{19} - Sem medo.

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— Eu sou a pessoa que mandou a mensagem naquele dia, Olga na verdade é Anna.

Elysia piscou algumas vezes, tentando digerir o que tinha acabado de ouvir. Ela intercalou seu olhar entre as mãos juntas e o rosto aliviado de Anna. Como ela poderia ser a única testemunha daquela noite? Como pode estar tão perto todo esse tempo?

E por que não disse nada antes? Se ela tivesse dito tudo antes, poderia ter avançado ainda mais e não estaria supondo coisas que poderiam ser invenção de sua cabeça conturbada.

— C-como? — Tantas coisas para dizer neste momento e isso foi a única coisa que saiu de seus lábios trêmulos.

— Desculpa não ter contado antes, não foi minha intenção, eu estava apenas com medo — ela continuou apertando a mão de Elysia levemente, elas tremiam —, desculpa ter demorado contar e ter fingindo ser outra pessoa.

— Há quanto tempo sabe disso? — Elysia conseguiu formular uma frase decente, respirando fundo, pronta para ouvir tudo que Anna diria. Mas estava com medo, talvez existissem mais coisas que sequer lembrava e ela provavelmente sabia.

— Na verdade, eu não lembrava do seu rosto, só o de Kai. Mas ele não sabia disso, ele estava totalmente perdido naquela noite. — Anna franziu o cenho, tentando lembrar dos detalhes, qualquer informação seria útil. — Depois daquela noite, eu fui embora. Eu tinha medo da pessoa que causou tudo isso me descobrir e fazer algo bem pior comigo, por isso eu fugi, como uma covarde e deixei todos vulneráveis para trás. Sendo um deles, meu melhor amigo, eu abandonei todos em um momento crucial.

— Como assim não lembrava do meu rosto?

— Eu pedi ajuda naquela noite, gritei por socorro. Kairo estava em cima de você na hora para protegê-la de alguma coisa quente que tinha caído em cima de vocês, então eu nunca vi seu rosto. Depois de chamar por ajuda, sai dali o mais rápido possível e voltei para o acampamento — Anna estava começando a suar frio, estava tonta tentando lembrar de tudo, falar e lembrar daquela noite ainda era difícil — Fomos em uma excursão da escola, era para ter sido um momento leve e descontraído, mas que terminou em uma tragédia, Kairo passou dias desacordado no hospital. E você eu não tive notícias. Ao que parece sua avó não deixou ninguém te ver no hospital. Foi um caos. Aquilo me deixou traumatizada, e acabei ficando em silêncio sobre tudo.

— Anna, o-o que você foi fazer naquele beco naquela hora da noite? — Não dava para saber qual das duas estava mais ansiosa e nervosa com esse momento. Elysia respirava fundo e contava até 3 mentalmente, queria passar um pouco de confiança para Anna, assim como ela também queria. Mas tudo estava caótico por dentro.

— Kairo saiu escondido dos professores, e eu fui atrás dele para saber o motivo daquilo. E nesse meio tempo, te vimos correndo e com alguém atrás de você. Ele te seguiu e eu fiquei para trás e fui chamar ajuda, mas todos estavam dormindo e não queria entregar meu amigo para os superiores, então fui por mim mesma. Infelizmente, quando cheguei lá o caos já estava instaurado, Kairo chorava de dor e nessa hora fui obrigada a gritar a socorro e sair correndo. — A respiração de Anna estava desregulada, seus olhos estavam brilhantes, e não era de felicidade. Poderia chorar a qualquer momento, todavia, precisava ser forte e terminar de uma vez por todas — Foi horrível, Elysia. Eu senti uma dor horrível pelos dois e por isso não consegui ficar em Mountain City depois disso. Eu não suportaria ver Kairo passar por tudo que ele passou durante a reabilitação. Não poderia ver ele desistir da natação e não ter coragem de entregar o verdadeiro culpado. Eu e-estava com medo. — A primeira lágrima desceu, acompanhada por várias outras, Elysia também não aguentou segurar. As duas choravam em silêncio olhando uma para a outra.

— Kairo fazia natação? — Elysia perguntou em um fio de voz.

— Sim. Mas por causa dessa lesão no ombro, desistiu. Eu também fazia, mas desisti também. Elysia, se eu tivesse chegado um pouco mais cedo, ele não teria parado e nenhum dos dois teriam essa marca horrível no ombro. É tudo culpa minha. Eu soltei a mão de vocês em um momento tão importante! — Anna fungava, chorando cada vez mais. Seu peito doía, mas precisava acabar logo de vez. — Me perdoa, Elysia! Me perdoa por ser tão covarde e fugir quando todos precisavam da minha ajuda.

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