⚡ - Sentimentos conflituosos.

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Eu acordei com o peso de uma tristeza antiga no peito. Daqui a dois dias, seria o aniversário de Regulus... dezessete anos. Todo ano, desde que ele foi levado, acendemos lanternas flutuantes em forma de estrela no seu aniversário. Uma homenagem silenciosa à luz que ele foi tirado de nós tão cedo.

Sentei-me à beira da cama, esfregando os olhos. Minha cabeça estava cheia de memórias, a maioria delas amargas, e a sensação de vazio me consumia. Vesti-me lentamente, como se o dia não importasse, como se cada movimento fosse apenas mais uma repetição de um ciclo que nunca terminava.

Quando saí do castelo e fui a aldeia encontrei James, Remus e Peter no pátio. Eu tentei disfarçar, mas James, com seu jeito de sempre, percebeu na hora.

– O que houve, Sirius? Você parece distante – ele disse, cruzando os braços, preocupado.

– É sobre seu irmão, não é? – Remus perguntou, sempre o mais atento entre nós.

Assenti, sem conseguir esconder o desânimo.

– Daqui a dois dias seria o aniversário dele. Dezessete. E nós ainda acendemos aquelas lanternas... mas nada traz ele de volta – minha voz falhou, e tentei desviar o olhar, encarando o chão.

Peter ficou em silêncio, um sinal de que até ele entendia o peso do momento. Eu sabia que eles queriam me consolar, mas nenhuma palavra parecia capaz de aliviar a dor que carregava desde que perdi meu irmão.

As lanternas. Era o único jeito que tínhamos de lembrá-lo, mas eu temia que a lembrança de Regulus estivesse se distanciando de mim, assim como ele foi arrancado da minha vida tantos anos atrás. Só de escutar ou falar seu nome sinto uma tristeza enorme se apoderar de mim, e também uma sensação de insuficiência, penso que talvez eu poderia ter evitado que esse sequestro tivesse acontecido.

Peter e James falam que tinha algo a resolver, e eu e Remus passamos o dia juntos, mas o silêncio entre nós era denso, carregado de algo que nenhum de nós estava pronto para confrontar. Desde aquele beijo, dois dias atrás, tudo parecia diferente. O jeito como ele me olhava, como eu me sentia ao lado dele... era como se estivéssemos girando ao redor de algo inevitável, mas ao mesmo tempo, morrendo de medo de enfrentar isso.

Caminhamos pelo jardim do castelo, a tarde já começava a cair. Remus andava ao meu lado, com as mãos enfiadas nos bolsos, o olhar fixo no horizonte. Ele sempre foi o mais difícil de ler, mas agora, eu sabia o que se passava na cabeça dele, porque era exatamente o que se passava na minha.

Eu estava prestes a quebrar o silêncio, dizer algo, qualquer coisa, quando ele parou de repente e se virou para mim.

– Sirius... – Ele começou, hesitando. – Aquele beijo...

Meu coração disparou. Não estava pronto pra essa conversa, mas ao mesmo tempo, sabia que precisávamos tê-la.

– Remus, sobre aquilo... – interrompi, a voz falhando um pouco. – Eu... não sei o que significa pra você, mas pra mim...

– Significou muito – ele disse de uma vez, me pegando de surpresa. Seus olhos encontraram os meus, e eu vi a mesma incerteza que me consumia. – Não consigo fingir que não senti nada.

Fiquei parado, sem saber o que responder. A verdade era que eu também não conseguia esquecer, mas o medo de estragar nossa amizade me mantinha travado.

– Eu também não consigo parar de pensar nisso – admiti, respirando fundo. – Mas e se...?

– Se estragar tudo? – Remus completou meu pensamento, dando um passo à frente. – Sirius, já está diferente. Não podemos fingir que nada aconteceu. Eu não quero mais ficar adiando.

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