Prólogo

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Amélia - 1830

Ah, o amor! Que sentimento grandioso é esse, que invade meu peito e enche-me de uma felicidade quase insuportável? Hoje, o sol parece brilhar mais forte, o céu é de um azul mais profundo, e o vento sussurra promessas doces. Hoje é o dia mais importante e encantador da minha vida: o dia em que me casarei com o duque de Hatlyn. Nossa história, repleta de olhares apaixonados e promessas sussurradas em momentos furtivos, culmina neste instante.

Olho-me no espelho, o reflexo diante de mim é o de uma mulher que viveu um sonho. Meu vestido de noiva é tudo o que imaginei. O tecido reluz à luz do sol, delicadamente decorado com pérolas que acentuam minhas curvas, cada detalhe trabalhado em babados que descem pelo comprimento até o chão. O véu rendado é longo, tão longo quanto as esperanças que carrego para este novo capítulo. Uma coroa repousa suavemente sobre minha cabeça, como o símbolo de um futuro radiante que me espera.

- Vossa Alteza - a voz suave de Carmem, minha leal serva, rompe o silêncio. - Está tudo pronto. Precisamos que a senhora se prepare para o casamento.

- Estou pronta - respondo, um sorriso tomando conta do meu rosto. - Vamos para a carruagem.

Hoje, Tom, o duque de Hatlyn, será meu marido. Embora tenha tido uma juventude marcada por excessos e libertinagem, ele me prometeu que seu amor por mim era mais brilhante que os próprios raios de sol. Ele jurou abandonar seu passado, comprometer-se a uma vida de devoção e fidelidade. Acreditei nessas palavras, pois o amor nos faz crer no melhor das pessoas, mesmo quando o instinto tenta nos alertar do contrário.

Ao chegar à igreja, não consigo conter meu sorriso. Desço da carruagem com a ajuda dos servos, que imediatamente ajeitam meu vestido, deixando-me impecável. O buquê de rosas vermelhas, tão vibrante quanto o sangue pulsando em minhas veias, está firme em minhas mãos enquanto caminho em direção ao altar. A alta sociedade me observa com olhos atentos; minha família, a família de Tom, e até membros da realeza estão presentes. No final daquele longo corredor, está ele – o homem que escolhi, o homem a quem entreguei meu coração.

Cada passo em direção ao altar é acompanhado de uma crescente emoção dentro de mim. Meu coração parece explodir de felicidade, mas algo me prende. Tom. Sua expressão. Ela não reflete a mesma alegria que sinto. Seu rosto está duro, seus olhos frios. Uma pequena dúvida começa a se formar em minha mente: ele está bem? Algo o incomoda?

O padre começa a cerimônia, recitando as preces e os votos, e as lágrimas começam a se acumular em meus olhos. Estou tão emocionada, tão entregue ao momento, mas Tom... ele está imóvel, como se estivesse em qualquer outro lugar que não aqui, ao meu lado, prestes a unir sua vida à minha.

- Eu aceito. - Minha voz é firme, porém trêmula de emoção, esperando ansiosamente que seus olhos finalmente encontrem os meus, que me transmitam algum sinal de que ele compartilha do mesmo entusiasmo, da mesma alegria. Mas ele apenas olha para o padre, como se eu fosse invisível, como se o momento não tivesse significado algum.

Após a cerimônia, seguimos para a carruagem, enquanto os convidados nos aplaudem e nos felicitam. Mas o silêncio entre nós dois é ensurdecedor. Tom não esboça um único sorriso, não faz nenhum gesto de afeto. Minha alegria, que antes parecia ilimitada, começa a dar lugar à insegurança, à ansiedade. Algo está errado, terrivelmente errado.

Dentro da carruagem, sinto meu coração apertar de forma quase dolorosa. A dúvida se infiltra em meus pensamentos, corroendo a certeza que eu tinha minutos atrás.

Será que fiz a escolha certa? Teria eu cometido um erro ao confiar meu coração, minha vida, a este homem? Enquanto a carruagem avança, a certeza que um dia tive começa a se desintegrar, deixando-me à mercê do desconhecido.

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