Curiosidade

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Jardel olhou para o celular enquanto esperava o sinal abrir, desanimado com a quantidade de carros ao seu redor que fazia o transito circular mais devagar, o passageiro no banco traseiro já demonstrava impaciência com a demora, o homem estava atrasado para uma reunião no centro da cidade.

Jardel guardou o aparelho e começou a sair com o carro, ele informou que sairia da avenida para circular por uma rua paralela, assim eles chegariam antes do previsto, o homem concordou e então foram, apesar da rua escolhida também haver movimento, o carro circulou com maior facilidade e por fim, economizou um bom tempo no trajeto.

40 reais, todo aquele trabalho por apenas 40 reais...

Jardel agradeceu ao homem e seguiu em frente, parou minutos depois em uma lanchonete e pediu um misto quente e uma garrafa de água, tinha que economizar, ele sabia que depois do Uber e do 99 se tornarem aplicativos populares, os serviços de taxis haviam caído bastante.

Antes o seu faturamento era bom, às vezes excelente, Jardel conseguia faturar por dia 200 reais, até 350 reais dependo do clima e das corridas que pegava, ele tirava um valor do faturamento para gastos com o combustível e manutenção do veiculo e ainda lhe sobrava o suficiente para manter a casa.

Pai de três meninas, todas pequenas, Jamila com 4 anos, Greyce com 3 anos e a bebê Jaqueline com 1 ano, sua mulher, Graça, ajudava na renda da casa vendendo salgados caseiros, não era lucrativo, mas o dinheiro era bem vindo àquela casa.

Jardel terminou o lanche e voltou a trabalhar, conseguiu fazer mais duas corridas antes de voltar pra casa. Ao abrir a porta, foi recepcionado por duas garotinhas brincalhonas, ele abraçou as filhas e foi ter-se com a esposa na cozinha, Graça alimentava a bebê enquanto terminava o jantar.

Eles conversaram um pouco e depois de um banho quente, Jardel sentou-se a mesa com as mulheres de sua vida, em seu prato estava uma boa quantidade de arroz e feijão, salada de alface e um ovo estalado, ele comeu com gosto, não era nenhuma carne, contudo era alguma coisa.

Quando terminou a refeição, ele levou as meninas pra sala e ligou a televisão em um desenho animado e retornou para a cozinha onde a mulher acabava de lar a louça, conversaram um pouco antes de se recolherem para o próximo dia.

Graça sentia pena do marido, ela sabia o quanto estava sendo difícil pra ele bancar tudo, todas as noites ela pedia em oração por uma intervenção divina, pedia com fé para que Deus ajudasse a sua família a ter um futuro melhor e agradecia por não faltar nada na mesa.

E em todas as manhãs Jardel tomava um café quente, acendia um cigarro e via o jornal na televisão, colocava alguns trocados em cima da mesa para a mulher comprar alguns mantimentos e saia.

Às seis horas entrava no carro e se dirigia ao primeiro ponto de taxi esperando por um passageiro, se tivesse sorte faria a primeira corrida até as sete horas, às oito horas conseguiria um segundo passageiro e outro às dez, porém mais uma vez não foi assim, atendeu o telefone do ponto às 7:30 horas e depois de uma breve corrida voltou, conseguiu uma segunda corrida por volta do meio-dia e nada mais.

Era quase 20 horas quando um colega de Jardel atendeu o telefone e repassou a ele uma corrida.

Jardel seguiu até o endereço e pegou o passageiro, um homem bem vestido que carregava consigo uma grande mala de viagens e uma maleta metálica fechada com senha, olhando pelo retrovisor, ele podia jurar que o homem não desgrudava os olhos dele:

- Boa noite! Pra onde o senhor deseja ir? – Jardel perguntou enquanto ligava o taxímetro.

- Boa noite! Me leve até o aeroporto sim – Pigarreou – Seja breve.

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