Capítulo III - Três

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Estava em frente ao dormitório 38 da ala leste do internato,antes de encostar meu dedos na maçaneta, pude ouvir um leve choro,infantil e abafado,vindo por trás da porta branca.
Antes de,finalmente,girar a maçaneta,suspirei por um breve momento pensativo,então,abrir a porta.
Uma menina de cabelos vermelhos como os meus era consolada por duas outras garotas,as três levantaram as cabeças para mim quando ouviram a porta.

— Olá meninas.

Disse entrando no quarto e fechando a porta.

— Oi Gerda,a Emily teve outro pesadelo.

Kat disse para mim,era notável no tom de sua voz que estava preocupada com a amiga.

Me sentei na cama com as três,Emily tinha os ombros encolhidos e o rosto afundado sobre os joelhos.

— Emi,você pode olhar para mim? - disse de forma amistosa - Ah,vamos,olhe para mim.

Emily levantou meramente os seus olhos grandes,castanhos e brilhantes para mim.

— Quer um braço?

Anos no internato,apenas,me ensinaram o quanto,as vezes,só precisamos de um braço,um único abraço.Um abraço.

A mais nova cochichou um sim ronco,Kat e Lúcia olharam para mim esperando um sinal,sorri para elas e as duas abraçaram a amiga e,eu abracei as três com carinho.

Depois de algum tempo,o grande abraço ao envolta de Emily se desfez, coloquei Kat e Lúcia na cama novamente e decidi pegar conversar com Emily.

— Quer me contar o que viu desta vez?

Perguntei gentilmente ao me sentar ao lado da menina.
Emily olhou para mim com os olhos castanhos,que ainda lagrimejavao,e pediu suplicante:

— Não - ela disse com ar tristoinho - Gerda,você....poderia pentear meu c-cabelo,só até eu me acalmar.

Emilly havia perdido a mãe a alguns anos atrás,a mulher costumava pentear os cabelos ruivos e longos da menina antes da mesma adormecer,ela também gostava de trança-los,já que as mechas de sua filha chegavam a bater no chão.

Depois da morte da mãe,Emily começou a ter mais pesadelos do que tinha antes,o seu pai não aparecia muito no colégio ou mandava muitas poucas notícias.
Talvez,em falta das figuras de outros parentes,ela tenha me tomado como uma irmã mais velha e,eu,também,já a havia tomado esse título para mim.

— Claro que penteio. - falei com carinho - Vai querer tranças também?

A mais nova sorriu,um sorriso discreto,quase nada,mas ela ainda havia sorrido. Me levantei da cama e fui até o guarda-roupa de Emily,era lá onde a menina guardava uma escova de cabelo prateada que sua mãe usava para pentear seu cabelo,peguei o objeto,que era cheio de detalhes em arabescos e com o nome de Emily gravado em baixo relevo.

Me sentei na beira da cama e começei a pentear os longos cabelos da mais nova.

— Você podia cantar.

A voz de Emily já era menos rouca e,já possuía um tom mais tranquilizar para meus ouvidos.

— Cantar?
— É,você tem uma voz linda e ama cantar,só que...você já não faz isso a um bom tempo.....eu não vejo mais você cantar ou dançar....nunca mais.....

Suspirei,aquilo era tão verdade que chegava a doer.

Eu amava cantar com todo o meu ser,eu amava dançar em todos lugares e momentos,eu não me importava com nada ou ninguém,aquilo era o meu respiro.
Eu só dançava e cantava,sem mais delongas,era o que amava fazer.
A música era minha salvação,cantar o meu grito de rebeldia e dançar era a minha forma de me sentir livre mas.....
Eu não fazia nada disso mais,não,eu não conseguia mais.

— Acho que você está certa. - disse parando de escorregar a escova pelas mechas da mais nova - Eu não canto,eu não danço,não mais...e como se não fosse mais capaz disso.

Emily se virou para mim e me abraçou com força,eu não esperava por aquilo,mas aceitei o abraço,eu precisava.

— Obrigada Emily - agradeci a menina.
— Eu que devia agradeçer. Você é uma irmã pra mim Gerda.

Sorri para a mais nova,mas ao fazer isso me lembrei do relógio.

— Eu tenho que ir Emily. - disse colocando Emily de volta para dormir - As tranças terão que ficar para outra vez,tudo bem?

A menina acentiu com a cabeça, sorriu,me despedi de Emily e dem um beijo nas outras meninas que já estavam adormecidas,fui para a porta,a abri,mas dei uma última olhadinha em "minha irmãzinha" antes de partir.

Ao sair,no corredor me deparo com um par de olhos cinzas que não esperava ver ali,não aquela hora.

Kai?!? O que está fazendo aqui? Era para você estar na biblioteca ou qualquer outro lugar que não fosse aqui!

Eu preciso falar com você Gerda,é urgente.Por favor.

Os seus olhos me contava o quanto ele estava perdido,as sombrancelhas sérias e o jeito suplicante de me pedir para falar com ele,Kai precisava de mim.

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