Secrets

{18} - Uma parte da história.

Elysia chegou em casa tarde da noite, estava cansada. Não por ter ido em outra cidade, mas cansada de tudo que vinha vivendo nos últimos meses desde que seus pesadelos retornaram. A avó está sendo mais um item na longa lista de preocupações que estavam presentes em sua mente ultimamente.

Precisava manter-se firme e seguir a vida mesmo com tantas dores. Mesmo aquelas as quais nunca tinha superado totalmente, seu maior problema era suportar tanta coisa. Como uma pessoa poderia lidar com tantos fardos? Ela sequer havia chegado nos 30 direito e já estava cansada de tudo.

Dizem que essa é a melhor fase, mas para ela estava sendo a pior. Tudo ao seu redor estava um caos, para onde olhava não via saída para nada. Estava na beirada do precipício que ela mesma havia criado em sua mente conturbada.

Como poderia seguir em frente nas suas investigações se não sabia o que fazer direito? 

Tudo que tinha era apenas suposições. Malditas suposições que nunca se concretizaram. Era desgastante pensar e pensar e não ter respostas. A vida dela era feita de hipóteses que sequer sabia se eram verdadeiras.

Sua vida era como um livro em branco sendo escrito sem planejamento. Palavras soltas que podiam ou não se conectar de alguma maneira e trazer um final coerente. Ou não.

Era tudo muito incerto em sua vida. E nunca saberia qual a próxima cena se continuasse sem saber a verdade sobre aquela noite.

Quando a cuidadora de sua avó ligou horas antes, seu peito inteiro queimou, sabia exatamente o estado de saúde de sua avó e justamente por saber tão detalhadamente, a assustava. Foi ali que entrou em um dilema: seguir até o restaurante e finalmente ter as respostas que desejou profundamente ou ir até a avó e ficar ao lado dela?

Ela escolheu sua avó. O passado era importante, mas sua avó era sua vida inteira. Assim como Helena se sacrificou tanto por ela, Elysia também faria isso. Não importa quantas vezes fosse preciso, ela nunca mudaria isso.

Elysia espalhou um olhar distante pela sala bem decorada de Kairo que agora estava escura. Ele dormia serenamente no sofá, como se sua vida fosse boa demais. Ela queria poder ser assim também, ter noites tranquilas de sono mesmo com caos lá fora. Sonhava com esse dia.

Tentou não acordá-lo, mas tropeçou no tapete, segurou a língua para não soltar um xingamento pela dor que isso causou e por ter acordado seu namorado.

— Ely? — ele levantou meio perdido, mas abriu um sorriso aliviado. — Sua avó melhorou? Não precisava ter vindo tão tarde.

— Desculpa por te acordar — sentou ao lado dele, não queria criar falsas esperanças, então disse a ele que sua avó tinha passado mal. — Ela está descansando, apesar do susto.

— E você, está bem mesmo? Não está cansada? — Lentamente, Kairo foi se aproximando um pouco mais dela, a abraçando de lado.

Ela olhou para ele com os olhos marejados. Não foi preciso dizer mais nada. Ele sabia.

— Vai ficar tudo bem, Ely — não tinha certeza, mas tentou. — Por favor, não sofra por algo que ainda não aconteceu, só vai te fazer mal.

— Esse não é o único motivo — sua voz estava quase inaudível — Eu estou cansada, Kai. Cansada. Tão cansada, que abrir meus olhos a cada manhã fica mais difícil. Meus pesadelos deram uma trégua, mas ainda não consigo dormir bem. É tão difícil. — Seu choro era baixo, mas consigo trazia a dor que tinha vergonha de colocar para fora. Elysia tinha tantas dores e bagagens que nem sabia qual colocar para fora primeiro.

— Ely… — ele ainda não sabia bem o que dizer, nunca precisou confortar ninguém. Sempre sofreu sozinho, era cada um pro seu canto. Fez o possível para tentar suprir as falta de palavras com um abraço apertado. — Sou péssimo nisso, mas vou me esforçar.