Distraído e andando pela rua, Diego mal reparou que estava avançando pelo sinal de pare até um carro frear bruscamente e apertando diversas vezes a buzina o chamou a atenção, o motorista lhe ofendendo de diversos nomes.
Diego o olhou indiferente e continuou caminhando pela rua atrapalhando o transito, o homem vendo isso estacionou o veiculo de qualquer maneira e foi ter-se com ele, antes que pudesse dizer uma palavra ao menos, Diego tirou da cintura uma arma e mirou em sua cabeça. Bum...
As pessoas horrorizadas com a cena pegaram os seus aparelhos celulares e ligaram, alguns para a policia e alguns para a emergência, mas fora um tiro certeiro e uma morte instantânea.
Diego apenas continuou caminhando...
Chegou em casa a noite, colocou a arma na mesa e retirando as roupas foi tomar um banho quente, apesar do sol que se fazia, o dia foi frio, o vento totalmente gelado.
Depois do banho, ele vestiu um hobby e preparou um café forte e amargo, acendeu um cigarro, ligou a TV e sentou-se no sofá, na reportagem mais um caso de assassinato, ele se entristeceu, mas nada disse.
Ficou algumas horas se entretendo com alguns programas que passaram, ligou para uma pizzaria e pediu uma pizza metade pepperoni, metade calabresa.
Mais um cigarro, mais um gole de café...
A vizinha resolveu aparecer para lhe pedir açúcar, ele emprestou mesmo sabendo que não receberia o produto de volta, então ouviu a buzina do motoboy e pegou a carteira, uma nota de 50 reais, Diego pagou a encomenda e voltou a se trancar em casa.
Comeu duas fatias de cada sabor e o restante jogou para o cachorro, Max adorou a refeição, após comer, o cachorro foi deitar-se na caminha que tinha no quarto de Diego.
Mais algumas horas em frente a TV e uma noite tranqüila de sono, o dia havia sido uma mistura de realidade e ilusão, lembrava perfeitamente de ter atirado, lembrava perfeitamente de tudo, mas não se importava com aquilo, um ser humano a mais ou a menos não faria diferença alguma no mundo, já que todos estavam condenados.
O dia seguinte mal havia começado, Diego levantou-se, tomou um banho, vestiu um terno caro e bonito, a bíblia em baixo do braço, o cabelo penteado a escovinha, preparou o melhor sorriso e colocou a arma no coldre, hora de rezar pelos pecadores!
Ouviu o sermão do pastor, cumprimentou alguns fieis que eram os seus amigos e depois de um tempo foi embora da congregação, pegou a van estacionada na garagem da igreja e se dirigiu há algumas casas, buscou as crianças para levá-las ao colégio, os jovens para a faculdade publica do município e os idosos para um passeio não tão distante.
Mais uma tarde fria, mais uma tarde solitária, Diego dirigiu até uma rua deserta e parou no sinal vermelho e batucou no volante o som de um louvor que amava, um homem que estava cruzando a pista reparou em suas roupas e na janela aberta, parou diante da mesma e com um revolver falso anunciou o assalto, Diego percebeu que a arma era falsa e mandou o cara atirar.
O homem não pode fazê-lo...
Diego puxou o revolver e mirou, o assaltante saiu apressado, tropeçando em desesperado, não queria morrer, porém não teve chances, um tiro e sua visão ficou negra, sua respiração se encurtou até não existir mais.
Diego aumentou o volume do som e continuou dirigindo deixando um corpo ensangüentado pra trás...
A noite fez as contas de quantos parasitas havia abatido, naquela semana foram somente cinco, no mês vinte e sete, se continuasse dessa maneira bateria um recorde.
Checou as balas no revolver e repôs uma quantidade, matar em nome de seu deus que não perdoa os pecadores, ele não se via uma testemunha de milagres, ele fazia os milagres enquanto distorcia em sua mente doentia palavras proféticas dos testamentos da bíblia, orava todas as manhãs para uma iluminação divina enquanto transmitia as famílias dor e sofrimento, dava à elas porquês sem respostas.
O pastor, seu amigo de infância o ouvia sempre, aconselhando Diego a seguir o caminho certo sem nem ao menos saber a verdade que havia por trás de seu jeito discreto, quase introvertido.
A policia estava à procura de um assassino em série que matava aleatoriamente, as perfurações nos crânios mostravam um atirador de elite e a balística acusava o mesmo tipo de arma, aos poucos introduziam a lista que era enorme os nomes de ex-militares.
O delegado Manoel Estevão foi designado pelo governador para estudar e concluir o caso o mais brevemente possível e assim o homem o fez.
Passados mais alguns dias, Diego reparou em um carro preto estacionado de frente a sua casa, quando ele saiu o mesmo carro o seguiu por todo o caminho, quando voltou o carro estacionou na posição de antes.
Amadores, Diego pensou.
Diego guardou a arma entre os tijolos falsos que enfeitavam a sala de estar e durante a semana seguinte tentou dissimular ser apenas um homem de deus e não o justiceiro, mão direita do senhor.
Isso confundiu os investigadores que seguiram em outra linha de investigação, quase desistindo do suspeito...
Mas Diego não conseguia mais fingir, a idéia de não estar fazendo justiça o corroia, ouvia atentamente as irmãs da igreja falando sobre os pecados alheios e tinha que se recolher a insignificância de apenas testemunhar as palavras.
Diego não era um homem de palavras, pra isso já tinham um pastor e ele era um homem de ação!
Era véspera de Natal e o shopping Center estava lotado de famílias consumidas pela Capitalismo, Diego retirou a arma do esconderijo e foi até o local, viu um velho sentado numa poltrona vermelha com as roupas de cor igual, a raiva o invadiu assim que deparou com a fila de crianças que pediam aos pais presentes, assim como também pedia ao bom velhinho.
Ninguém parecia recordar o que aquele dia significava realmente, todos só estavam atrás de coisas fúteis e irrelevantes.
Diego tirou o resolver e mirou no papai Noel, o homem não viu ou mal ouviu o disparo, o sangue jorrou pela decoração de luzes e caiu desfalecido no chão, crianças correrão assustadas, algumas segurando as mãos dos pais, outras perdidas na muvuca.
Mais tiros... Uma mulher que encarou o atirador toda pintada e de roupas curtas, dois seguranças que falavam pelo rádio HT com a central do shopping, um idoso que se jogou na frente da neta de seis anos de idade...
A policia cercou o lugar em poucos minutos e o delegado Estevão entrou com seis guardas no recinto, armados e vestidos com coletes a prova de balas.
Mesmo depois de um policial ser morto, o delegado conseguiu efetuar a prisão de Diego, o assassino estava sem balas no revolver...
Meses depois ainda podia ouvir os gritos dos presidiários, Diego era perigoso demais para conviver com os outros, um ciclo de violência continuada se instalara no presídio qual fora enviado, vários criminosos haviam sido assassinados, tudo em nome da mão direita de deus...
Um deus que não perdoa... O deus que Diego distorceu em sua mente conturbada!
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O Sombrio
Short StoryConjunto de várias histórias com enredos simples, algumas comoventes... Outras nem tanto!