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Zara

Minha mãe colhia frutos e folhas pra fazer nosso almoço, papai trouxe um porco do mato pra mamãe cozinhar. Babooe tinha terminado de fazer a constelação no chão de areia do círculo de treinamento, ele era romântico, dizia que gostava tanto das estrelas que quando treinava comigo ou o papai em cima de seus desenhos ele se sentia entre as estrelas e era uma honraria lutar pelas estrelas. O cabelo dele tá uma desgraça.

— Babooe?

— Fala maninha? — Disse ele dando uma cambalhota no ar e caindo e pisando entre as linhas traçadas.

— Vou arrumar seu cabelo.

— Relaxa, ninguém vai ver mesmo.

— Nunca se sabe quando vai encontrar a menina sem cor, quer que ela o veja nesse estado deplorável? — Aticei-o.

Babooe revirou os olhos e comemorei, eu sempre consigo o que quero.

— Ok, mas é só por causa do que você falou.

Fomos pra baixo da árvore que ele usa como cama desde que chegamos aqui. Eu amo fazer o cabelo dos meus irmãos, peguei a adaga da minha cintura e comecei a raspar a lateral da cabeça dele fazendo desenhos do costume da nossa ilha.

— Estou com saudades do mar! — Comentei.

— Eu estou com saudade de tudo, de nossa casa, das comidas, nossas roupas. . .

Babooe suspirou.

— Um dia ainda vamos voltar.

— Voltar pra onde?

— Aí pai, que susto!

Ele riu de nós, até ver a cabeça do meu irmão sangrando.

— Deuses! — Saltei usando a minha saia pra limpar.

— Não foi nada, nem ardeu.

Papai virou seu cantil na cabeça dele o fazendo rir.

— Para pai, não foi nada.

Segurei a cabeça dele e realmente tinha sido apenas um filetinho de pele. Dei um beijo na cabeça do meu irmão. Cheia de remorso.

— Desculpem, não imaginei que estava com uma adaga na cabeça do seu irmão.

— Está tudo bem! — Repetiu Babooe. — Vamos, Zara termine de me deixar bonitão.

— Não responderam minha pergunta.

— Estávamos falando de nossa casa, estamos com saudades. . .

— Sim, nós também, mas não podemos arriscar a vida de vocês.

— E vamos fugir pra sempre?

— Pelo menos até vocês terem idade pra se casarem e se espalharem.

— Como assim?

— Não quero deixar minhas irmãs! — Saltou Babooe.

— Vocês já estão moços o suficiente pra saber das coisas, e uma delas é que nosso sangue precisa continuar, se voltarmos morrerão.

— Por quê?

— Só confie em mim.

— Pai, se estamos moços o suficiente pra saber das coisas, precisamos saber o porque estamos fugindo a tanto tempo, por que está nos transformando em guerreiros? — Insisti.

— Zara. . . — Ele suspirou, mas quando eu queria conseguia ser mais persuasiva que minha mãe. — Não me olhe assim, parece sua mãe. . . Certo, sentem, vamos conversar.

A rainha de OkanOnde histórias criam vida. Descubra agora