Capítulo 7: Cicatrizes invisíveis

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Peter acordou naquela manhã com uma mistura de empolgação e nervosismo. Desde que começou a morar na Torre dos Vingadores, ele sempre se sentia desafiado e, ao mesmo tempo, protegido. Agora, com Tony como uma figura paterna em sua vida, ele estava determinado a se tornar o melhor herói que pudesse ser. E quando Natasha e Steve o convidaram para um treino especial, ele se sentiu honrado e animado para mostrar do que era capaz.

O treino começou com uma série de exercícios físicos. Steve liderava, empurrando Peter para testar seus limites, enquanto Natasha observava com seu olhar afiado, corrigindo pequenas falhas na técnica do garoto. Eles estavam impressionados com a habilidade natural de Peter, sua velocidade e reflexos eram extraordinários, e ambos sabiam que ele tinha o potencial para ser um dos maiores heróis de todos os tempos.

-Está mandando muito bem, Parker!- Steve exclamou, enquanto eles passavam para a próxima fase do treino.- Agora, vamos trabalhar no combate corpo a corpo.

Natasha sorriu para Peter, assumindo uma posição de luta. Peter a observou atentamente, admirando sua postura e foco. Ele sabia que Natasha era uma das melhores lutadoras do mundo, e isso o deixava um pouco nervoso, mas ao mesmo tempo, ele estava determinado a provar seu valor.

-Vamos lá, garoto-aranha.- Ela brincou, gesticulando para que ele se aproximasse.

Peter avançou, e o treino continuou de forma fluida e intensa. Ele estava fazendo tudo ao seu alcance para acompanhar Natasha e Steve, mas a experiência dos dois era inigualável. O ambiente da sala de treino era envolvente, com o som das pancadas, passos rápidos e a respiração controlada de cada um ecoando nas paredes. Steve o observava atentamente, oferecendo dicas ocasionais, enquanto Natasha testava os limites do garoto com precisão.

Tudo parecia estar indo bem. Peter se sentia confiante, seus movimentos eram ágeis e seus reflexos, impecáveis. Mas então, em uma tentativa de imobilizá-lo, Natasha agarrou os pulsos de Peter em um movimento rápido. Foi nesse momento que tudo desmoronou.

De repente, Peter foi lançado de volta para um lugar escuro dentro de sua mente. O aperto nos pulsos, a sensação de impotência, trouxe à tona as lembranças dolorosas dos abusos que sofrera nas mãos de May. Seus olhos se arregalaram, e ele começou a respirar de forma descontrolada. A imagem de Natasha se desfez, substituída pela de sua tia, a dor física e emocional inundando sua mente. O som da voz suave de Natasha se misturou à voz autoritária de May em sua mente, confundindo seus sentidos e provocando uma onda de pânico.

-Não! Por favor, pare!- Peter gritou, sua voz quebrada pela dor e pelo medo, enquanto lágrimas começavam a rolar por seu rosto. Ele lutou para se soltar, seu corpo tremendo e sua mente presa no pânico. -Não me machuque, por favor!

Natasha imediatamente soltou os pulsos de Peter, chocada e sem saber o que fazer. Steve, que estava por perto, se aproximou rapidamente, tentando acalmar o garoto, mas sem sucesso. O grito de Peter ecoou pelo corredor, alcançando até o laboratório onde Tony e Bruce estavam trabalhando.

Tony congelou ao ouvir o grito, reconhecendo imediatamente a voz de Peter. Sem pensar duas vezes, ele saiu correndo, deixando Bruce confuso, mas logo o seguindo. Quando Tony entrou na sala de treinamento, a cena que encontrou o deixou com o coração apertado. Peter estava encolhido no chão, tremendo e chorando, enquanto Natasha e Steve estavam paralisados, sem saber como reagir.

-Peter...- Tony chamou suavemente, aproximando-se do garoto. Sua voz, geralmente carregada de sarcasmo e confiança, agora era doce e suave, carregada de preocupação.

Ele se ajoelhou ao lado de Peter, estendendo os braços com cuidado. O garoto estava tão perdido em seu próprio pânico que não conseguia falar, suas palavras se prendendo na garganta enquanto sua respiração acelerava perigosamente. Tony reconheceu os sinais imediatamente — Peter estava à beira de uma crise de ansiedade severa.

