AMÉLIA - 1830
- Amélia- uma voz embargada ecoa em meus aposentos - apareça imediatamente!
Um estrondo, seguido de silêncio, me faz correr para abrir a porta e encontrar Tom caído no chão.
- Tom, querido! Machucou-se? O que lhe aconteceu? Oh céus! - tento ajudá-lo a levantar-se, o desespero estampado em meu rosto - Preciso chamar os criados para auxiliá-lo.
- Não - sua mão agarra-me fortemente, impedindo que eu me afaste - Preciso de você agora. Tire suas vestes e venha aqui! Estou sedento!
Incrédula, sinto meu corpo congelar instantaneamente. Seu estado é deplorável, com odores fortes que me fazem sentir uma profunda repulsa.
- Tom, solte-me - tento desvincular-me de seu corpo, meu coração batendo descompassado - Estava em um prostíbulo, seu libertino! Não tenho que suportar isso!
Suas mãos apertam-me com um desespero feroz, puxando-me para perto de seu corpo. Ele aproxima seu rosto ao meu ouvido, sua voz é um sussurro ameaçador.
- Você não entende, Amélia. Este casamento é uma fachada. O que eu desejo, o que faço, não é da sua conta. Irei lhe ensinar o que significa ser uma verdadeira esposa.
Sinto o frio do chão em minhas costas nuas, após Tom me empurrar com força. Seu desespero em despojar-me de minhas vestes é imenso. Minhas lutas contra seu desejo são inúteis. Sua força é esmagadora, fazendo-me sentir uma fraca, uma marionete sem controle.
- Tom, eu lhe imploro - as lágrimas escorrem em meu rosto, minha voz falha de tanto gritar - Por favor, não faça isso!
- Cala-te! - sua voz é cortante e implacável.
Uma dor imensa invade meu ser, rasgando minha alma. É como se cada grito meu se perdesse em um vazio profundo e escuro.
Naquele dia, naquele corredor, foi marcado o dia em que Tom morrerá em meu coração. O dia em que minhas lágrimas, dor e sofrimento foram maiores do que o sangue que escorrerá. Uma parte de mim se perderá para sempre.
- Admita, Amélia - diz Tom com um tom frio e calculista - Não foi tão ruim assim. Seu dever é satisfazer meus desejos e gerar um herdeiro. Se não me der um herdeiro, acabarei com seus caprichos.
Ele levanta-se ajeitando suas vestes com um gesto indiferente. Seus olhos não mostram arrependimento, apenas uma frieza cruel.
- Sim, senhor Duque - respondo, a voz quase um sussurro de derrota.
Permaneço onde estou, no chão frio do corredor, cercada pela escuridão e pela tristeza. A dor e o vazio são imensos, e minhas lágrimas parecem não ter fim.
- Senhora, ó santo Deus, o que ocorreu-lhe? - Carmem entra correndo, cobrindo-me com um xale e ajudando-me a levantar - Senhora, perdoe-me a intromissão. Ouvi seus gritos e corri para cá.
- Carmem, foi horrendo - mais lágrimas caem enquanto me cubro - Ele não parava, machucava-me, envergonhou-me e arruinou-me. Preciso que me ajude a limpar e a tirar todos os vestígios daquele monstro de mim.
- Claro, minha senhora - diz Carmem com um olhar de profunda preocupação - Prepararei um banho com um chá de ervas para aliviar seu sofrimento. Consigo ver o seu sofrimento em seus olhos, queria alivar-lhe para salva-la de suas dores.
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Passaram-se semanas, e a sensação de náusea não me abandona. Consultei o médico da família, que alegou que estava apenas indisposta, sem sinais de um herdeiro a caminho. Senti-me aliviada; após o que aconteceu com Tom, não teria coragem de lidar com um herdeiro em tais condições. Sinto-me imunda, como se o banho não pudesse limpar a sujeira que sinto.
- Amélia - a voz do Duque estremecia meu corpo, arrepiando-o de maneira desconfortável - Irei ausentar-me durante um tempo. Não sei quando retornarei, será uma viagem a negócios. Escreverei cartas para informar meu retorno.
- Certo, senhor Duque - faço-lhe uma reverência, tentando manter a compostura - Posso ajudá-lo em algo mais?
- Sim, por que está me tratando como se fosse uma plebeia e não uma duquesa?
- Estou apenas seguindo meu papel, meu caro senhor - respondo com um orgulho silencioso, encarando-o com uma mistura de desdém e resistência.
- Que seja - ele continua seu caminho, parando de repente - Em breve, um primo distante estará em nossos aposentos para cuidar dos negócios durante minha ausência. Espero que seja decente e não se comporte como uma meretriz.
Sinto uma fúria intensa invadir-me. Como pode ele insultar-me com tanta facilidade, quando sua própria conduta é tão questionável? Casei-me com um monstro sem alma ou sentimento, e a repulsa que sinto por ele é profunda. Maldito seja Tom Hatlyn!
- Vossa Alteza - o mordomo interrompe meus pensamentos - Desculpe-me a interrupção. Permita-me apresentar-lhe o senhor Drake Cayman, o primo distante do Sr. Hatlyn. Ele ficará conosco durante sua ausência.
- Vossa Alteza - recebo uma reverência e faço o mesmo - É um prazer conhecê-lo.
Esses olhos... são estranhamente familiares.
- Parece-me familiar - observo-o com curiosidade - Você não é o botânico novo?
- Sim, Vossa Alteza. Estarei atuando na ausência do meu primo e cuidando dos jardins - ele sorri, um sorriso que carrega uma promessa de algo novo.
Céus, que sorriso. Seus olhos têm um brilho que promete algo além do simples dever. Esses dias, espero, serão mais do que apenas uma sequência de desgraças.
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O Mistério de Hatlyn
Mistero / ThrillerEm 1830, a duquesa Amélia de Hatlyn guarda um segredo que pode abalar as fundações de sua nobre família e o destino daqueles ao seu redor. Sua vida de luxo esconde uma verdade sombria, e Amélia faz de tudo para garantir que esse segredo seja enterra...