Capítulo 7 - Pobre Amélia

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Amélia - 1830

Uma névoa de medo e apreensão gela minha espinha ao me aproximar de Tom. Não imaginava que se retorno seria tão abrupto. Ele nunca foi de abreviar viagens; sua chegada inesperada e o tom gélido de seu olhar ao cruzar com o meu confirmavam algo que eu temia silenciosamente.

- Meu querido! - exclamo, tentando esconder o nervosismo que começa a se apossar de mim - Que surpresa tão inesperada! Vossa viagem fora... breve.

Dou um leve sorriso, esforçando-me para manter as aparências, mas Tom permanece imóvel, os olhos fixos, duros como aço, escavando a distância entre mim e Drake. 

- Sim, precisei retornar ás pressas. - sua voz é cortante Esqueci-me de alguns documentos essenciais. - a frieza de suas palavras feres, mas seu olhar carrega algo ainda mais mais sombrio. - Pelo visto, não perdeste tempo, Amélia. Não esperaste muito antes de te lançares nos braços de meu primo, não é mesmo?

Meu coração dispara, mas ergo o queixo, determinada.

- Querido, estás enganado - ele ri, mas não há humor em seu riso, apenas desprezo. - Não sabia que agora ocupavas o papel de serva, conduzindo visitantes como uma criada. Além disso, parece que não estavas tão só.

Tom dá um passo á frente, aproximando-se lentamente. Sua expressão é de pura repulsa.

- Vi-vos juntos, próximas demais para simples palavras. - ele estreita os olhos, sua voz ganhando um tom sombrio que faz meu coração afundar no peito - Tão próximos que quase... quase vos beijáveis. Eu já desconfiava... sempre fostes uma meretriz de alma.

Antes que pudesse reagir, sinto o impacto violento de sua mão em meu rosto. A dor é aguda, uma queimadura que faz meus sentidos rodopiarem. O gosto metálico de sangue invade minha boca, e ao passar as mãos pelo rosto, vejo o vermelho em meus dedos. Tom... Tom ousou levantar a mão contra mim. Tom ousou me ferir. 

- Levanta-te, imunda. - a voz dele corta como lâmina, e sou arrastada ao chão, mal conseguindo me equilibrar sobre meus joelhos vacilantes. - Vais aprender a respeitar o Duque, a saber teu lugar. 

- Tom, suplico... jamais te trai. Jamais ousaria tal coisa.

- Cala-te! - ele puxou uma corda velha, amarrando- me os pulsos com um vigor que apenas aumenta a dor que já sinto - Eis teu castigo, para que saibas que com o Duque de Hatlyn não se brinca.

- Isso é desumano! Como podes tratar tua esposa desta maneira? Como se eu não fosse nada, menos que um animal. 

Ele ri, um som seco e cruel.

- De fato, pensas que casei-me contigo por amor, Amélia? - suas palavras são como veneno destilado, queimando meu peito. - Não, minha doce tola. Casei-me contigo para provar que poderia possuir quem quisesse, só para humilhar Drake e seu amor tolo por ti.  Meu plano, é claro, foi frustrado, mas nada disso importa agora.

As lágrimas começam a descer em meu rosto, cada palavra dele golpeando minha alma mais profundamente do que qualquer dor física. Ele se aproxima ainda mais, os lábios quase tocando meu ouvido.

- Se não houvesse sido descoberta nossa união - murmura com desprezo - Eu teria te abandonado ao vento, sem proteção, sem honra. Casar-te com outro? Jamais. Serias rejeitada por todos.

Uma onda de humilhação se mistura ao desespero que me consome, e sinto algo se despedaçar em meu interior, algo que talvez fosse a última fagulha de esperança. Ele não apenas feriu meu corpo, esmagando cada fibra de meu ser. 

- És um verme, Tom. Um miserável verme! - grito, o ódio retorcendo minhas palavras - esta união jamais deveria ter existido. Arruinaste minha vida!

- E o que pensas em fazer agora, minha pobre Amélia? - ele ri, uma gargalhada sombria que reverbera pelo quarto - Pensa que tens o poder de me desafiar?

- Um de nós terá de morrer - minha voz sai entre dentes, baixa, mas carregada de uma determinação irrevogável - Pagarás caro por cada gota de sangue que derramaste. 

Ele se afasta, com um sorriso cruel nos lábios, e me deixa só, amarrada e desamparada. Fico ali, permitindo-me sentir cada pontada de humilhação, da dor e da revolta que se consome meu coração.

- Amélia! - a voz de Drake rompe o silêncio e, num instante, ele está ao meu lado - Céus! o que aconteceu? Estás ferida. Tom... ele fez isto contigo?

- Desamarra-me, por favor... - murmuro, e lágrimas brotam de meus olhos enquanto sinto a libertação dos pulsos.

Drake desfaz as cordas e me acolhem em seus braços. A dor latejante de cada golpe  que sofri começa a se dissipar, mas a humilhação permanece, profunda e latejante.

- Ele... me bateu e me humilhou. Pensou que estávamos a traí-lo e descontou toda sua ira em mim. - digo com a voz embargada. - Levou os documentos que precisava e partiu... mas, desta vez, levou também minha última dignidade.

- Irei fazer justiça. Ele pagará por isso - Drake diz, os olhos cintilando com fúria.

- Não Drake - minha voz ganha força, algo escuro e definitivo cresce em meu peito - Eu mesma farei isso. Serei eu a dar fim ao Duque de Hatlyn!

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⏰ Última atualização: Nov 02 ⏰

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