Secrets

{15} Memórias.

“Elysia corria, apenas corria, pedindo em um grito silencioso pela sua vida. Pediu a um Deus que sempre acreditou, aquele o qual nunca se deixou abater e seguir em frente, mesmo quando o que mais quis foi desistir de tudo.

Pedir pela sua vida neste momento, foi o pedido de socorro mais sincero que fez em toda sua medíocre existência. Estava a um passo da morte e tudo que veio em sua mente foram as imagens de sua avó orando todas as noites ao pé da cama de casal que dividiam na pequena casa.

Nunca se perdoaria se deixasse a avó sozinha no mundo, seria um ato de egoísmo de sua parte. Precisava sobreviver para cumprir a promessa de dar uma vida melhor à ela. Queria mostrar que jamais viveriam daquela maneira novamente. E foi por isso que correu, correu até sentir seus pulmões queimarem.

Correu até cair nos braços daquele que salvou sua vida, mas que assim como ela, não foi o mesmo depois daquilo. As peles marcadas eram a prova da sobrevivência. Eram a prova que um pedido sincero a Deus era atendido.

Antes de apagar pelo cansaço e a dor insuportável no ombro, conseguiu olhar para cima e finalmente ver quem estava atrás de si. Quem tentou tirar sua vida. Quem ousou destruir sua vida daquela maneira.

Lá estava ele com um sorriso maldoso, mas seu olhar carregava medo. No meio de tanta maldade, existia dentro daquele – adolescente na época – uma criança cujo nunca sentiu o amor de alguém verdadeiramente. Ou talvez já estava em seu sangue ser a própria reencarnação do mal.

Os olhos que sua mente fez questão de esquecer, agora estavam claros em sua frente. A assombravam. A deixava desconfortável. E agora poderia entender o motivo. Ele sempre esteve lá, só precisava olhar com mais atenção.

Kevin sempre esteve lá, vigiando cada passo seu. Diferente de Kairo que foi apenas uma incógnita no meio do caos.

O caos estava instaurado. Era questão de tempo até tudo estar em sua vida de vez.”

— Ely, isso é uma acusação muito séria!

— Eu sei, acordei em um completo estado de choque. Como o irmão do meu quase namorado pode ser meu assassino? — bagunçou um pouco os cabelos, cheia de estresse. Sua mente só podia estar entrando em colapso para pregar uma peça dessas. — Brian, o que eu vou fazer? Não posso simplesmente acusá-lo sem provas e sem saber se realmente foi ele.

— Calma, Ely — segurou firmemente a mão dela, precisava pensar em alguma solução para comprovar aquilo. Afinal, como Kevin poderia ser o assassino que ela procurou por tanto tempo?

Como ele poderia estar tão perto? Quais suas motivações? Como um adolescente poderia fazer isso? Sabia que a diferença de idade não era grande. Como poderia estar tão ligado a isso?

— Eu mal consigo dormir desde que esse pesadelo apareceu, Kairo tem estado bem preocupado com minhas crises de insônia e você me proibiu de tomar remédios. — Balançou as pernas, ansiosa.

— Não volte a tomar aquelas porcarias. Nós vamos resolver isso o quanto antes, Ely. Eu recomendo dar uma passada na sua psicóloga. — ela negou rapidamente, causando uma leve careta em Brian. Como uma pessoa poderia ser tão cabeça dura?

— Brian, e se formos até o local? — Brian arregalou os olhos, só podia ter ouvido errado.

— Ely, você quer ir ao local onde tudo aconteceu depois de tantos anos? Tem certeza disso? — ficou de frente para Elysia, segurando suas mãos. — Você está preparada para voltar?

Não. Não estava e talvez nunca estivesse, mas precisava voltar. Ali estava o início de todo o caos presente em sua mente que mudou totalmente a maneira de levar a vida. Aquele local era a parte traumática de sua vida, por mais que odiasse lembrar dele e de toda a dor que lhe causou, ainda era a sua história.