Capítulo 4: A Descoberta

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Mesmo depois que May finalmente saiu do quarto, o garoto permaneceu acordado, tremendo sob os cobertores. As palavras dela ainda ecoavam em sua mente, misturadas com a dor física e emocional que ele carregava todos os dias. Ele estava se quebrando, mas ainda assim, não sabia como pedir ajuda.

Na manhã seguinte, Peter se arrastou para fora da cama, esgotado e com medo. Ele sabia que precisava manter as aparências, então se vestiu e saiu para a escola, mesmo que cada passo parecesse um esforço insuportável. Mais uma vez, ele se forçou a seguir a rotina, tentando ignorar o peso que o oprimia.

Durante o dia, ele se pegou perdido em pensamentos, mal prestando atenção nas aulas. Os momentos no laboratório com Tony eram as únicas coisas que ele ainda aguardava com ansiedade, mas agora, até mesmo isso estava sendo manchado pelas suspeitas do seu mentor.

Peter estava sentado em um canto do laboratório, perdido em pensamentos enquanto observava Tony ajustar uma das luvas do traje. Ele tentava manter a concentração no que Tony dizia sobre as melhorias na tecnologia, mas sua mente continuava a voltar aos acontecimentos recentes em casa. A dor física e emocional que vinha suportando por tanto tempo estava se tornando insuportável, e ele sabia que não poderia continuar assim por muito mais tempo.

Tony, enquanto trabalhava, não conseguia tirar os olhos de Peter. Ele notou a tensão no garoto, as olheiras profundas que traíam noites de sono inquieto, e principalmente, as marcas que agora pareciam se multiplicar. Aquelas que não poderiam ser justificadas por simples patrulhas. Tony sabia que havia algo mais, algo que Peter estava escondendo, e isso o estava consumindo por dentro.

-Peter.- Tony chamou, tentando não soar tão preocupado quanto realmente estava.

-Me passa aquele calibrador, por favor.

Peter rapidamente se levantou e entregou o item a Tony, tentando não encontrar o olhar dele.

-Valeu, garoto. Você parece cansado, algo está acontecendo?

Peter engoliu em seco, suas mãos começaram a tremer levemente enquanto ele tentava formular uma resposta convincente.

-Ah... é só a escola e... as patrulhas. Tem sido meio difícil manter tudo em equilíbrio.

Tony parou o que estava fazendo e se virou para encarar Peter.

-Eu já te disse, se precisar de ajuda com qualquer coisa, pode me falar. E não estou falando só de coisas relacionadas ao Homem-Aranha.

Peter assentiu, mas não disse nada. O silêncio entre os dois era palpável, cheio de coisas não ditas. Finalmente, Tony suspirou, sentindo que aquele não era o momento para pressioná-lo. Ele voltou ao trabalho, mas não podia ignorar a preocupação que sentia por Peter.

[...]

Mais tarde, naquele mesmo dia, enquanto Peter estava na enfermaria da Torre Stark fazendo exames de rotina após um pequeno acidente durante uma patrulha, Tony entrou na sala. Ele estava conversando com Bruce Banner sobre alguns detalhes do traje quando seus olhos caíram novamente sobre o corpo de Peter. Dessa vez, Peter estava sem camisa, apenas com um calção, e as marcas eram inegáveis: hematomas nas costelas, arranhões nos braços, e, mais alarmante, outra marca de mordida no pescoço, visível e recente.

Tony congelou por um momento, uma raiva fria começando a ferver dentro dele. Ele não disse nada na hora, mas as engrenagens em sua mente começaram a girar. Quando saíram da enfermaria e voltaram ao laboratório, Tony decidiu que era hora de falar.

-Peter, precisamos conversar.- Tony disse, sua voz firme mas com um toque de preocupação que ele não conseguiu disfarçar.

Peter parou o que estava fazendo, seu coração batendo acelerado. Ele sabia que esse momento chegaria, mas não estava preparado para isso.

-Sobre o que, Sr. Stark?

Tony respirou fundo, tentando manter a calma.

-Eu vi as marcas, Peter. No seu pescoço, nos seus braços... no seu corpo. Não são de patrulhas, não são de brigas com bandidos.

Peter sentiu o chão desabar sob seus pés. Ele sabia que não poderia continuar mentindo, mas a ideia de contar a verdade era aterrorizante.

-Eu... Eu não sei o que você quer dizer.

-Peter, por favor.- Tony disse, a voz mais suave, mas cheia de preocupação.

-Você pode confiar em mim. Eu só quero ajudar.

Os olhos de Peter começaram a encher de lágrimas. Ele estava tão cansado de manter tudo dentro de si, mas o medo ainda o segurava.

-Eu... eu não posso falar sobre isso, Sr. Stark. Por favor, não me faça falar.

Tony deu um passo à frente, estendendo a mão para o ombro de Peter.

-Você não precisa fazer isso sozinho, Peter. O que quer que esteja acontecendo, nós podemos resolver juntos.

Peter fechou os olhos, tentando impedir que as lágrimas caíssem, mas foi em vão. Ele balançou a cabeça, sentindo o desespero aumentar.

-Eu... não sei como...

Tony puxou uma cadeira e fez Peter sentar, ajoelhando-se na frente dele para ficar na mesma altura do garoto.

-Está tudo bem, Peter. Eu estou aqui. Mas você precisa confiar em mim, ok? Confie em mim o suficiente para me dizer o que está acontecendo.

A luta interna dentro de Peter foi quase visível. Ele mordeu o lábio, as lágrimas finalmente escorrendo por seu rosto. Finalmente, com a voz quase inaudível, ele sussurrou:

-Ela... ela me machuca, Sr. Stark. May... ela... faz coisas que me assustam.

Tony sentiu um frio correr pela espinha. Ele não queria acreditar no que estava ouvindo, mas as palavras de Peter confirmaram o que ele temia.

-Ela machuca você? Como assim, Peter?

Peter não conseguiu segurar mais. As palavras saíram em um fluxo, como se ele estivesse finalmente liberando tudo que tinha guardado por tanto tempo.

-Ela... ela me bate. E... faz coisas... coisas horríveis. E eu não posso escapar. Eu não posso fugir, Sr. Stark.

O mundo de Tony pareceu parar por um momento. A ideia de que alguém, muito menos alguém da família de Peter, pudesse estar abusando dele dessa forma era insuportável. O sangue de Tony ferveu de raiva, mas ele sabia que precisava ser forte por Peter agora.

-Peter, eu... eu não posso acreditar que você tenha passado por isso sozinho. Você nunca deveria ter passado por isso. Eu... eu vou cuidar disso. Eu prometo. Você nunca mais vai precisar voltar para aquele lugar.

Peter olhou para Tony, seus olhos cheios de desespero e gratidão. Ele não sabia se podia acreditar que as coisas realmente mudariam, mas, naquele momento, ele se agarrou à promessa de Tony como a única esperança que lhe restava.

Tony puxou Peter para um abraço apertado, sentindo o garoto tremer em seus braços. Ele sabia que, a partir daquele momento, faria tudo ao seu alcance para proteger Peter. May Parker pagaria por cada segundo de dor que havia causado, e Peter finalmente estaria seguro.

My little avenger - irondad & spiderson Onde histórias criam vida. Descubra agora