Sem hesitar, Tony puxou Peter para seu colo, segurando-o firmemente, mas com gentileza. Ele encostou a cabeça do garoto em seu peito, próximo ao reator arc, permitindo que Peter ouvisse o pulsar constante do dispositivo, algo que ele sabia ser reconfortante.

-Respira, garoto...- Tony murmurou, sua voz suave enquanto fazia círculos calmantes nas costas de Peter. -Estou aqui. Você está seguro. Está tudo bem, Peter. Respira comigo, só ouve o meu coração, tudo vai ficar bem.

Enquanto Tony continuava a falar suavemente, Peter gradualmente começou a voltar à realidade. Ele ainda tremia, mas sua respiração estava lentamente se estabilizando. As lágrimas continuavam a escorrer por seu rosto, e ele apertava os olhos, como se estivesse tentando afastar as imagens que ainda o assombravam. Tony sabia que Peter precisava de mais tempo, então ele não forçou o garoto a falar, apenas continuou a segurá-lo, oferecendo o conforto que ele precisava.

Natasha e Steve se entreolharam, visivelmente abalados pelo que haviam presenciado. Natasha se culpava por não ter percebido os gatilhos de Peter, enquanto Steve se perguntava como poderiam ter deixado isso acontecer. A ideia de que algo tão terrível poderia estar escondido por trás do sorriso inocente e da natureza gentil de Peter era devastadora.

Tony olhou para os dois, percebendo a culpa em seus rostos.

-O que aconteceu?- Tony perguntou em um tom baixo, mas firme, sem qualquer acusação, mas cheio de preocupação.

Natasha deu um passo à frente, seus olhos refletindo a culpa que ela sentia.

-Eu... Eu não sei. Estávamos apenas treinando, e... eu agarrei os pulsos dele, e ele simplesmente...- A voz dela falhou, claramente abalada pelo que havia ocorrido.

-Foi como se ele tivesse sido transportado para outro lugar...- Steve completou, a expressão grave. -Ele começou a gritar, a implorar pra parar... e não sabíamos o que fazer.

Tony assentiu, fechando os olhos por um momento, sentindo a dor de Peter como se fosse sua própria. Ele sabia que o passado de Peter estava cheio de cicatrizes, e agora aquelas cicatrizes estavam se abrindo, revelando a extensão do trauma que o garoto ainda carregava.

-Ele vai ficar bem.- Tony disse, mais para ele mesmo do que para os outros. -Só... me deem um minuto com ele.

Natasha e Steve assentiram, recuando um pouco, enquanto Tony continuava a consolar Peter, que começava a se acalmar lentamente, as lágrimas secando, mas o medo ainda visível em seus olhos.

Tony respirou fundo, tentando manter a calma para que Peter pudesse se espelhar nele. Ele não queria pressionar o garoto a falar antes de estar pronto, mas sabia que precisavam lidar com isso.

-Estou aqui, Peter.- Tony repetiu, segurando o garoto com firmeza. -E eu nunca vou deixar ninguém te machucar de novo.

Peter, ainda encostado no peito de Tony, começou a se acalmar mais, mas o peso do que havia acontecido ainda pairava no ar. Tony olhou para os adultos presentes, suas expressões de preocupação se intensificando.

-Eu quero que todos nós nos reunamos depois disso. Precisamos conversar sobre como vamos lidar com isso daqui para frente.- Tony disse, sua voz carregada de seriedade. -Peter não pode carregar isso sozinho, e eu também não posso.

Natasha e Steve assentiram, suas expressões mostrando determinação. Eles sabiam que tinham que estar lá para Peter, não apenas como colegas de equipe, mas como família.

Depois de alguns minutos, quando Peter finalmente se acalmou, Tony o ajudou a se levantar e guiou-o para fora da sala de treinamento. Enquanto saíam, Tony fez uma promessa silenciosa a si mesmo: faria de tudo para proteger Peter, não importava o que fosse preciso.

My little avenger - irondad & spiderson Onde histórias criam vida. Descubra agora