Capítulo 3

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O quarto de Maíra era espaçoso, mas sem excessos. Pôsteres de bandas se espalhavam pelas paredes, misturados a fotos de amigos e recordações de momentos que Maíra certamente valorizava. A cama desfeita, a escrivaninha abarrotada de papéis e canetas, e o abajur que lançava uma luz quente e amarelada tornavam o espaço acolhedor, embora bagunçado. Ali, o caos tinha uma ordem própria, uma expressão de quem vivia sem se preocupar com o julgamento alheio.

Lara se sentia confortável, mas havia algo naquele ambiente que a deixava ligeiramente inquieta. Ela admirava Maíra pela sua confiança, pela forma desinibida com que lidava com o mundo ao seu redor. Mas, ao mesmo tempo, Lara ainda se sentia como uma observadora nesse grupo, sem saber ao certo se realmente fazia parte dele. As conversas eram leves, entremeadas de risadas, mas o assunto do momento, sexualidade, a deixava um pouco desconcertada.

Diego, sempre extrovertido, estava jogado no chão, folheando as anotações com as pernas balançando para cima e para baixo. Sua postura despreocupada contrastava com a intensidade do tema que discutiam. Ele falava com um tom brincalhão, mas havia algo mais profundo em suas palavras, uma ironia amarga sobre as diferenças que notava entre o que homens e mulheres enfrentavam nesse aspecto.

— Beleza, o nosso tema é "Métodos Contraceptivos e Prevenção de ISTs" — começou Maíra, pegando uma folha de papel em branco e se preparando para organizar as ideias. — Eu e o Diego ficamos com contraceptivos, e vocês duas, com prevenção de ISTs. Pode ser?

— Por mim, tudo bem — respondeu Lara, ajeitando as pernas cruzadas e fingindo um tom casual. Ela se concentrava em parecer à vontade, mesmo que sua mente estivesse cheia de pensamentos desconfortáveis.

— Beleza — disse Aurora, com um leve aceno, os olhos vagando pelo quarto como se buscassem algo que não estava ali.

Diego, sempre sarcástico, soltou uma risada.

— Ok, médio. Vou me sentir meio intruso no assunto, mas tudo bem.

Maíra, confusa, olhou para ele.

— Por quê?

Diego fez uma pausa dramática, seu tom, embora leve, revelava uma verdade incômoda.

— No mercado hoje em dia só existem no máximo três tipos de contraceptivos pra homem. O resto é tudo pra mulher.

— É, amigo... — Maíra concordou, com um tom resignado.

Diego suspirou e continuou.

— E vocês sabiam que na maioria das vezes, na hora do sexo, quem escolhe usar contraceptivo é a mulher?

Lara, sempre observadora e analítica, respondeu, pensativa.

— Mas eu acho que é exatamente por isso que você devia falar sobre o tema. Os meninos vão ouvir melhor isso de outro homem. Infelizmente.

A observação dela foi direta, carregada de uma sabedoria prática, embora Lara ainda se sentisse um pouco deslocada naquele contexto. A resposta de Diego veio com seu toque típico de humor.

— Aí você esquece que eu sou gay.

As risadas que ecoaram pelo quarto quebraram a tensão momentânea, mas havia algo mais profundo ali. Diego usava o humor para suavizar o desconforto que todos sentiam ao falar sobre essas questões, mas o peso da verdade que ele trazia não passava despercebido.

A conversa continuou, mas Lara sentia-se ainda mais fora de lugar. Maíra, sempre tão confiante, parecia à vontade ao falar sobre sua vida sexual de forma aberta e sem reservas. Ela gesticulava com entusiasmo, como se cada palavra fosse uma reafirmação de sua liberdade.

Por Isso Tudo Acabou AssimOnde histórias criam vida. Descubra agora