Babooe
Enfrentei mais de 30 homens, com minhas espadas e as espadas dos próprios quando perdi as minhas, tudo o que eu queria era alcançar minhas irmãs que fugiam com homens atrás de ambas. A raiva que queimava dentro de mim era o combustível que eu precisava para matar todos aqueles que estavam envolvidos no massacre de meus pais. Homens caiam por onde eu passava, e eu caminhava sobre seu sangue e corpos tentando alcançar minhas irmãs e então cheguei ao topo da colina onde seis homens estavam enterrados até as cinturas na terra, tentando cavar com as próprias mãos. Acabei com cada um. Tentei seguir o rastro, mas minhas irmãs eram inteligentes o suficiente para não deixar suas pegadas. Voltei aos meus pais e ali estavam os dois dormindo eternamente abraçados sob a luz das estrelas. Chorei enquanto me levantava e peguei um galho ainda aceso da fogueira e comecei a passar pelo colchão deles.
— Não é o funeral que vocês merecem, mas é o que posso lhes oferecer no momento para que descansem em paz e nos guiem de onde estiverem.
Minha raiva tinha se extinguido e o cansaço começava a me pegar quando vi tochas vindo ao meu encontro e eu sabia que se lutasse agora, morreria, então corri floresta adentro. Sempre seguido e sempre sendo pego e eu acabava matando e fugindo, eles pareciam lobos e uma matilha que nunca tinha fim, acabei apenas com meus punhos para me defender, minhas pernas não tinham mais velocidade o suficiente quando amanheceu, e eu os sentia cada vez mais perto. Eu não quero morrer sem antes conhecer a menina sem cor, mas onde eu a encontraria? Acho que agora é melhor focar em me salvar e depois procurar minhas irmãs.
— Aí garoto?!
— Pare de se esconder, vai ter o mesmo fim das suas irmãs!
Tentei correr o mais silencioso possível, eu estava chegando ao ponto final da minha resistência, mas ainda conseguia sentir as coisas à minha volta, alguém ou algo corria ao meu lado, um macaco curioso talvez, porque as vezes saia do chão, mas me acompanhava enquanto três brutamontes ainda me perseguiam. Não vou cair sem lutar, não quero morrer hoje. E antes que a exaustão me pegasse de jeito parei para fazer meu último pedido a qualquer Deus que pudesse me ouvir e me preparei lembrando de cada ensinamento de meu pai. Por alguns segundos voltei no tempo.
Flash back on:
— Vamos filho, levanta!
— Mas perdi minha espada! — Choraminguei porque ele tinha me desarrumado enquanto treinávamos.
— Você ainda tem armas para lutar!
Abri os braços mostrando que não tinha.
— O que é isso no final de seus braços?
— Minhas mãos! — Revirei os olhos.
— Não, são armas, sua última arma e essa ninguém consegue tirá-las de você!
Ele jogou a espada dele no chão e segurou meus pulsos.
— O que eu vou lhe ensinar agora aprendi com meu pai e ele com o pai dele, preste atenção, isso pode salvar sua vida.
— Está bem!
Passamos horas apenas fazendo movimentos lentos do que parecia uma dança, no dia seguinte ele me fez repetir tudo lentamente enquanto ele fingia me atacar lentamente com sua espada e assim seguimos até ele ir aumentando a velocidade e a força com o passar dos anos.
Flash Back off
Primeiro eu preciso de informações e depois eu os mato ou não, achei que a faca seria jogada em meu peito antes de uma adaga passar zunindo por minha orelha e acabar enterrada na mão de um e outra no pescoço do outro. Um macaco não teria armas. Quando se mostrou a mim eu senti como se o chão não existe sob meus pés. Ela existe. Eu. . . Como assim ela não é menina? Parecia uma, sem peitos, mas parecia uma. A cor me lembrou ou não cor me lembrou de casa, a cor da areia da praia nos dias mais secos. O cabelo lembrava uma cascata, da cor das nuvens em dia claro e os olhos. . . Minha irmã acertou em cheio na cor de seus olhos durante o dia, mas eu precisava vê-los a noite.
— Pare de me olhar assim, não sou uma aberração.
— Eu não disse que era, só. . . te achei linda, digo, lindo!
— Não sou um menino!
— Então o que é? — Não estou entendendo, Puxei meus dreads pra trás amarrando-os.
— Nenhum dos dois e os dois!
— Oi?
— Você não tem que entender! — Ele-ela, cruzou os braços.
Senti a vibração ao longe.
— Precisamos sair daqui! — Falei pegando as adagas que ele-ela jogou e as estendi.
— São cinco! — Disse cheirando o ar de olhos fechados.
— Consegue sentir também?
— Como assim também?
— Qu. . . tem cães, vamos! — Falei alarmado, estavam longe, mas com cães estaríamos fritos.
— Pode ir pra onde te indiquei. . .
— Por favor venha comigo?
— Não posso! — Sussurrou olhando pra todos os lados.
— Só até o perigo passar, por favor?
— Aiii — Rosnou. — Meu pai arrancaria meu couro se soubesse que te ajudei.
— E. . . — Ele-ela pegou-me pelo pulso e senti como se um raio tivesse me atingido, olhei assustado e ele-ela estava brilhando, as estrelas nos olhos foram a última sombra do brilho repentino, havia me soltado.
— Me acompanha, se puder! — Murmurou preocupado ou preocupada.
Comecei a correr ao seu lado. O que aconteceu a pouco pareceu me energizar.
— Como posso te chamar?
— Meu nome é Inkanyezi Yaphe.
— Será que sou a primeira pessoa no mundo a saber seu nome?
— Corra mais e fale menos!
— Eu só queria saber como te chamar, porque se você não é ele e nem ela. . .
— Elu!
— Elu?
— Fica um meio termo, foi meu pai que criou pra mim.
Elu sorriu, pelos Deuses que ser mais lindu!
— Linde!
— Quê?
— Você disse que sou o ser mais Lindu, não, Linde!
— Eu não falei. . . em voz alta!
Elu parou de supetão e me olhou com seus lindos olhos estalados.
Como não? — Elu nem abriu a boca, mas ouvi a pergunta como um sussurro.
— Eu não sei, o que. . . ?
Você consegue me ouvir? — Denovo sem abrir a boca e eu acenti com a cabeça. — Mas que porra tá acontecendo aqui?
Nossos olhos estavam espantados.
É óbvio que estou espantade, você está dentro da minha cabeça!
E você da minha!
Nós não abrimos a boca em momento algum, e droga esquecemos do perigo, concentrei o suficiente pra sentir.
São dois cães, vão nos alcançar se não corrermos agora!
Vamos!
Tentei me concentrar em coisas inúteis, como pequenos animais e musgos e folhas.
Isso não tá dando certo!
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A rainha de Okan
Teen FictionAye é um dos milhares mundos existentes no infinito oblicuo e imutavel do universo