Capítulo 2 - A Casa Nova

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Elisa - 2015

- Querida, o que acha da nossa nova casa? - A voz de minha mãe está cheia de entusiasmo enquanto ela observa a paisagem pela janela do carro.

Em um único dia, nossas vidas mudaram. Três semanas atrás, recebemos uma averbação de imóvel. Descobrimos que uma antiga herança estava vinculada ao nosso sobrenome, Hatlyn: uma enorme casa, esquecida pelo tempo, que pertencia à nossa família há décadas.

- Mãe, essa casa parece tão velha... - digo, com um misto de preocupação e descrença, olhando para as janelas quase caindo aos pedaços. - Não podíamos ter ficado na nossa antiga casa?

Ela suspira, e seu olhar se entristece por um momento.

- Não podíamos, querida. A casa era alugada, e nosso orçamento estava apertado. Receber essa herança foi uma bênção, algo que eu jamais esperava. Temos que ser gratas por isso.

Apesar do ceticismo, decido não argumentar. Vejo o quanto isso é importante para ela.

- Está bem, mãe. Vamos entrar e ver como é por dentro. Quem sabe não há algo especial nessa casa? - tento animá-la, enquanto me permito uma chance de curiosidade.

Ao nos aproximarmos do portão de ferro, sinto um arrepio ao ver o estado da propriedade. O cadeado enferrujado range ao ser aberto, e adentramos um imenso jardim, coberto de ervas daninhas e objetos antigos espalhados pelo chão. O cenário parece congelado no tempo.

Algo em particular chama minha atenção: uma carruagem, preta, com detalhes dourados, reluzente, apesar de coberta de poeira. Aproximo-me lentamente, sentindo uma inexplicável atração por ela. As enormes rodas douradas parecem intactas, como se o tempo não tivesse tocado nelas. Na porta, o brasão "HATLYS" em letras gravadas, firmes e imponentes.

Passo os dedos pelo contorno da inscrição e, de repente, um calafrio percorre minha espinha. Um suor frio começa a escorrer pela minha testa, e uma visão me invade.

Vejo uma mulher de pele pálida, seus cabelos castanhos levemente presos, com pequenas mechas soltas. Ela usa uma coroa de diamantes que reluz com a luz, e seu vestido verde, adornado com detalhes dourados, parece de uma realeza esquecida. Seus olhos, duas esmeraldas brilhantes, me encaram com uma intensidade profunda. Nas mãos, ela segura um pequeno caderno, quase como se quisesse que eu o visse.

A visão se desfaz tão rápido quanto começou. Afasto a mão da carruagem, o coração acelerado. Quem era aquela mulher? E por que seu rosto parecia tão familiar?

- Elisa, vamos entrar! Temos muito o que fazer para organizar essa casa. - A voz da minha mãe me traz de volta à realidade.

- Sim, mãe... - respondo, ainda um pouco atordoada. Sigo-a até a entrada da casa, empurrando a porta de madeira pesada que range ao se abrir.

- Que tal fazermos um tour pela casa? - sugiro, tentando retomar a compostura. - Talvez encontremos algo interessante, quem sabe até um mistério!

Ela sorri, animada.

- Ótima ideia! Vou começar pela cozinha. Pode explorar o resto, querida. Ah, mal posso esperar para contar ao seu pai! Ele vai ficar surpreso com o tamanho desse lugar. Vai ter espaço para tantos escritórios...

- Tenho certeza de que ele vai adorar. - tento acompanhar seu entusiasmo, mas minha mente ainda está presa à visão da carruagem e daquela mulher misteriosa.

Minha mãe, sem perceber meu desconforto, corre animadamente em direção à cozinha. Olho ao redor e vejo a grande escadaria de madeira que leva ao andar de cima. Algo em mim me empurra para subir. Cada degrau que subo parece aumentar a sensação de que há segredos esperando para serem desvendados.

No topo da escada, uma série de portas antigas se estende à minha frente, todas gastas pelo tempo. Escolho uma delas, a mais envelhecida, com a madeira quase se desfazendo. Tento abri-la, mas está trancada.

- Droga... - murmuro, frustrada. - Onde pode estar a chave?

Meus olhos percorrem o corredor e se fixam em um vaso de plantas morto, encostado a um canto. Aproximo-me e, para minha surpresa, encontro uma chave enferrujada entre os restos das folhas secas. Quem teria escondido isso ali?

Com a chave em mãos, destranco a porta e a empurro lentamente. O quarto está coberto de poeira e panos brancos, como se tivesse sido abandonado às pressas. No fundo, um quadro coberto por um pano me chama a atenção. Aproximo-me e, com cuidado, retiro o tecido, revelando a imagem de uma mulher.

Meus olhos se arregalam.

É ela. A mulher da carruagem.

Ao lado dela, no quadro, há um homem de barba espessa, segurando um bebê nos braços. Quem seriam eles? Não há menção a essas pessoas na nossa árvore genealógica... Poderiam ser os duques de Hatlyn?

Procuro algo que explique quem eram, mas não encontro nada. Apenas o silêncio pesado daquele quarto. Decido continuar explorando, mas tudo parece trivial: objetos antigos, móveis do século passado, até que tropeço em uma tábua solta no chão.

Ajoelho-me e, ao levantá-la, descubro um pequeno baú escondido. Mais uma vez, não há chave à vista. Frustrada, começo a procurar pelo quarto e, finalmente, encontro a chave em uma estante de livros.

Com um misto de excitação e apreensão, destranco o baú. Dentro, encontro cartas antigas, um sapatinho de bebê e um pequeno diário. Na capa, lê-se: "Diário de Amélia Hatlyn."

- Amélia... - murmuro, olhando para o quadro mais uma vez. - Então esse é o seu nome...

Sento-me em uma poltrona próxima, abro o diário com cuidado e começo a ler. Seja o que for que Amélia deixou registrado ali, tenho a sensação de que suas palavras vão revelar muito mais do que eu poderia imaginar.

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