso casamento de anos e anos acabar dessa forma, eu tinha a certeza de era a mulher que queria na minha vida e... Ter filhos com ela. Uma completa família e viver nossa vida como sempre imaginávamos.

Me sentia miserável, não lembrava quando foi a última vez que sentir assim, talvez quando meu pai morreu ou quando terminei com algumas ex-namoradas. Estava feliz com a vida que estava levando nos últimos meses.

Suspirei um pouco. Quem eu estava querendo enganar? Não era nada assim, Roseane sempre alertou que fiquei distante dela nos últimos tempos. Tentei lembrar de quando beijamos ou saímos para jantar aproveitando de nosso momento juntos... Uma culpa se instalou no meu peito, fiquei tenso e quis descontar minha própria burrice em mim mesmo.

Fui um estúpido e burro por não enxergar o que deixei ir embora.

Pedir licença para Major e sair antes que pudesse completar uma frase, procurei por bebidas e comecei beber enquanto pensei no meu casamento. Me sentia mal a cada dose tomada, queria ir até Roseane e implorar aos seus pés.

Parei de beber quando percebo que não seria melhor opção, isso é a droga de uma reunião de trabalho. Bufei irritado comigo mesmo, fui no banheiro tentar me recompor e procurei por Major.

Ele estava no outro lado de aonde estávamos, fui até o homem e percebi que estava o Tenente acompanhando de uma mulher. Ambos de costas na direção que eu caminhava, tentei não transparecer meu semblante irritado e aproximei deles. Minha cabeça estava começando a ficar pesada de tanto pensar merda. 

Foi quando aproximei quando escutei aquela risada.

Eu conhecia aquela risada.

E eu... poderia reconhecer após tantos anos.

taste | capitão nascimento Onde histórias criam vida. Descubra agora