Prólogo

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Eu sou observadora. Sempre fui, sempre serei.

Já vi gerações passarem diante dos meus olhos, cada uma carregando seus próprios fardos, seus próprios erros. Mas estes eram diferentes.

Eu sou Tríplice. Três em uma, uma em três. A Deusa das três faces, a que vê o passado, o presente e o futuro. Sou a donzela, a mãe e a anciã, o ciclo eterno da vida que começa, floresce e termina. Observo o mundo há muito tempo, sempre atenta aos fluxos do destino, às vidas que cruzam os caminhos invisíveis do que foi e do que será.

Eu sou a testemunha do caos, da mudança e da inevitabilidade do que está por vir. Não posso interferir, nunca foi meu papel. Mas assistir... Ah, isso eu faço, e com grande fascínio. Há algo irresistível na jornada humana, no conflito entre o que se é e o que se deseja ser.

Há algo intrigante na forma como cada alma, tão pequena em comparação ao todo, luta desesperadamente para se encontrar, para sobreviver, para ser vista.

Foi assim que os encontrei. Um grupo de jovens, perdidos no meio de um oceano de expectativas, afundando nas correntes invisíveis daquilo que esperam deles. Eles não sabem, mas há uma beleza caótica em suas lutas. Uma beleza que eu não pude ignorar.

Eles me intrigam. Não são os primeiros a lutar contra o peso de quem devem ser, mas há algo de diferente neles. Algo na forma como resistem ao inevitável, como se cada um acreditasse que, com esforço suficiente, pode moldar o próprio destino. Mesmo que, no fundo, todos saibamos que isso não é verdade. O destino já estava escrito.

Mas o que os torna únicos para mim é a intensidade de suas dores, de suas esperanças mal colocadas, de seus medos nunca confessados. Eles carregam tanto dentro de si, e ao mesmo tempo, tentam com todas as forças esconder. Eles querem ser fortes, querem se provar, mas há rachaduras em cada um deles, e essas rachaduras são onde a verdade se esconde.

Eu os observo porque vejo neles uma faísca que poucos têm. Um desejo ardente de serem diferentes do que o mundo lhes diz que devem ser. Eles são o caos em sua forma mais pura, cada um de uma maneira única.

Não são perfeitos, nem heróis. São humanos, e talvez seja isso que me fascina tanto. A fragilidade com que enfrentam as expectativas do mundo e de si mesmos.

Como podem se segurar em uma corda tão fina e ainda assim acreditar que há uma chance de escapar do que já foi traçado?

Não posso prometer que o final será feliz. Não posso sequer prometer que haverá redenção. Mas posso garantir que o fim é inevitável. Eu sei disso, porque já vi antes. E mesmo assim, escolho observar. Não porque eu acredite que possa mudar algo — não, isso nunca esteve ao meu alcance. Eu os observo porque, em cada um desses jovens, vejo algo de mim mesma. O ciclo de nascimento, crescimento e morte, repetido em cada um deles. Uma história que se reflete na minha própria natureza.

Eles são caos e o caos sempre me atraiu.

Por isso os observo. Porque mesmo sabendo que o desfecho está escrito, é impossível desviar o olhar quando se testemunha o caos em sua forma mais bela.

Por isso tudo acabou assim.

Por Isso Tudo Acabou AssimOnde histórias criam vida. Descubra agora